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08/02/2005 - 09h04

Blogs políticos conquistam cada vez mais adeptos e leitores

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NELSON DE SÁ
Colunista da Folha

Começa quase sempre como um site, um lugar para armazenar artigos, ensaios, para memória. Mas aí o autor "posta" um breve comentário --e passa a gostar. Relata o professor da FGV-SP e ex-ministro de FHC Luiz Carlos Bresser-Pereira:

"Eu vi que podia fazer com facilidade algumas observações. Opinar sobre alguns assuntos de que não estou disposto a tratar longamente. E achei divertido."

Assim nasce o blog. No caso do senador e ex-ministro de Lula Cristovam Buarque, não foi diferente. Passados três meses, ele diz que alguns comentários seus "não têm repercussão nenhuma", mas outros têm "muita":

"Por exemplo, quando morreu aqui [em Brasília] um menino por causa dessas injeções de anabolizantes, eu fiz uma mensagem provocando a juventude. Por que esse deslumbramento com o corpo chega ao ponto do suicídio?"

O problema é que a "experiência muito gratificante" do blog, para Buarque, também "consome muito tempo". Para Bresser-Pereira, nem tanto. "Eu faço isso muito rapidamente", diz.

Os dois ex-ministros estão longe de ser as estrelas do fenômeno dos blogs no Brasil.

O país foi surpreendido, no final do ano passado, com o anúncio da "Deutsche Welle" --a "BBC" alemã-- de que três blogueiros brasileiros estavam entre os melhores do mundo, segundo votação de usuários.

Um deles foi o próprio "melhor weblog" de todos, "Por um Punhado de Pixels", de Nemo Nox. Ainda que a premiação da DW, a exemplo do que ocorreu com o "Orkut", tenha sofrido uma invasão brasileira, que chegou a um terço da votação, o prêmio foi um marco.

Para Nox, pseudônimo de um publicitário de Santos que hoje vive em Washington (EUA) e insiste em não divulgar o nome, "foi uma surpresa", porque a concorrência era de "blogs famosos". Entre os dez finalistas, apontados por júri da DW, estavam celebridades blogueiras como os americanos Boing Boing e Wonkette.

Para alguns blogueiros locais, como o colunista da "Revista da Folha" Pedro Dória, do "Nomínimo Weblog", do Rio, "o Brasil é um dos poucos países no mundo em que os blogs fazem parte da vida na internet", citando ainda EUA, Grã-Bretanha, Irã.

Já Nox lembra que na premiação da DW tinha de tudo, blog chinês, russo, árabe. E no Brasil, sublinha ele:

"Quantidade existe, sem dúvida. Qualidade, creio que seja como em outros países: só uma pequena percentagem se destaca."

O blog de Dória está nessa minoria, citado pelo próprio Nox e por outros. Começou como uma coluna sobre web no site "No.", depois "Nomínimo". Há dois anos e meio virou blog de vez.

"Eu achava que tinha pego a manha da mídia, mas a coisa dos comentários em blog foi absolutamente desbundante. Eu descobri a internet de novo", diz Dória.

Dória concorda com Nox que "o Brasil não conseguiu produzir bons blogs em quantidade, sobretudo do ponto de vista informativo. Mas alguns apareceram."

O "Blog do Colunista", do jornalista Ricardo Noblat, foi outro vencedor dos BOBs, a premiação da DW, na categoria "melhor blog jornalístico em português". (O terceiro vitorioso do Brasil, na categoria "melhor temática", foi o Estraga Filmes).

O brasiliense "Blog do Colunista" completa um ano no mês que vem e Noblat, ex-"Veja" e "Correio Braziliense", quer mais do que prêmio:
"Eu vou fazer um ano de trabalho de graça, para o chamado povo brasileiro. Dinheiro que é bom, nada. Por enquanto, as contas são pagas por dona Rebeca, minha mulher."

Ele diz que começou "acidentalmente", que imaginava um blog como "diário de adolescente". Mas abriu o seu, servindo-se de um portal que só foi perceber sua presença pela repercussão em Brasília. Agora Noblat quer negociar com o portal e, acima de tudo, quer publicidade.

