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13/08/2002 - 17h08

Ciro fala sobre inflação e distribuição de renda (íntegra 7)

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da Folha Online

Em sabatina no Teatro Folha, o candidato Ciro Gomes comenta frase de George Soros sobre "Serra ou o caos" e distribuição de renda. Diz ainda que, no mundo globalizado, a democracia é para os americanos e não para os brasileiros. Leia abaixo:

Clóvis Rossi: Estabilidade da moeda tem sido lida, certa ou erradamente, quero que você você diga se é certa ou erradamente, como as metas de inflação estabelecidas.
Ciro Gomes: Está errado. "Inflation target" [meta de inflação] é uma de 20 formas técnicas possíveis de manejar o controle da inflação. Por exemplo, nós fizemos o Plano Real, eu ajudei a administrar o Plano Real numa fase, e não tínhamos "inflation target", e a inflação foi bem menor do que foi hoje. O FED, norte-americano, não tem o "inflation target". Na verdade, "inflation target" foi uma coisa introduzida às pressas pelo Armínio Fraga e eu até compreendo como uma solução de desespero porque o que se sequenciou à desastrada desvalorização cambial de 99, vencida a reeleição, e o meu sofrimento vem de antes... Em 98 eu dizia: "Esse câmbio vai se desvalorizar explosivamente, vem aí um pressão inflacionária, vem aí uma recessão", e as pessoas: "Terrorista!". A entrevista com a Miriam Leitão foi um negócio de um bate-boca impressionante, com todo o carinho que eu tenho com ela e o respeito, mas, na tese, era um negócio horroroso, que eu era terrorista. O mesmo papo, o mesmo papo furado de mercado. Eu, com 5% nas pesquisas, dizia: "Vai estourar o câmbio". Ninguém queria ouvir. Poucas pessoas queriam ouvir. Agora, o que é que está acontecendo? Está se tentando, de novo, para replicar... Não é à toa que o Soros deu a entrevista para você [Clóvis], qualquer país sério... Isso é uma nação com 170 milhões de pessoas, somos a 15ª economia industrial do mundo, não somos uma república de banana, temos uma vocação para ter uma atitude pró ativa no mundo. E vem o Soros e diz assim: "O mercado imporá Serra ou o caos". Diz para ti. Aí tu perguntas: "Mas isso não é antidemocrático?". E ele diz: "Os brasileiros têm que aprender que, no mundo globalizado, a democracia é para os americanos, não é para os brasileiros". Vá dizer isso onde ele quiser. Aqui, nesse país, não. (aplausos).
Eleonora de Lucena: De qualquer maneira alguém, na sua proposta, vai perder. Os bancos vão perder? Quem vai perder no seu governo para distribuir a renda?
Ciro Gomes: A questão básica é a seguinte: nós estamos com a menor média de crescimento dos últimos 50 anos. Estamos com 11 milhões e 700 mil desempregados. Nós estamos com 57 em cada 100 brasileiros empurrados para a informalidade. Trabalhando com biscate, na informalidade, sem carteira assinada, sem cobertura previdenciária. Nós estamos... a massa salarial encolheu consistentemente, 21%, nos últimos anos, enquanto a economia ganha produtividade. Toda economia que ganha produtividade dá margem para o salário crescer; no Brasil, os salários estão encolhendo. Então você tem evidências flagrantes: maior estatística de falências e concordatas da história, maior estatística de inadimplência da história, falta energia elétrica, estradas destruídas, perdemos um de cada três mestres doutores nas universidades públicas, funcionalismo público com salário arrochodo, evidências generalizadas de que o modelo está errado. Não estou atacando o presidente da República, nem fulano de tal, até porque eu sei que não basta trocar o presidente, são as instituições que estão erradas. Muito bem. Um setor está recolhendo nessa mesma conjuntura os maiores lucros da história do sistema financeiro mundial desde que os fenícios, na antiguidade, inventaram a taxa de juros.
Gilberto Dimenstein: E o que se faz contra isso?
Ciro Gomes: Evidentemente a culpa não é deles. Eles estão aí para ganhar dinheiro no máximo. Você tem que consertar o marco macroeconômico e dar privilégio ao interesse nacional, a quem produz e a quem trabalha.
Eleonora de Lucena: Então os bancos vão perder no seu governo.
Ciro Gomes: Isso é você que está dizendo.
Eleonora de Lucena: Eu estou lhe perguntando...
Gilberto Dimenstein: Alguém vai ter que perder nesse novo modelo econômico que está sendo pensado.
Ciro Gomes: Olha aqui, as minhas opiniões são meio rebeldes a essas interdições intelectuais que vicejam na elite brasileira. Eu acho que os bancos... (rumores da platéia).
Ciro Gomes: ...que os bancos estão tendo um falso ganho. Na minha opinião. E antes eu tinha essa opinião meramente teórica, agora tem uma evidência empírica na Argentina. Do que adianta você contabilizar balanços monstruosos, lucros monstruosos contábeis botando todos os ovos numa cesta só de um caminhante, que está ali, eminente de tropeçar e derrubar os ovos todos? Ou seja, você está engordando o passivo público de um jeito que corresponde ao lucro lá dos ativos dos bancos, mas, um belo dia, se de fato não tivermos uma equação em que o país volte a crescer, isso vira pó. Não é questão de querer ou não querer.
Eleonora de Lucena: O senhor enxerga esse horizonte próximo?
Ciro Gomes: Se não mudar, não tenho a menor dúvida. Se o país não crescer, não tenho a menor dúvida. É físico. A questão básica é a seguinte: esse ano vamos gerar, com todas as ineficiências, arrochando imposto, arrecadando como nunca se arrecadou, mais do que os Estados Unidos e Japão, arrochando as despesas a ponto de deixar faltar energia elétrica, de voltar as epidemias, deixar a violência campear, com uma Polícia Federal que não tem dinheiro para pagar gasolina dos carros, todo arrocho está sendo feito para gerar um superávit de R$ 25 bilhões, e a conta de juro aproxima de 100, você paga 100 com 25, capitaliza 75 e começa de novo. Isso é óbvio, qualquer jejum na economia...
Eleonora de Lucena: O Brasil vai quebrar?
Ciro Gomes: Isso é você que está dizendo, de novo.
Eleonora de Lucena: Não, eu estou perguntando.
Ciro Gomes: Estou propondo mudar. Se mudar, não quebra.

Leia as íntegras:

  • 1. Leia íntegra do início da sabatina e a apresentação de Ciro

  • 2. Ciro fala do apoio de ACM e de setores da direita

  • 3. Collor está se vingando de mim, diz Ciro

  • 4. Ciro fala sobre o acordo com o FMI

  • 5. Ciro fala sobre permanência de Fraga no BC em seu governo

  • 6. Ciro diz que dólar vai cair a partir do dia 15

  • 7. Ciro fala sobre inflação e distribuição de renda

  • 8. Ciro fala de Alca, Mercosul e política externa

  • 9. Ciro responde a leitores sobre segurança e elo com Collor

  • 10. Ciro responde pergunta sobre sua formação e drogas

  • 11. Ciro responde leitores sobre educação e cultura

  • 12. Ciro fala sobre reforma agrária e confisco de poupança


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