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13/08/2002 - 16h56

Ciro diz que dólar vai cair a partir do dia 15 (íntegra 6)

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da Folha Online

O candidato à Presidência Ciro Gomes afirma que há uma crise de demanda na área cambial do Brasil. Mas diz que o valor do dólar vai cair a partir do dia 15. Fala também sobre algumas medidas que irá tomar na área econômica.

Participam da sabatina, que acontece no Teatro Folha, em São Paulo, Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, Clóvis Rossi e Gilberto Dimenstein, do Conselho Editorial do jornal, e o diretor-adjunto de Redação do jornal "Valor", Carlos Eduardo Lins da Silva.

Carlos Eduardo Lins da Silva: O que o senhor pode fazer como candidato [a respeito da disparada do risco-Brasil e da subida do dólar]?
Ciro Gomes: O que eu estou fazendo, posso responder agora? O que eu estou fazendo é o seguinte... Primeiro: eu não caí de pára-quedas ontem. As pessoas devem ser avaliadas pela sua vida, então eu fui ministro da Fazenda que renunciou em 24 horas ao governo do Ceará para acudir um apelo do presidente da República e do então candidato Fernando Henrique Cardoso para uma crise que poderia ser mortal na decolagem do Real. Renunciei em 24 horas ao governo do Ceará, assumi o Ministério da Fazenda e cumpri a minha missão, gerando grandes conflitos, grandes incompreensões. Portanto eu tenho um compromisso demonstrado num ato concreto que mexeu com a minha vida, que me levou a riscos monstruosos de compromisso com a estabilidade da moeda. Eu fui ministro da Fazenda, administrei as contas brasileiras, houve déficit ou houve superávit? Você vai encontrar lá talvez o maior superávit da história moderna brasileira na minha gestão.
Clóvis Rossi: Não é o caso das contas externas...
Ciro Gomes: Não misture alho com bugalho. Não misture alho com bugalho, a balança comercial do ano que fui ministro deu 10 Bilhões de dólares de superávit.
Eleonora de Lucena: Mas no seu período começou o período de déficit...
Ciro Gomes: Porque nós tivemos que fazer um choque de oferta sem o que se reindexaria a economia e o real acabava.
Eleonora de Lucena: O senhor inaugurou o período de déficit da balança comercial...
Ciro Gomes: Você não está deixando eu responder a pergunta sobre o que eu posso fazer para o mercado ter segurança de que...
Gilberto Dimenstein: Aguardo aquela questão do Armínio Fraga (se manterá ou não ele no comando do Banco Central).
Ciro Gomes: Isso é bobagem. Como é que um candidato que não sabe nem se fica vai nomear ou desnomear...
Gilberto Dimenstein: Então você pode dizer que está descartado!
Ciro Gomes: O que não é razoável é exigir de um candidato que vai enfrentar um primeiro turno, depois um segundo turno, que ele vá ter compromisso com cargo.
Gilberto Dimenstein: Isso não tem sentido.
Ciro Gomes: Nenhum. Não tenho compromisso de cargo com ninguém, pode serrar meu braço. Não há quem arranque um compromisso de cargo meu com ninguém, nem com aliado, nem com adversário, nem com amigo, com inimigo, ninguém, ponto final. Então vamos lá, minha história. Eu fui governador de Estado e nenhum homem público brasileiro na história moderna tem o desempenho fiscal mais sólido do que o que nós tivemos lá. Como fui prefeito da quinta maior cidade brasileira, nenhum administrador público tem os números fiscais da Prefeitura de Fortaleza.
Carlos Eduardo Lins da Silva: Tudo isso já foi, mas o dólar está subindo.
Ciro Gomes: Mas é porque você aceita a premissa da propaganda oficial que tenta empurrar para a oposição que criticava o modelo a culpa do desmonte do modelo. Vou lhe dizer porque está subindo. Posso continuar?
