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31/05/2004 - 07h07

Antigos companheiros abandonam Maluf

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LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Folha de S.Paulo

A herança de escândalos e as sucessivas derrotas eleitorais fizeram com que antigos aliados e conselheiros abandonassem o barco do ex-prefeito Paulo Maluf (PP), pré-candidato na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

A lista dos ex-escudeiros é encabeçada por um trio de empresários: Edevaldo Alves da Silva, sogro de uma das filhas de Maluf e dono da universidade FMU, Heitor Pinto Filho, reitor da Uniban e vice de Maluf na eleição de 2002, e Jorge Yunes, ex-tesoureiro e financiador de campanhas.

O ex-prefeito demonstra não se importar com a solidão política, mas pessoas próximas dizem que Maluf sentiu o distanciamento de alguns companheiros, principalmente após a divulgação de documentos bancários que confirmam a movimentação ilegal, atribuída a ele, de milhões de dólares no exterior --Maluf nega ser o proprietário das contas.

Entre os motivos alegados para o afastamento estão o não reconhecimento do trabalho desenvolvido dentro do partido, o medo de ver o nome vinculado a denúncias e até a disputa por um terreno da família Maluf.

A ala malufista apontou outro fator: a sucessão de derrotas de Maluf (o último cargo dele foi a Prefeitura de São Paulo, de 1993 a 1996) teria desincentivado o apoio de amigos ávidos pelas benesses do poder. Se o ex-prefeito fosse reconduzido à prefeitura, dizem esses mesmos aliados, os antigos companheiros retornariam.

Liberdade

Um dos rompimentos foi causado pela venda de um terreno da família Maluf no começo do ano passado. Edevaldo Alves da Silva, pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), e Heitor Pinto Filho, pela Uniban, tinham interesse no lote, localizado no bairro da Liberdade (zona sul de SP). Manifestaram seus planos, mas a venda foi fechada com uma terceira faculdade, concorrente de ambos.

Os dois empresários pediram a desfiliação do ex-PPB (atual PP).

A amigos, Pinto Filho disse ter se sentido "traído" por Maluf. O ex-prefeito contra-argumentou. Disse que a venda foi operada por membros da família, sem o conhecimento dele.

O rompimento de Maluf com Jorge Yunes foi mais brusco. O empresário, denunciado durante a gestão do ex-prefeito Celso Pitta (1997-2000) por suposto favorecimento na administração, entrou, em 2001, com uma ação de despejo contra o partido, cuja sede funcionava em um prédio dele na rua Santo Amaro.

Yunes foi absolvido em decisão de primeira instância, mas o relacionamento dele com o ex-prefeito continua estremecido.

Outra deserção importante, porém mais antiga, foi a do pianista João Carlos Martins, que se afastou do mundo malufista após o escândalo conhecido como Pau-brasil --empresa que supostamente financiou campanhas do ex-prefeito de forma irregular. Martins disse ter sido abandonado por Maluf e obrigado a se defender sozinho dos processos.

Antigo escudeiro de Maluf na Câmara Municipal, o ex-prefeito e ex-vereador Miguel Colasuonno abandonou o barco no final de 1999, no auge do escândalo da máfia dos fiscais --envolvimento de servidores públicos na cobrança de propina de empresários. "A situação era muito tensa naquela época", disse Colasuonno, hoje filiado ao PMDB e ligado ao deputado federal Michel Temer, presidente do partido.

Dois ex-secretários e fortes aliados também romperam com o malufismo: Roberto Paulo Richter (Saúde) e Lair Krahenbuhl (Habitação), responsáveis pela implantação do PAS (Plano de Atendimento à Saúde) e do projeto Cingapura, respectivamente.

Richter se diz "velho demais" para a política. Do passado, guarda o fato de ter sido preterido na sucessão de Maluf (perdeu para Pitta). Krahenbuhl, que se desentendeu com pessoas ligadas a Maluf, trabalha na Câmara Brasileira da Indústria da Construção.

Gerações

Hoje contam-se nos dedos as pessoas que são realmente próximas a Maluf e têm liberdade para aconselhá-lo politicamente. É o caso de Jesse Ribeiro, um de seus principais articulares de campanha e com quem conversa de cinco a dez vezes por dia.

O deputado federal Delfim Netto (PP) e o deputado estadual Antonio Salim Curiati (PP) também gozam de liberdade e de intimidade para aconselhar o ex-prefeito.

Na Câmara Municipal de São Paulo, Maluf conserva a fidelidade de aliados antigos, como a dos vereadores Erasmo Dias (PP) e Wadih Mutran (PP).

Apesar do apoio irrestrito de velhos amigos e de lideranças políticas, o malufismo não tem resistido às novas gerações.

O vereador Antonio Salim Curiati Jr. (PP), filho do deputado Curiati, já anunciou que, por motivos pessoais, irá se desligar do partido e deixar a carreira política -mesmo a contragosto do pai.

A filha de Calim Eid, que era considerado um dos principais articuladores políticos do ex-prefeito, está bem longe da seara malufista. Diretora da agência Atração Fonográfica, Vilma Eid participou de campanhas políticas pelo então PPB até 2000.

Após a morte do pai, no final de 1999, Vilma comunicou sua intenção de se afastar da política, o que deixou ressentimentos no partido. À Folha, Vilma disse que as campanhas consumiam muito tempo da produtora, o que não interessava comercialmente.

Outro filho que não herdou do pai o sentimento malufista é o presidente do PL, deputado federal Valdemar Costa Neto.

O pai do deputado, Valdemar Costa Filho, morto em 2001, foi secretário do Abastecimento de Maluf e freqüentemente é lembrado por ele como um dos amigos mais fiéis.

A última aproximação política entre o deputado e Maluf foi na campanha governamental de 2002, quando a direção paulista do PL declarou apoio ao ex-prefeito. Irritado, Costa Neto não escondeu sua simpatia maior pelo adversário petista de Maluf, José Genoino.

Aliados malufistas dizem ver com "naturalidade" o afastamento de alguns companheiros, principalmente pelo fato de o ex-prefeito estar longe de um cargo público desde de 1996. Afirmam que essas amizades são casuais e movidas por interesses.
 

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