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30/04/2004 - 06h06

Índios acusam garimpeiros de terem voltado à reserva

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IURI DANTAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília
KÁTIA BRASIL
da Agência Folha, em Manaus

Caciques cintas-largas disseram ontem à Polícia Federal que um grupo de garimpeiros, que variava de 40 a 200 pessoas, voltou a invadir a reserva indígena Roosevelt (RO) para trabalhar na área conhecida como "grota do sossego", onde fica uma jazida de diamantes descoberta recentemente. A presença dos garimpeiros não foi confirmada nem pela PF nem pelas Forças Armadas, porque só se consegue chegar à grota a pé. A mata bloqueia a visão do alto.

A PF afirma que os próprios índios cintas-largas continuam garimpando na reserva Roosevelt, em Rondônia, apesar das barreiras montadas por militares e policiais com o objetivo de impedir a entrada de combustível e alimentação dentro da terra indígena.

Ontem, o delegado da PF Mauro Sposito fez dois sobrevôos na reserva, localizada em Espigão d'Oeste (534 km de Porto Velho). Sposito é o coordenador da Operação Rondônia, uma força-tarefa formada por PF, Exército e outros órgãos com o objetivo de combater o crime organizado no Estado. A operação, iniciada no dia 20, tem como prioridade vigiar a terra Roosevelt, em razão do conflito que, no dia 7, deixou ao menos 29 garimpeiros mortos no local.

No primeiro sobrevôo, às 8h (9h em Brasília), a bordo de um helicóptero da Força Aérea Brasileira, Sposito afirma ter visto mais de 200 índios trabalhando na grota do Lage, um dos garimpos da área. Ele disse não ter visto garimpeiros não-índios na grota. "Vimos garimpeiros índios, só índios, mais ou menos 200", disse em entrevista por telefone celular.

Às 10h, Sposito fez outro sobrevôo, desta vez num helicóptero da PF. Diz ter verificado o trabalho de índios nos barrancos com oito máquinas pesadas. Os sobrevôos na reserva fazem parte do cerco que a Operação Rondônia executa para impedir a entrada de alimentação e combustível na área. Segundo o delegado, a estratégia visa evitar conflitos. "Sem combustível e alimentação, o garimpo não funciona", disse. A PF e as Forças Armadas devem entrar hoje na reserva. Antes disso, deve haver uma reunião com os caciques para planejar a ação no local.

Garimpeiros

Os serviços de inteligência da PF e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) previam reservadamente um retorno dos garimpeiros, mas não tão cedo. A principal preocupação neste momento é a ocorrência de novas mortes, tanto de garimpeiros como de índios.

Ontem, Celso Fantin, do Sindicato dos Garimpeiros de Espigão d'Oeste, disse que, antes das mortes do dia 7, funcionavam dentro da reserva quatro garimpos --Lage, Sossego, Batom e Lucas Preto, com 300 garimpeiros. Com as mortes, Fantin acredita que cerca de cem garimpeiros estejam na área, encurralados ou mortos.

Em agosto de 2003, os índios tinham retomado um garimpo que havia sido tocado por "brancos" até serem expulsos no início do ano passado. A extração de minerais em terras indígenas é ilegal. A administração da Funai em Cacoal (RO) disse ontem que não confirma nem desmente a existência de garimpeiros na área.

O secretário de Acompanhamento e Estudos Institucionais do gabinete de crises da Presidência, José Alberto Cunha Couto, divulgou ontem que o governo liberou R$ 10 milhões para uma força-tarefa composta por 23 órgãos, com o objetivo de sanear o Estado de Rondônia. "Queremos coibir a lavagem de dinheiro que gera todo o crime organizado na área."

A Operação Rondônia começou no último dia 20. Segundo Couto, os garimpos irregulares estão sendo fechados, e as Forças Armadas estão patrulhando rios, postos de fronteira e o espaço aéreo na região. Devido à presença da Marinha nos rios da região, barcos bolivianos deixaram de navegar.
 

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