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02/08/2004 - 10h01

Após mortes de crianças, xavantes fecham rodovia em Mato Grosso

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HUDSON CORRÊA
da Agência Folha, em Alto Boa Vista (MT)

Acampados como sem-terra às margens da rodovia BR-158, em trecho sem asfalto e a 1.100 km de Cuiabá, na cidade de Alto Boa Vista, cerca de 450 índios xavantes montam barreira na estrada e cobram pedágio de motoristas e caminhoneiros desde quinta passada, após as mortes de três crianças índias. Um recém-nascido está internado em estado grave no hospital da cidade vizinha.

As crianças morreram devido a doenças respiratórias causadas pela poeira que carros e caminhões levantam na estrada, segundo a técnica em enfermagem da Funasa (Fundação Nacional da Saúde) Gleiner Pinheiro Yamal, que trabalha no acampamento.

Os índios moram em 43 barracas de lona cobertas por folhas de palmeira a 1 km da terra indígena Marãiwatsede, de 175,2 mil ha. Essa área foi homologada como terra dos xavantes em 11 de dezembro de 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

As terras, porém, estão com posseiros por decisão tomada em 2001 pelo juiz José Pires da Cunha, da 5ª Vara Federal de Cuiabá. "Há noves meses, os xavantes permanecem acampados igual aos sem-terra", disse o administrador regional da Funai (Fundação Nacional do Índio), Edson Silva Beiriz.

No sábado, os índios fizeram uma cerimônia de enterro das crianças e colocaram as cruzes. A Agência Folha acompanhou. Os meninos Djean, 1, Geraldo, 2, e José Vildo, 1, foram enterrados dentro da terra indígena, a 15 metros do marco inicial da demarcação feita pelo governo federal.

"A Justiça em Mato Grosso está sendo injusta com os xavantes. O caminhão passa aqui e levanta muita poeira, e as crianças ficam doentes", afirmou o xavante Manoel Dabobowari, 88. No sábado à tarde, ele chorava na sepultura do neto, um dos meninos mortos.

"Vamos chegar ao cemitério [onde ocorreram os enterros] e abrir caminho. Vai acontecer conflito", disse o "cacique" Damião Paridzané, 53, líder dos xavantes. "Em vez de matar os índios com tiro, estão matando a resistência da saúde deles."

A Funai diz que há 170 crianças xavantes acampadas. O número de acampados aumentou porque as mulheres vieram de outra área indígena. Quatro bebês nasceram no acampamento desde junho.

Antes de acamparem na BR-158, em novembro de 2003, os xavantes viviam em uma aldeia de outros índios. Os 19 posseiros que entraram na Justiça para ficar com a área afirmam que os xavantes nunca moraram na região.

Pedágio

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) confirmou que os índios estão cobrando pedágio. A Agência Folha apurou com motoristas que o valor cobrado chega a R$ 20, mas nem todos são parados.

O índio José de Arimatéia, 29, diz que eles montaram barreira só para evitar que carros e caminhões passem em alta velocidade e levantem poeira. Responsável pela entrega de uma cesta básica duas vezes por semana a cada família indígena --um gasto de R$ 20 mil mensais--, a Funai também nega a cobrança de pedágio.

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