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22/09/2002 - 05h07

Empresário herda R$ 70 mi em contratos de administrações do PT

CHICO DE GOIS
ROBERTO COSSO
da Folha de S.Paulo

O empresário de transportes Romero Teixeira Niquini herdou, em seis meses, quase R$ 70 milhões em contratos para serviços de limpeza em duas capitais administradas pelo PT.

O presidente de empresas de seu grupo é Willian Ali Chaim, ex-tesoureiro da campanha a deputado federal de Rui Falcão, secretário de Governo da Prefeitura de São Paulo, e ex-assessor do presidente nacional do PT, deputado José Dirceu.

Em 1998, Niquini declarou rendimento médio de R$ 2.500 por mês e nenhum patrimônio. No ano passado, porém, seu patrimônio já somava mais de R$ 4 milhões e seus rendimentos, R$ 50 mil por mês _20 vezes mais.

Os contratos de Niquini com as prefeituras petistas estão sob a mira do Ministério Público e de vereadores, que desconfiam de um suposto beneficiamento a empresas de lixo e de transporte.

Em Belém, a oposição aprovou a criação de uma CPI para investigar o caso, mas a prefeitura conseguiu derrubá-la na Justiça.

O promotor Fernando Capez, da Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo, acredita que "há claramente um esquema para beneficiar [empresas] de lixo e transportes nos municípios administrados pelo partido".

Empresário mineiro que teve sociedade em vários empreendimentos já inativos, Niquini começou a chamar a atenção do setor de limpeza urbana em junho deste ano, quando adquiriu a Cliba Ltda. por R$ 28,5 milhões.

A empresa tem um contrato de R$ 50 milhões com a prefeitura paulistana, por um ano de serviço, podendo ser renovado por igual período.

Empresa argentina, a Cliba começou a trabalhar em São Paulo no final da gestão Pitta (1997-2000) e foi contratada sem licitação, em um processo de emergência, para prestar serviços ao município no início do ano passado.

O diretor do Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) responsável por essa contratação foi Alfredo Buso, que hoje trabalha na campanha à reeleição do deputado José Dirceu.

Em abril deste ano, a Cliba ganhou uma licitação da prefeitura para fazer o serviço de limpeza por um ano. A empresa foi uma das doadoras da campanha de Marta Suplicy -deu R$ 251 mil.

Em agosto, quando os funcionários da Cliba entraram em greve por falta de pagamento, Chaim foi um dos responsáveis por negociar a volta ao trabalho.

Belém
A história do envolvimento de Niquini com o setor de lixo em cidades administradas pelo PT, porém, teve início em 30 de novembro de 2001. Na ocasião, ele adquiriu, por R$ 3,2 milhões, a Emparsanco Belém Ambiental, empresa que mantém contrato com a Prefeitura de Belém desde 1998.

Em junho, a Folha noticiou que a escolha da Emparsanco pela Prefeitura de Belém foi marcada por suspeitas de favorecimento. A presidente da comissão de licitação, Edilene Rodrigues, é irmã do prefeito da cidade, Edmilson Rodrigues. Além disso, o petista Ricardo Pereira da Silva, funcionário da Prefeitura de São Paulo e dono da Rodvias Engenharia, foi um dos responsáveis pela avaliação técnica das concorrentes. A Emparsanco é cliente da Rodvias.

Outro que teve participação no processo em Belém foi Nelson Frateschi, irmão do presidente do PT de São Paulo, Paulo Frateschi, e dono da Engelix, empresa que também presta serviços para a Emparsanco. Frateschi e Ricardo participaram ainda de grupos de trabalhos na Prefeitura de Belém para debater projetos de interesse da prefeitura.

A venda da Emparsanco Belém para Niquini pegou o mercado de surpresa. Documento obtido pela Folha demonstra que o acerto do pagamento seria feito em quatro prestações de R$ 300 mil cada e mais R$ 2 milhões divididos em dez vezes. A empresa Expresso Urbano São Judas Tadeu, de propriedade de Niquini, figura como avalista da compra.

Na data da negociação, Niquini também deu como parte de pagamento um helicóptero modelo Agusta A 109/A2, matrícula PT-YTB, ano de fabricação 1986.

Com a transação, o saldo do contrato que a Emparsanco mantinha com a Prefeitura de Belém, no valor de R$ 23 milhões, conforme documento da transação comercial entre as partes, passou a ser direito de Niquini. Ou seja: ele pagou R$ 3,2 milhões e ganhou, no ato da compra, a possibilidade de faturar sete vezes mais em um ano e meio.
Em agosto deste ano, a Emparsanco Belém, comprada por R$ 3,2 milhões, adquiriu a Cliba Ltda. por R$ 28,5 milhões.

No mesmo mês, a empresa que vendeu a Emparsanco Belém para Niquini entrou com um pedido de falência contra a Expresso Urbano São Judas Tadeu. No Tribunal de Justiça há pelo menos 20 pedidos de falência contra as empresas de Niquini. Apesar disso, ele continua comprando.

Pouco antes de assumir a presidência das empresas de ônibus de Niquini, Chaim coordenava a campanha a deputado federal de Ricardo Zarattini, pai do secretário municipal de Transportes, Carlos Zarattini. Antes ainda, ele foi presidente da ETCD (Empresa de Transporte Coletivo de Diadema). Há 15 dias, depois que a Folha começou a investigar o relacionamento entre as as empresas de Niquini e as administrações petistas, a secretaria rompeu os contratos que mantinha com o empresário (leia texto abaixo).

Niquini foi sócio, também, de Baltazar José de Souza, concunhado de Ronan Maria Pinto, denunciado pelo Ministério Público por suposto esquema de arrecadação de propina em benefício do PT.

Quando Chaim dirigia a ETCD, ele fez modificações no sistema de transportes que acabariam beneficiando a empresa de Baltazar, que o indicaria para trabalhar com Niquini. Chaim, porém, diz que o benefício aos empresários surgiu com sua atuação contra os perueiros na cidade.

Veja também o especial Eleições 2002
 

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