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21/08/2004 - 06h10

Dez doleiros giraram US$ 2,4 bi em 42 contas nos EUA

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RUBENS VALENTE
LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Folha de S.Paulo

Um grupo de dez doleiros brasileiros movimentou pelo menos US$ 2,4 bilhões em 42 contas do MTB Bank de Nova York (EUA) entre janeiro de 1997 e 24 de novembro de 2003.

O levantamento foi feito pela Folha com base nas operações registradas em um CD enviado pela Promotoria de Nova York (EUA) à CPI do Banestado.

Dois desses doleiros --Gilberto Messod Benzecry, de Manaus (AM), e Samuel Semtob Sequerra, de São Paulo-- tiveram mandados de prisão decretados durante a Operação Farol da Colina. Deflagrada na última terça-feira, a operação investiga movimentações de doleiros na "offshore" Beacon Hill Service no antigo banco Chase Manhattan.

As empresas "offshore" controladas por donos de casas de câmbio de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Ceará, do Amazonas e do Paraná receberam e enviaram dinheiro para a agência do Banestado de Nova York e dezenas de outras instituições dentro e fora dos Estados Unidos. O MTB foi um dos principais destinos.

A Polícia Federal e a CPI do Banestado investigam se o dinheiro é originado em desvios de recursos públicos, corrupção e outros ilícitos cometidos no Brasil.

Os investigadores suspeitam que as contas bancárias controladas pelos doleiros servem apenas como disfarçadas retransmissoras de fundos, que captam e redistribuem os recursos para dezenas de outras contas com o objetivo de dificultar o rastreamento que poderia levar, na ponta da transação, ao verdadeiro dono do dinheiro que saiu do Brasil.

Um depoimento prestado pelo doleiro paranaense Alberto Youssef à Justiça Federal do Paraná em janeiro último ajuda a Polícia Federal a elucidar uma parte das movimentações do MTB. "Azteca, na verdade, é uma empresa de um cambista de São Paulo. (...) O Sandor tem muitos clientes finais, essa é uma conta interessante para que vocês olhem bem", disse Youssef à Justiça.

"Clientes finais", no jargão dos cambistas, é o real proprietário do dinheiro, que apenas utilizou os canais dos doleiros para remeter dinheiro ao exterior.

O doleiro referido por Youssef é Sandor Paes de Figueiredo, dono da Suntur Turismo Câmbio Ltda., que até 2003 atuava em São Paulo e São José dos Campos (SP).

Ele é próximo do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos e da ex-mulher do juiz, Norma Regina Emílio Cunhas, presos desde outubro passado no decorrer da Operação Anaconda.

Sandor era tão íntimo de ambos que foi arrolado como testemunha de Norma Regina no processo de separação do casal, conforme documento apreendida pela Anaconda no apartamento de Norma, no centro paulistano.

A Azteca Financial Corporation é uma das mais importantes empresas "offshore" que operam no MTB Bank.

De acordo com as totalizações feitas pela reportagem em parte das 534 mil operações enviadas pelo MTB à CPI do Banestado, a Azteca girou US$ 449,6 milhões.

A informação prestada por Youssef à Justiça é reforçada por uma série de sete operações registradas na conta Azteca. Todas identificaram o remetente do dinheiro como a "Suntur".

O banco de dados mostra que o doleiro paranaense estava bem informado sobre Sandor porque era um dos seus clientes. A "offshore" June International enviou US$ 18,5 milhões para a Azteca. A investigação da PF no Banestado nova-iorquino apreendeu a ficha de abertura da conta da June na agência. Seu procurador é Alberto Youssef.

A conta da June no Banestado recebeu US$ 18,1 milhões de contas diversas do MTB. Em contrapartida, enviou US$ 24,7 milhões para o MTB. Um de seus clientes era a Depolo Corporation, "offshore" com sede declarada no Uruguai mas controlada por doleiros brasileiros que atuam no Rio de Janeiro e São Paulo, segundo a Polícia Federal.

Propinoduto

A Depolo foi a campeã em movimentação no MTB, US$ 1,7 bilhão de entradas e saídas.

A "offshore" é referida em outro processo de repercussão sobre envio de recursos, o caso dos fiscais da Receita Federal no Rio. A PF apreendeu, na época, uma agenda de um empresário ligado aos fiscais mencionando depósitos no "CBC Bank", na conta "Depolo Corporation". O CBC foi o novo nome dado ao MTB.

A agenda mencionava o nome de "Dario", que a polícia acredita ser Dario Messer, um cambista do Rio de Janeiro contra o qual também foi expedido mandado de prisão durante a Operação Farol da Colina.

Outra "offshore" importante no caso Banestado (girou US$ 273,6 milhões na agência nova-iorquina), a Marmore International volta a aparecer no MTB Bank. Sediada no Panamá, mas controlada pelos doleiros de São Paulo Chaya e Charles Moghrabi, ela recebeu US$ 70,6 milhões de contas diversas do MTB.

A julgar por outra revelação do doleiro Youssef, Moghrabi é personagem importante para investigações em São Paulo. "Se nós pegarmos [analisarmos] um dos clientes que operavam comigo, que é o Mogarabi [Moghrabi], você pode ver que tem pagamento da minha conta para a conta dele. Se você pegar vai ver que ele era um dos doleiros do [Celso] Pitta, que era o prefeito de São Paulo", disse Youssef.

Com ajuda da ex-mulher de Pitta, Nicéa Camargo, a CPI localizou no MTB que o casal foi beneficiário da conta aberta em nome da Cutty International e fechada em 1999, após transferência de US$ 1 milhão para outras contas.

A campeã em movimento na agência nova-iorquina do Banestado, a BCF International, do doleiro de Manaus (AM) Gilberto Benzecry, com US$ 663 milhões, também volta a aparecer no MTB. A BCF recebeu e enviou US$ 18,9 milhões do banco.

O doleiro Samuel Semtob Sequerra é procurador da "offshore" Laurel Finance, com sede formal em Montevidéu, no Uruguai. A conta da empresa movimentou US$ 56 milhões na agência nova-iorquina do Banestado.

As informações constam do laudo da PF 675/2002, que deu base à criação da CPI do Banestado.

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