Encomendou um perfil dos internautas ao marqueteiro Antonio Lavareda e fechou contrato com uma empresa para reformular o blog e buscar anunciantes.

Nos EUA, onde os blogs políticos fizeram história na eleição presidencial, vários abriram espaço para publicidade e, no final da campanha, segundo o jornal "The New York Times", chegaram a faturar US$ 10 mil por mês.

Outro blogueiro atento à política, o paulistano Marcelo Tas, do "Blog do Tas", vem dividindo com Noblat algumas das experiências formais no gênero.

Ambos, durante a campanha municipal, fizeram "live blogging": blogaram ao vivo seus comentários sobre os debates em São Paulo. Nos EUA, a crítica ao vivo dos debates presidenciais foi uma das ações de repercussão dos blogueiros.

Para Tas, seu blog, com cerca de um ano de prioridade à interação, "comprovou aquilo que já tinha experimentado" antes, no rádio e na televisão:

"A molecada quer falar de política, quer falar do que está rolando no mundo."

Engajados

Nascida na Seattle dos protestos contra a globalização, a rede Indymedia --de sites de mídia independente- tem hoje um dos blogs brasileiros com maior presença de jovens engajados.

Boa parte, alegando segurança, escreve sob pseudônimos nada militantes, como João do Pé de Feijão. Um dos raros que assina o próprio nome --e dos mais assíduos no blog do "Centro de Mídia Independente"-- é o veterinário Raymundo Araújo Filho, especializado em agricultura familiar.

Ele sublinha que não fala em nome do Indymedia, que é "um mero usuário" e elogia a coluna blogueira do site, "absolutamente democrática, porque todo mundo pode escrever o que quiser".

Os debates opõem "autonomistas" como Araújo a petistas, anarquistas, trotsquistas, ambientalistas e até alguns provocadores que são tratados por "olavetes", por serem supostos seguidores do ensaísta conservador Olavo de Carvalho --cujo site, "Mídia Sem Máscara", não tem mecanismo blogueiro.

Outras tribos têm outros blogs. Aberto em meados de 2003, como site para artigos e ensaios de um grupo de "tucanos, prototucanos e viúvas de FHC", na descrição bem-humorada de seu protagonista, o ex-secretário da Presidência Eduardo Graeff, o "E-agora" mudou na virada do ano para sublinhar mais sua face blogueira.

Diz Graeff: "Ele foi ficando com cara de blog. A gente foi vendo que, se queria que ficasse vivo, tinha que escrever mais e não podia escrever como faz artigo. É o espírito de um diário mesmo. Uma coisa mais informal, sem terno e gravata. Você deixa lá e os outros lêem se quiserem."

O "E-agora", agora um legítimo blog, tem até colaborador que escreve sob pseudônimo, Antonio Fernandes. Graeff garante que o "clandestino" não foi nem presidente da República nem ministro.

A editora do dicionário Webster, americano, anunciou há pouco que blog foi a "palavra do ano", com base nas consultas on-line. Ela significa, diz o Webster, "site que contém um diário pessoal on line com reflexões, comentários e em geral links feitos pelo autor".

No Brasil, o dicionário Houaiss ainda não acordou para a palavra, mas a disputa pelo pioneirismo blogueiro já começou. Na frente, descrito como "pioneiro" e "figura legendária e quase inatingível" pela DW, está Nemo Nox, que criou seu primeiro blog, "Diário da Megalópole", em março de 98.

Um mês antes, Viviane Menezes lançou o "White Noise", um blog em inglês. Diz Nox:

"Ela foi possivelmente a primeira brasileira a fazer um weblog, e eu possivelmente o primeiro brasileiro a fazer um em português."

Mas antes deles outros dois blogueiros estavam no ar, os jornalistas Júlio Hungria e Elisa Araújo, do Blue Bus. Diz Hungria:
"Em 97, o formato era exatamente o que é um blog hoje. Era uma página só, com notas até lá embaixo, espaço para comentários diretos."

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Luiz Carlos Bresser-Pereira
  • Leia o que já foi publicado sobre Cristovam Buarque
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