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08/04/2003 - 08h48

Críticas a Lula são injustas, diz Sarney

RAQUEL ULHÔA
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o primeiro turno da eleição, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), avalia como "excelente" o desempenho do petista nesses cem primeiros dias de governo e mostra mais transigência com o Planalto do que alguns petistas, que têm feito cobranças públicas.

Sarney elogia a política econômica e considera "injustas" as críticas à demora do governo em enviar as propostas de reformas tributária e previdenciária ao Congresso. Mas avisa: Câmara e Senado não têm compromisso em aprovar as propostas aprovadas pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha.

Folha - Qual é a avaliação que o sr. faz dos cem primeiros dias de governo Lula?
Sarney
- Não só eu como o povo brasileiro -as pesquisas mostram isso- achamos que o presidente está tendo um excelente desempenho. Todo início é difícil, mas o presidente Lula mudou completamente duas coisas, que tiveram a maior importância na condução da política brasileira.
Primeiro, é um presidente oriundo da área do trabalho. Anunciaram que isso seria uma grande catástrofe, um grande fracasso para o Brasil. Não aconteceu. Ao contrário, ele está tendo um excelente desempenho, e, por outro lado, nós estamos vendo também que na área da política econômica os índices macroeconômicos estão caindo, restabeleceu-se a confiança no país, e Lula hoje internacionalmente tem um peso. Acho que a avaliação é extremamente positiva.

Folha - Uma das críticas que se faz é que a melhor área do governo é a econômica -e em razão de ele não ter feito grandes transformações. Não é frustrante para o eleitor do Lula, que queria mudança?
Sarney
- Governar é inspirar confiança. A área econômica depende sobretudo da confiança. Lula inspira uma grande confiança, e é por isso que a área econômica vai bem. A área econômica melhorou. Agora, não há muito o que inovar hoje em matéria de economia. Nós temos uma economia em nível mundial, da qual todos somos dependentes, e Lula recebeu hipotecas dessa política que ele tem de manter, que são compromissos internacionais.

Em matéria de política econômica hoje, não só para o Brasil como para o mundo inteiro, não há opção de escolher esta ou aquela. É seguir as coisas, mas administrá-las bem, em favor do interesse nacional. É o que ele está fazendo.

Folha - E a demora do governo em enviar ao Congresso as propostas de reformas? O sr. acha que o governo poderia apressar um pouco ou está levando o tempo certo?
Sarney
- Desde o conselheiro Nabuco está se falando de reformas no Brasil. É uma palavra que tem mais de cem anos como uma constante na política brasileira. E, se o presidente que assumiu há cem dias diz que já vai mandá-las no mês de abril, ninguém pode cobrar morosidade. As críticas são injustas.

Folha - O fato de o governo submeter as reformas ao exame de um conselho, dos governadores e dos prefeitos de capitais vai facilitar a tramitação no Congresso ou não há nenhuma garantia nesse sentido?
Sarney
- Eu acho que facilita, porque, de certo modo, vão aflorando as questões divergentes na discussão da reforma. E é uma maneira de procurar harmonizar esses conflitos.

Folha - O Congresso vai acatar as propostas pelo fato de elas terem sido debatidas nesses fóruns?
Sarney
- Não, o Congresso não está obrigado a acatá-las. Mas também não está impedido de aceitá-las. Não podemos, de maneira global, dizer que aceitaremos. As reformas implicam discussões de problemas tópicos. É essa tarefa que está sendo feita: ouvir a sociedade, as áreas interessadas, os segmentos, os governadores, as bancadas, as classes produtoras, porque é uma coisa que atinge todo mundo.

Folha - A idéia do líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), de iniciar a tramitação da reforma tributária pelo Senado provocou reação na Câmara. O sr. defende a proposta?
Sarney -
Não há nenhum impedimento para que elas comecem pela Câmara ou pelo Senado. Mas, evidentemente, já temos tantos problemas nessas reformas, que são assuntos extremamente polêmicos, e vamos acrescentar um outro problema, de saber por onde começa ou por onde termina? Eu, como presidente do Senado, acho que seria uma boa idéia. Mas isso não é uma coisa fundamental. Não é por isso que devamos brigar. Vamos acertar isso em conjunto.

Folha - Nesses cem dias Lula não conseguiu, ainda, garantir o PMDB no governo. O que falta?
Sarney -
Avançamos muito. Porque o PMDB votou institucionalmente contra o Lula na eleição. Mais da metade do partido votou no Lula. Mas institucionalmente, como partido, a sua decisão foi outra. Mas a partir da eleição nós avançamos demais. O partido hoje politicamente dá um apoio total ao governo: às reformas, às políticas econômicas, às política sociais. Apenas achamos que não devemos participar de cargos.

Folha - O sr. está mais transigente com o governo do que alguns petistas, como o deputado João Paulo Cunha -para quem o governo estaria "batendo cabeça"-, e o senador Paulo Paim (RS), primeiro vice-presidente do Senado -que criticou a demora no encaminhamento das reformas. Isso atrapalha Lula? Falta mais compromisso com o governo?
Sarney
- Ora, não tenho tido tempo de ver a outra parte. Só o lado bom. Esse é um problema interno do PT que eu não quero examinar.

Folha - Uma das marcas desses cem dias são as reuniões para discutir tudo. O sr. acha que é um bom método de governar? Esse método funciona?
Sarney
- Ele está usando o sistema que sempre usou e que é muito bom, de democracia interna.
 

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