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01/10/2002
-
09h59
Especial para a Folha de S.Paulo
A eleição de 6 de outubro oferece oportunidade sem precedente para mudar o país, retomando o desenvolvimento com base na redistribuição da renda e na democratização das oportunidades e construindo a independência do Brasil. Não é possível alcançar esse resultado com a eleição do candidato oficial e a continuidade da trama de interesses que se agrupa em torno de sua candidatura. Só é possível atingi-lo com a vitória das oposições.
O dever das oposições diante do quadro que se estabeleceu no país é reunir-se tanto quanto possível, ainda que de última hora, para assegurar ao candidato oposicionista liderante os poucos votos que lhe possam faltar para ganhar a eleição em primeiro turno.
Se fosse o Brasil democracia consolidada, se os aparatos do Estado mais responsáveis pela lisura das eleições, a começar pela Justiça Eleitoral e pela Polícia Federal, tivessem guardado isenção, se os magnatas da mídia não estivessem envolvidos em negócios com os detentores do poder, se não houvesse proliferado nessa campanha a falta de escrúpulo com que se distorceram fatos e se destruíram reputações, se os partidos políticos gozassem da confiança popular e pudessem com autoridade apontar ao eleitorado na eleição de segundo turno seus preferidos e se, por fim, existisse, entre o primeiro turno e o segundo, tempo bastante para neutralizar as violências que se preparam para fazer triunfar o continuísmo e para mexicanizar o Brasil a pretexto de não argentinizá-lo, não haveria por que temer a eleição de 27 de outubro.
Nenhuma dessas condições, entretanto, vigora. Não lutar hoje para evitar o segundo turno seria irresponsabilidade para com a República.
O movimento para reunir as oposições em torno do candidato do PT, além de ajudar a garantir a decisão eleitoral, antecipa o tipo de governo necessário à execução da obra transformadora: um governo das forças progressistas, com a participação dos empresários, que dialogue com todas as vertentes da sociedade brasileira.
Há vinte anos, polemizo contra as idéias e as práticas do PT. Há uma semana, reafirmei diretamente ao candidato do PT minha convicção de não ser ele, entre os candidatos de oposição, o melhor agente da alternativa. Minha convicção é irrelevante. O veredicto do país está claramente desenhado. Tratemos de fazê-lo executar. Os dois outros candidatos de oposição devem renunciar em favor do candidato do PT. E os partidos que os apóiam devem exigir que renunciem.
Os compromissos pessoais são elemento indispensável de ordem moral na política. Encontram, porém, limite na subordinação de tais compromissos à responsabilidade para com as tarefas e para com o país. Transposto tal limite, amesquinham os indivíduos e corrompem a vida pública.
A idéia da grandeza é o princípio central da política. A grandeza se manifesta na conjugação da audácia com o sacrifício. Fazer política é se despojar.
A energia desmedida do Brasil é a promessa de seu engrandecimento. Promessa até agora descumprida pela experiência quotidiana da humilhação que sofrem dezenas de milhões de brasileiros. Aproximamo-nos da hora em que poderemos dar combate decisivo a essa perversão de nossa humanidade. Que esse período de engrandecimento nacional seja prefigurado por atos de grandeza de parte dos que atuam na vida pública.
Se faltarem tais atos, que o povo brasileiro -sereno, confiante, sem medo nem rancor- faça, no dia 6 de outubro, justiça a si mesmo.
Roberto Mangabeira Unger é coordenador de programa de governo de Ciro, professor titular de direito na Universidade Harvard (EUA) e colunista da Folha.
Mangabeira Unger: Ciro e Garotinho devem renunciar a favor de Lula
ROBERTO MANGABEIRA UNGEREspecial para a Folha de S.Paulo
A eleição de 6 de outubro oferece oportunidade sem precedente para mudar o país, retomando o desenvolvimento com base na redistribuição da renda e na democratização das oportunidades e construindo a independência do Brasil. Não é possível alcançar esse resultado com a eleição do candidato oficial e a continuidade da trama de interesses que se agrupa em torno de sua candidatura. Só é possível atingi-lo com a vitória das oposições.
O dever das oposições diante do quadro que se estabeleceu no país é reunir-se tanto quanto possível, ainda que de última hora, para assegurar ao candidato oposicionista liderante os poucos votos que lhe possam faltar para ganhar a eleição em primeiro turno.
Se fosse o Brasil democracia consolidada, se os aparatos do Estado mais responsáveis pela lisura das eleições, a começar pela Justiça Eleitoral e pela Polícia Federal, tivessem guardado isenção, se os magnatas da mídia não estivessem envolvidos em negócios com os detentores do poder, se não houvesse proliferado nessa campanha a falta de escrúpulo com que se distorceram fatos e se destruíram reputações, se os partidos políticos gozassem da confiança popular e pudessem com autoridade apontar ao eleitorado na eleição de segundo turno seus preferidos e se, por fim, existisse, entre o primeiro turno e o segundo, tempo bastante para neutralizar as violências que se preparam para fazer triunfar o continuísmo e para mexicanizar o Brasil a pretexto de não argentinizá-lo, não haveria por que temer a eleição de 27 de outubro.
Nenhuma dessas condições, entretanto, vigora. Não lutar hoje para evitar o segundo turno seria irresponsabilidade para com a República.
O movimento para reunir as oposições em torno do candidato do PT, além de ajudar a garantir a decisão eleitoral, antecipa o tipo de governo necessário à execução da obra transformadora: um governo das forças progressistas, com a participação dos empresários, que dialogue com todas as vertentes da sociedade brasileira.
Há vinte anos, polemizo contra as idéias e as práticas do PT. Há uma semana, reafirmei diretamente ao candidato do PT minha convicção de não ser ele, entre os candidatos de oposição, o melhor agente da alternativa. Minha convicção é irrelevante. O veredicto do país está claramente desenhado. Tratemos de fazê-lo executar. Os dois outros candidatos de oposição devem renunciar em favor do candidato do PT. E os partidos que os apóiam devem exigir que renunciem.
Os compromissos pessoais são elemento indispensável de ordem moral na política. Encontram, porém, limite na subordinação de tais compromissos à responsabilidade para com as tarefas e para com o país. Transposto tal limite, amesquinham os indivíduos e corrompem a vida pública.
A idéia da grandeza é o princípio central da política. A grandeza se manifesta na conjugação da audácia com o sacrifício. Fazer política é se despojar.
A energia desmedida do Brasil é a promessa de seu engrandecimento. Promessa até agora descumprida pela experiência quotidiana da humilhação que sofrem dezenas de milhões de brasileiros. Aproximamo-nos da hora em que poderemos dar combate decisivo a essa perversão de nossa humanidade. Que esse período de engrandecimento nacional seja prefigurado por atos de grandeza de parte dos que atuam na vida pública.
Se faltarem tais atos, que o povo brasileiro -sereno, confiante, sem medo nem rancor- faça, no dia 6 de outubro, justiça a si mesmo.
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