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05/09/2004 - 03h30

Para estudiosos, nacionalismo do governo exclui a economia

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EDUARDO SCOLESE
JULIA DUAILIBI

da Folha de S.Paulo, em Brasília

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu uma polêmica nas comemorações em torno do 7 de Setembro deste ano ao tentar "estimular", tanto no empresariado como na população, um sentimento nacionalista.

Nesta terça-feira, diante de um público esperado de 50 mil pessoas, Lula desfilará em carro aberto na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A figura do presidente da República será uma das estrelas de um evento nacional.

Para intelectuais ouvidos pela Folha, o governo adotou um discurso nacionalista que satisfaz sua base de apoio, mas, na condução da economia, por exemplo, não leva isso em conta. A gestão Lula tenta aproveitar também a data comemorativa da independência do país e capitalizar para si uma onda de sentimento nacional.

"O governo apresenta uma certa derrapagem nacionalista que eu não vejo no conjunto articulado de medidas. É nacionalista no discurso, mas não é ao discutir com o FMI, por exemplo. A política nacionalista repercute como a tábua de salvação ideológica. É como se dissesse: "Não somos tão incoerentes'", afirmou Denis Rosenfield, que é professor titular de filosofia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Na tentativa de popularizar o 7 de Setembro e aumentar o espírito cívico da população, o governo federal pediu neste ano o apoio de empresas, para que, por exemplo, confeccionassem camisas e bandeiras sobre o tema.

No ano passado, Lula já havia tirado o desfile das proximidades do Quartel General do Exército, levando a parada à Esplanada dos Ministérios.

Wálder de Góes, professor aposentado de ciência política da UnB (Universidade de Brasília), afirmou que, apesar de as ações em busca da "popularização" do 7 de Setembro serem positivas, elas devem ser vistas com cautela.

"Esse tipo de condução político-simbólica exige uma administração fina para não cair no ridículo. Você pode fazer manifestações nacionalistas e patrióticas, e não fazer a bobagem, por exemplo, de expulsar um correspondente norte-americano [como quis fazer o governo em maio passado]."

Para o historiador Jaime Pinsky, os símbolos nacionais ainda são relacionados hoje à ditadura militar (1964-1985) e, por isso, acabam causando um certo sentimento de rejeição na população, principalmente entre os adultos.

"Retornar aos símbolos pode ser útil porque desperta um sentimento de pertinência que aparece em ocasiões como a Copa do Mundo", disse Pinsky. "É óbvio que Lula e sua equipe perceberam que podem usar isso a favor deles. Pertencer ao todo é pertencer ao governo. Tentam fazer com que se identificar com a nação seja se identificar com o governo."

Relação com o autoritarismo

Góes aponta ainda uma tradição da esquerda de buscar o fortalecimento do aparelho estatal e as mobilizações para estimular o patriotismo. "O PT tem a tradição autoritária da esquerda que se manifesta agora. Mas não vejo, por enquanto, uma relação entre o nacionalismo e o autoritarismo", acrescentou Rosenfield.

Integrantes do governo Lula defendem que o país precisa ter força militar, política, tecnológica e econômica para alcançar o desenvolvimento. O ministro da Casa Civil, José Dirceu, que é um dos partidários dessa tese, já a manifestou, inclusive, publicamente.

"Não me parece que esse seja o tom de todo o governo, e, sim, o de alguns integrantes dele", declarou a professora Maria Hermínia Tavares de Almeida, do Departamento de Ciência Política da USP.

Nos dias anteriores à comemoração, o governo também passou a veicular nas televisões campanhas publicitárias sobre a data.

"Acho precipitado afirmar que o governo está reforçando a tecla nacionalista. Independentemente do que diz, não me parece que o governo, por sua política econômica atual, tenha escolhido o nacionalismo como uma opção", concluiu a professora da USP.

Para os acadêmicos, ainda é frágil buscar ligação direta entre nacionalismo e autoritarismo, tido por alguns como uma faceta do governo Lula. "Não necessariamente [o nacionalismo] é perigoso ou haja uma ligação com o viés autoritário. Em países ocidentais com a democracia consolidada, é natural que os símbolos nacionais, como a bandeira e o hino, sejam valorizados", disse Pinsky.

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