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12/09/2004 - 08h15

Sortudo afirma ser "apostador de futebol"

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da Folha de S.Paulo

O deputado federal Francisco Garcia Rodrigues (PP-AM), 54, e seu filho são dois dos mais felizardos apostadores dos jogos federais. Entre 1996 e 1998, eles receberam juntos R$ 811 mil. Tiveram 43 bilhetes premiados em 21 concursos diferentes, principalmente na loteria esportiva federal. O deputado atribui sua sorte ao "envolvimento" que tinha com futebol e ao uso do "computador". A seguir, a entrevista.

Folha - Segundo o levantamento da Receita e do Coaf, o seu nome e de seu filho aparecem como ganhadores várias vezes das loterias...

Francisco Garcia Rodrigues
- [Interrompendo]Quando foi isso?

Folha - O período em que o sr. ganhou? O sr. não se recorda de ter ganho?

Rodrigues
- Eu não, eu quero ir atrás desse prêmio, por isso que estou perguntando [rindo].

Folha - O sr. confirma seu CPF?

Rodrigues
- Não, me dê o valor e o mês que eu te digo. Porque eu quero ir atrás, tu estás com o documento, eu quero ir atrás.

Folha - Março de 97, outubro...

Rodrigues
- Ah, isso daí já faz tempo. Está na declaração nossa [de Imposto de Renda]. Isso daí tu tiras da declaração. Pensei que fosse agora. Pegue na minha declaração de 97 que tem. Loteria esportiva, né? Mas são prêmios pequenos.

Folha - O total deu em torno de R$ 450 mil.

Rodrigues
- O quê? Mas em quantos anos?

Folha - 96, 97...

Rodrigues
- É que teve um prêmio grande. Exatamente. Aí depois joguei cinco semanas seguidas, perdi e parei de jogar. Pensei que tinha um prêmio novo em meu nome. É quando eu estava no Rio Negro, com um clube, a gente estava envolvido em futebol, aí jogava na loteria esportiva.

Folha - O sr. foi presidente do Rio Negro?

Rodrigues
- Não, fui presidente do Ideal Clube, mas o Rio Negro era o meu time. Os prêmios são pequenos, só um que é grande. A gente jogava toda semana, cento e poucos reais. Aí não deu, passou cinco semanas sem acertar, nós paramos de jogar. Também a loteria... Você joga, o governo fica com 67%. Aí não é mais negócio para o jogador. Quando eu fui ver, fazer a análise. Pô, o governo te leva tudo. O jogador leva 30 e poucos por cento só. Aí parei.

Folha - No período 96-97, o sr. teve um ótimo desempenho, acertou várias vezes. A que o sr. atribui esse desempenho?

Rodrigues
- Ah, eu acompanhava os jogos. Você, para fazer uma reportagem, não precisa dominar o assunto? Eu estava acompanhando o esporte.

Folha - Para um apostador se dar bem na loteria, ele precisa acompanhar o esporte, que vai acertar várias vezes?

Rodrigues
- Claro. Para qualquer negócio. Mas você precisa ter sorte também. Agora, se você vê que o negócio pode te dar prejuízo, aí você não joga. Quando eu caí na realidade, que o governo ficava com 67%, eu digo, não, meu dinheiro, não, eu quero jogar para ganhar, não para perder.

Folha - Pelo levantamento, o seu filho também foi muito bem no período.

Rodrigues
- Oi?

Folha - Seu filho, ele acertou várias vezes.

Rodrigues
- Ah, mas ele joga, joga bola. Futebol. Parou também porque você perder toda semana R$ 200, R$ 250, chega no final do mês você perdeu mil e poucos reais. Aí não é negócio. A gente fazia um jogo que era uma fórmula: a cada quatro tinha que acertar um. Tinha um desdobramento que o sujeito fazia, para poder cercar e ter mais chances. Você desdobrava no computador uma fórmula que você fazia quatro duplos e acertando um duplo, você matava os quatro. Coisa de doido mesmo, apostador de futebol.

Folha - O seu filho também parou de apostar?

Rodrigues
- É claro, claro. Aqui nós temos uma concessionária Chevrolet, em Manaus, uma Citroen, temos jornal, televisão, nós somos concessionários do João Saad [Rede Bandeirantes] em Manaus há 30 anos. Por que eu teria de ficar jogando?

Folha - O sr. gastava quanto por ano com os jogos?

Rodrigues
- Rapaz, eu não sei te dizer. Pela fórmula dava uns R$ 400, R$ 500 por semana. A gente jogava toda semana. A gente ganhou mais do que jogou. Porque você tem que fazer o cálculo do dinheiro que você deixou lá atrás. Porque fica como lucro seu. Porque, de qualquer jeito, você jogando no final do ano R$ 20 mil, tá, aí você ganha R$ 50 mil. Aí você ganhou R$ 50 mil mais o Imposto de Renda que está na fonte. Mas quando tu começas a perder na seqüência, tu só insistes se for burro. Porque o azar começa a bater na sua porta.

Folha - O sr. não recomenda que as pessoas continuem jogando?

Rodrigues
- Não, com essa taxa de imposto que o governo está fazendo, não é negócio. Negócio é jogar no bicho, como diz o cabra. Porque o bicho só te tira 20%. O camarada, pô, vai jogar R$ 100 para ganhar R$ 35, onde se viu um negócio desses?

Folha - É um mau negócio?

Rodrigues
- É um mau negócio. O governo, para melhorar a loteria esportiva, devia baixar as taxas de impostos.

Folha - Mas deputado, o sr. e seu filho ganharam quase R$ 1 milhão, como é um mau negócio?
Rodrigues - Não, não, você deve estar com o número errado. Se você puxar a declaração de Imposto de Renda, vai ver o número certo. Você deve ter aí.

Folha - E quanto foi?

Rodrigues
- Ah, não posso te dizer agora. Eu quero que você puxe a declaração de Imposto de Renda, lá está certinho, porque é o contador da empresa que faz, e toda vez que ganhava na loteria eu deixa lá pra ele o canhoto. Até para ganhar o imposto. (...) Do jeito que você está colocando. É chato, você está duvidando, como se eu nunca tivesse jogado na loteria. Como aconteceu, o caso do João Alves [ex-deputado que disse ter ganho 200 vezes na loteria]. Sou comerciante, empresário há 40 anos. Você pesquise, vai à loteria onde eu fazia meu jogo toda semana, e veja primeiro.

Folha - Onde o sr. apostava, como era o nome da lotérica?

Rodrigues
- Ah, não sei o nome.

Folha - Não lembra também?

Rodrigues
- Não lembro, não... Era a loteria na 10 de Julho, na rua 10 de Julho, lá funcionava. O nome eu não sei. Não lembro. Isso faz oito anos.

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