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15/03/2003 - 06h03

"Lula não tem projeto claro", afirma CUT

GUSTAVO PATÚ
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O governo Luiz Inácio Lula da Silva não conta com um projeto claro o bastante para balizar o debate em torno das reformas tidas como prioritárias, avalia um documento da CUT (Central Única dos Trabalhadores), ligada umbilicalmente ao PT.

"Até agora, podemos constatar a inexistência de um projeto claro para estimular o debate público sobre as diferentes reformas tidas como prioritárias. Tal aspecto tem causado tensão e descompasso no debate entre governo, trabalhadores e outros setores da sociedade", diz o documento.

O texto é assinado pelo presidente da central sindical, João Felício, e outros 13 membros da direção executiva. Trata-se da principal entre nove "teses" -no jargão sindicalista- elaboradas como subsídios para o 8º Congresso Nacional da CUT, que acontecerá entre 3 e 7 de junho e definirá as estratégias cutistas para os próximos anos.

Intitulado "A vitória de Lula completa um ciclo", o documento celebra a chegada do PT ao governo como uma vitória dos trabalhadores, ataca a herança deixada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, elogia a política externa do novo governo e o diálogo aberto com o funcionalismo público. No plano interno e presente, o entusiasmo é muito menor.

"Evidenciam-se alguns limites entre o desejo de mudança, expresso na grande votação obtida por Lula em 27 de outubro [de 2002], e as políticas efetivamente adotadas", diz o texto, que responsabiliza o legado de FHC e a tensão externa pelo caminho ortodoxo seguido na economia.

Juros e ajustes

Para a CUT, medidas como a elevação dos juros e o corte de gastos sociais "encontram-se claramente em contradição com as expectativas de mudança na política econômica". A central afirma questionar a eficácia desses instrumentos no combate à crise.

Não há uma crítica direta a nenhuma das reformas em particular, mas relembra a ação da CUT em defesa da Previdência pública -leia-se: contra a reforma previdenciária- e dos direitos trabalhistas, alvos potenciais de alterações ainda pouco detalhadas pelo governo.

A indefinição em relação às reformas é o motivo de crítica principal: "Evidenciaram-se fragilidades e desencontros na apresentação de propostas por parte de diferentes setores do governo".

A análise de conjuntura desenvolvida no documento termina em tom cauteloso. "Ainda é prematura uma análise em profundidade do significado e do papel do governo Lula na construção de outro modelo de desenvolvimento econômico e social."

Agressividade

O texto de Felício se equilibra entre demonstrações de independência e manifestações de apoio ao governo, o que traduz o dilema vivido hoje pela CUT: de um lado, a identificação de origem com Lula e o PT; de outro, as pressões das bases sindicais contra as mudanças na Previdência -que afetam principalmente os servidores públicos, cujo peso é decisivo na central- e na legislação trabalhista.

Nas demais teses, todas de membros da direção executiva, são muitos os exemplos de trechos de agressividade muito maior.

"Pelos indicativos do programa, pelas alianças realizadas com a direita, pela estratégia adotada durante a campanha eleitoral, o governo Lula é um governo de profundas contradições de classe", escrevem Jorge Luís Martins e Lujan Maria de Miranda Bacelar, sustentando que o governo é "ambíguo" e corre o risco de "sucumbir às políticas neoliberais".

Esquerda

Neiva Lazzarotto apóia as críticas da esquerda petista à política econômica em documento intitulado "Contra as reformas neoliberais, por mudanças de verdade". José Maria de Almeida, ex-candidato à Presidência pelo PSTU, cobra, como na campanha, rompimento com a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

O congresso da CUT não escolherá uma tese -os documentos são apenas subsídios para o debate. A votação se dará em torno de propostas de estratégias, que estavam sendo concluídas ontem.
 

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