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13/02/2003 - 08h40

Grampo atingiu ex-amiga de ACM e mais cinco pessoas ligadas a ela

ELIANE CANTANHÊDE
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Surgiu ontem mais um indício da ligação do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) com o grampo que atingiu mais de 400 telefones na Bahia: sua ex-amiga Adriane Barreto, que pertencia ao círculo mais próximo ao senador, e cinco pessoas ligadas a ela estão na lista dos grampeados.

Além de Adriane, também tiveram o sigilo telefônico violado seu atual namorado, Plácido Farias, o pai dele, César Farias, a ex-mulher dele, Márcia dos Reis, o irmão dela, Sérgio Reis, e o sócio de Plácido, Manuel Cerqueira.

Os celulares de Adriane e de Plácido, seu namorado, constam da relação entregue oficialmente ontem ao Ministério da Justiça. "Isso dá uma conotação muito pessoal ao grampo. ACM tornou-se altamente suspeito", disse ontem à Folha o advogado Sérgio Reis, que é amigo e ex-cunhado de Plácido, com quem fala praticamente todos os dias ao telefone.

Segundo Reis, "é de domínio público que Antonio Carlos Magalhães teria tido um namoro com Adriane, ou algo parecido". O relacionamento, na opinião de Reis, cria um vínculo direto entre a motivação dos grampos e ACM, que não teria aceitado pacificamente a decisão de Adriane de passar a namorar Plácido Farias.

Um indicador disso, ainda de acordo com Reis, é o fato de o jornal de ACM, o "Correio da Bahia", insistentemente publicar reportagens e notas que seriam hostis ao novo namorado da moça, questionando suas qualificações profissionais como advogado.

Adriane é filha do desembargador Amadiz Barreto, ex-presidente do Tribunal Regional Eleitoral. Ele foi candidato a presidente do Tribunal de Justiça da Bahia com apoio explícito de ACM e mesmo assim perdeu para o atual presidente, Carlos Alberto Dutra Cintra. Foi Cintra que entregou ontem a relação ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

A ex-mulher de Plácido, Márcia dos Reis, disse ontem à Folha que ela acreditava haver sido grampeada por causa do suposto relacionamento de Adriane com ACM. "Meu ex-marido é hoje casado com uma pessoa que toda a sociedade baiana diz que era "caso" do ACM, que é a filha de um desembargador, Adriane Barreto", disse. "Eu acho que quiseram saber alguma coisa [sobre Plácido] por meio do meu telefone. Só pode ter sido isso", diz ela.

Viagem

Márcia, que trabalha como analista judiciária no TRT da Bahia, diz que, há cerca de um ano, o ex-marido viajou para um spa e lá se apaixonou por Adriane Barreto.

"Foi um escândalo na Bahia, justamente porque todo mundo conhece ela, sabe da história dela. Eram comentários em todos os lugares. Tenho uma filha de 14 anos, me vi exposta e quis me ver livre o mais rápido possível daquela situação." Ela diz que se separou de Plácido em 21 dias.

"Não tenho contato com o Plácido, mas o que a gente sabe é que a vida dele está completamente liquidada", diz ela, afirmando que o ex-marido sofreu muitas retaliações no Estado por causa do relacionamento com Adriane.

Outro grampeado, César Farias, pai de Plácido, afirmou à Folha que não gostaria de se manifestar, "por enquanto", sobre o assunto. Informado de que a ex-nora, Márcia dos Reis, citara o relacionamento entre Adriane e ACM como possível motivo para um grampo, disse: "Se ela [Adriane] namorava Antonio Carlos, eu não sei. Agora, que foi grampeada, talvez, por isso, foi. Porque ele [ACM] reagiu quando os dois [Plácido e Adriane] ficaram juntos, perseguindo Plácido, essa coisa toda".

"Doa a quem doer"

As crescentes suspeitas sobre ACM levaram o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), a reagir com maior ênfase na apuração de responsabilidades e sob a justificativa de que o grampo atingiu quatro deputados federais: o atual líder do PT, Nelson Pellegrino, Geddel Vieira Lima (PMDB), o atual ministro do Trabalho, Jaques Wagner, e Benito Gama, que não se reelegeu.

João Paulo pediu ao novo procurador parlamentar, Luiz Antonio Fleury Filho (PTB), que acompanhe as investigações sobre o grampo. E acrescentou: "Doa a quem doer".

A frase de João Paulo foi interpretada no Congresso como a decisão do governo de não abafar o caso dos grampos.

Ao Planalto interessa que os holofotes se voltem para ACM e deixem na sombra as gravações com conversas de Geddel, eleito primeiro secretário da Câmara com a mão decisiva do governo. Uma CPI neste momento, de início de governo, crise econômica e necessidade de aprovar reformas, é tudo o que o PT não quer.
 

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