Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
07/09/2003 - 06h12

"Não há Duda que torne o 7 de Setembro popular"

Publicidade

da Folha de S.Paulo

"Não há Duda Mendonça que transforme o 7 de Setembro numa festa popular", diz o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos (SP). Ele e José Murilo de Carvalho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), concordam que os brasileiros não aderem em massa às comemorações do Dia da Independência.

Em outros países, é diferente. Carvalho lembra que, nos EUA, o 4 de Julho tem grande participação dos americanos. "São radicalmente opostas", diz ele sobre as celebrações daqui e de lá.

Villa menciona as datas nacionais da França e do México. Em ambas, a identificação da população com o evento também é bem maior do que no Brasil. Isso se explica, segundo ele, pelo fato de os episódios que marcaram essas datas terem sido mais fortes do que o 7 de Setembro brasileiro.

Na França, o 14 de Julho marca a queda da Bastilha, um símbolo do regime absolutista derrubado em 1789. No México, a festa é na noite de 15 para 16 de setembro, quando, em 1810, começou uma guerra camponesa pela independência, que só veio, porém, em 1821.

No Brasil, não houve guerra, como nos EUA, ou insurreição popular, como na França e no México. O grito do Ipiranga, diz Villa, foi um fato fortuito. Houve até um acordo para que Portugal reconhecesse a independência mediante um pagamento.

Para Villa, outras datas nacionais, como o 15 de Novembro -Proclamação da República-, não são festas populares também porque o respectivo episódio não teve muita participação do povo.

Carvalho também minimiza a importância do 7 de Setembro: "É um episódio muito secundário dentro do processo de independência". Segundo ele, embora a independência tenha sido comemorada nas ruas do Rio de Janeiro, a data ficou de certa forma "esquecida" até a época do Estado Novo (1937-1945, governo de Getúlio Vargas), quando começaram os desfiles militares e os desfiles nas escolas, para os quais, lembra o professor, "ia um sargento lá nos ensinar o passo".

Durante o regime militar (1964-1985), conta Carvalho, a participação dos estudantes foi reduzida, e o papel das Forças Armadas se acentuou ainda mais. A festa, então, "se tornou um desfile militar igualzinho aos da antiga União Soviética", afirma o professor.

"Fica parecido com o episódio do Ipiranga, que não tinha povo", diz. Ele se refere à imagem que o pintor Pedro Américo fez do grito no seu quadro "Independência ou Morte!". Nele, enquanto Dom Pedro 1º ergue a espada, rodeado de cavaleiros, um "homem do povo", que conduz um carro de boi, observa o gesto com ar de quem não entende o que se passa.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página