Carlos Eduardo Lins da Silva: Claro.
Ciro Gomes: Vou tentar explicar por que o dólar está subindo e eu acho que depois do dia 15 vai começar cair. Vamos anotar. .
Carlos Eduardo Lins da Silva: 15 de quê?
Ciro Gomes: Agora, deste mês. Depois de amanhã. Eu acho que vai começar a cair. Por quê? Não é...
(manifestação da platéia)
Clóvis Rossi: Por favor, não é democrático impedir que o candidato fale... vocês terão tempo para fazer suas perguntas.
Ciro Gomes: Podia pelo menos ouvir para depois rir, se fosse mesmo engraçado. Podia pelo menos ouvir. Eu, se faço um negócio desse, sou o novo Collor, intempestivo... (risos).
Ciro Gomes: Não é? Mas tudo bem, ossos do ofício, não faz mal. A questão básica é a seguinte: no mercado de Birigüi, interior de São Paulo, se tiver pouca banana e muita gente querendo, precisando e podendo comprar banana na mesma hora, o preço da banana sobe. Não tem intervenção nem especulação que resolva. Pouca oferta com grande demanda o preço sobe. Então o que está acontecendo com o Brasil? Eu estou contra isso há sete anos e meio. Cansei de falar contra: "Isso não vai dar senão numa crise cambial". Muitas vezes. Eu tenho um livro que virou best seller, que eu não esperava, recuperando o que eu escrevi em 95, 96, 97, 98, 99, 2000 e está ali claramente. Não é porque sou profeta, mas porque era óbvio que ia acontecer. Você produz um passivo externo monstruoso, que gera um déficit de transações de US$ 21 bilhões, explode a dívida externa induzindo o empresariado nacional a se endividar a câmbio fixo para fins de reeleição e de populismo cambial, ante o silêncio majoritário da grande imprensa brasileira, e a dívida externa saiu de 120 para mais de 250 bilhões de dólares. Vencem este ano 27 bilhões de dólares. Junta 27 de vencimento deste ano com 21 de déficit externo e você tem uma demanda por dólar de 48 bilhões de dólares. As agências de risco lá fora trabalham com critérios práticos: passivo, passivo externo líquido, relação dívida externa/exportação, e eles não caem na engabelação aqui que, enquanto o Brasil caminhava aceleradamente para o brejo, todos os críticos eram desqualificados: novo Collor, descredenciado, intempestivo, coisas menores, secundárias, para não pôr em discussão o regime errado que se impôs à economia brasileira. Muito bem. Além da questão de eles terem a percepção correta, os números exatos do passivo brasileiro, houve uma crise nos Estados Unidos, no centro, você conhece bem a América, você também conhece, aquilo que no Brasil é a poupança, caderneta de poupança, lá são fundos de ação. De repente o poupador, o pequeno poupador que comprou a WorldCom a 65 dólares viu aquilo pulverizado para 40 centavos, a poupança da vida dele que foi para o vinagre. Então está uma brutal aversão a riscos nos Estados Unidos. Junta as das coisas, você tem a fonte externa de dólar secando até para linhas de crédito comercial, que nem na moratória do [Dílson] Funaro aconteceu. Então você tem uma oferta de dólar muito contraída e uma demanda monstruosa de dólar. O preço do dólar, nessa circunstância, sobe, não tem erro. Não adianta candidato falar, fazer carta aos banqueiros e tentar dizer: tenho compromisso com a estabilidade, tenho compromisso com a responsabilidade fiscal, tenho compromisso com os contratos, tenho compromisso com o estado de direito. Não adianta, isso é físico. Agora, em cima disso, por que eu estou falando dia 15 para vocês rirem e a gente se encontrar nas páginas da Folha de S.Paulo? É que o governo atual transformou parte da crise coletiva do Brasil em fonte de ganho para um pequeno, exíguo grupo de especuladores...
