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29/06/2003 - 05h59

Estado de São Paulo concentra doleiros do esquema Banestado

RUBENS VALENTE
ANDRÉA MICHAEL
da Folha de S.Paulo, em São Paulo e Brasília

Levantamento feito pela Folha de S.Paulo em documentos apreendidos pela Polícia Federal revela que São Paulo, e não o Paraná, concentra a maioria dos doleiros que operaram as contas na agência do Banestado (Banco do Estado do Paraná, liquidado em 2000) de Nova York --sob foco de investigação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso.

Juntos, os doleiros de São Paulo movimentaram, por meio de um programa de computador específico, instalado pelo próprio banco nas casas de câmbio, pelo menos US$ 1,17 bilhão entre 1996 e 1997.

Do total de 55 empresas "offshore" (com sedes virtuais em paraísos fiscais, cujos donos são desconhecidos) que tiveram contas na agência, 11 detêm o grosso da movimentação. Elas movimentaram cerca de US$ 3,6 bilhões.

Seus operadores, que, por meio de uma procuração da "offshore", tinham o poder de receber e enviar recursos, têm raízes nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Ceará e Amazonas.

O trabalho dessas empresas consistia em receber o dinheiro nas contas que mantinham no Banestado --dinheiro que, segundo a Polícia Federal, chegava do Brasil por meio de contas CC-5-- e reenviá-lo para milhares de outras contas, localizadas em diversos países e bancos.

Os US$ 3,6 bilhões foram enviados para contas de outras "offshore", contas de pessoas físicas e também para contas identificadas apenas por apelidos, como "Flamingo", "Miro" e "Tucano", entre dezenas de outros.

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal ainda não sabem quem se beneficiava dessas contas com apelidos. Elas serão uma das prioridades da CPI. O dinheiro teria saído originalmente do Brasil, camuflado em remessas de "laranjas", por meio de contas CC-5 (para não-residentes no país).

Grande parte dessas contas secretas era gerida no Chase Manhattan e outros bancos americanos pela empresa Beacon Hill Service Corporation, de Nova York. Na última quinta-feira, o Ministério Público da cidade revelou que a Beacon está sob investigação por fazer o mesmo que as "offshores" de brasileiros faziam no Banestado: transmissão de fundos.

A Beacon teria transmitido para outras contas US$ 3,2 bilhões apenas entre os anos de 2001 e 2002.

Paulistas

O grupo paulista é formado por Silvio Anspach, Dani Zalcberg, Samuel Semtob Sequerra, Elliot Eskinazi e Chaaya Moghrabi.

A reportagem apurou que todos, com exceção de Anspach, que mudou-se para Miami, nos Estados Unidos, moram no bairro paulistano de Higienópolis. Todos deverão ser ouvidos pela CPI em andamento no Congresso, iniciada na semana passada.

Na documentação do banco, Zalcberg aparece como procurador de quatro empresas, que movimentaram ao todo US$ 444 milhões. Numa delas, a Quetra S/A, ele divide a procuração com Samuel Semtob Sequerra. Este possuiu também uma conta de pessoa física no Banestado. Por ela passaram US$ 75,9 milhões.

Manaus (AM) guarda uma surpresa: é de lá o doleiro que controlou a "offshore" com maior movimentação numa única conta. Gilberto Benzecry, da BCF International, que tem como endereço a Cidade do Panamá, remeteu US$ 663,8 milhões para milhares de outras contas.

Logo abaixo de Benzecry aparece o doleiro Alexander Ferreira Gomes, o Alex, que de Fortaleza (CE) controlava três empresas correntistas do Banestado. A maior delas, a Blue Carbo, com sede no Uruguai, remeteu US$ 503 milhões para vários outros bancos.

Somadas, as operações das duas "offshores" comandadas pelo doleiro paranaense Alberto Youssef, a June International e a Ranby International, são as mais volumosas da agência, com US$ 800 milhões ao todo.
 

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