Eleonora de Lucena: São os bancos?
Ciro Gomes: ...quando indexou a dívida interna ao câmbio. Então tem, dia 15 agora, um vencimento de uns 2 bilhões e meio de dólares em títulos cambiais. Quaisquer 100 milhões de dólares você faz o dólar subir. Tão exíguo, tão seco, tão enxuto está o mercado. Eles estão inflando, isso é um palpite meu.
Eleonora de Lucena: Eles quem? Quem está se beneficiando?
Ciro Gomes: Os carregadores dos títulos cambiais, quem sabe disso é o Banco Central, eu não tenho informação para dizer.
Gilberto Dimenstein: O que o candidato pode fazer...
Ciro Gomes: O candidato não pode fazer nada. Pode se comportar com dignidade, pode anunciar o seu programa, pode mostrar a sua biografia e pode resistir. Olha, você serra o meu braço e eles não vão me domésticar. Não quero ser presidente do Brasil domesticado pelo mercado. Isso é o De la Rua (ex-presidente da Argentina), eu não quero, acabou. (aplausos).
Clóvis Rossi: Nessa mesma questão, analistas sérios etc., e neutros, se é que algum analista é neutro hoje em dia, pega a sua nota, você vê que o dossiê é equilibrado, tem até a sua nota aqui, na qual você diz, no parágrafo dois, que sempre teve compromisso com a austeridade fiscal, estabilidade da moeda e com respeito aos contratos e, no parágrafo três, reafirma que a atual política será substituída por outra. Alguns dos pilares básicos.
Ciro Gomes: Lê o resto da nota ...
Clóvis Rossi: ...outra subordinada a lei...
Ciro Gomes: Subordinada a lei, é óbvio, mas é o seguinte...
Clóvis Rossi: ...subordinada a lei...
Ciro Gomes: Deixa eu explicar. Tem uma lei de diretrizes orçamentárias que já determinou para o próximo presidente, é lei. O superávit de 3,75% do PIB, está mencionado, em seguida, leia o resto.
Clóvis Rossi: ...e aos exclusivos interesses da população, blah, blah, blah, blah, blah, blah...
Ciro Gomes: Blah, blah, blah, não, que mais? É apenas o seguinte. Eu tenho o compromisso de mudar a política econômica obedecendo a lei, a responsabilidade fiscal, os contratos etc, mas vou praticar uma política econômica comprometida com o blah, blah, blah... o interesse nacional e o interesse de quem trabalha e produz!
Clóvis Rossi:Todos dizem isso, todos dizem isso.
Eleonora de Lucena: Quem vai perder no seu governo? Alguém para fazer a mudança...
Clóvis Rossi: Deixa eu terminar a pergunta. Você diz que, você diz... a responsabilidade fiscal, a estabilidade econômica e o respeito aos contratos e que vai mudar a política econômica. A política econômica, alguns dos pilares básicos dela são a austeridade fiscal, que você já respondeu, você vai manter...
Ciro Gomes: Eu critico, acho que esse governo é o maior governo de irresponsabilidade fiscal da história do Brasil. (aplausos).
Clóvis Rossi: Mas você vai manter os 3,75%?
Ciro Gomes: Isso é lei. Não é voluntário. Está determinado por lei.

Leia as íntegras:

  • 1. Leia íntegra do início da sabatina e a apresentação de Ciro

  • 2. Ciro fala do apoio de ACM e de setores da direita

  • 3. Collor está se vingando de mim, diz Ciro

  • 4. Ciro fala sobre o acordo com o FMI

  • 5. Ciro fala sobre permanência de Fraga no BC em seu governo

  • 6. Ciro diz que dólar vai cair a partir do dia 15

  • 7. Ciro fala sobre inflação e distribuição de renda

  • 8. Ciro fala de Alca, Mercosul e política externa

  • 9. Ciro responde a leitores sobre segurança e elo com Collor

  • 10. Ciro responde pergunta sobre sua formação e drogas

  • 11. Ciro responde leitores sobre educação e cultura

  • 12. Ciro fala sobre reforma agrária e confisco de poupança



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