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15/02/2005 - 10h49

Com maior bancada, PT perde eleição na Câmara e fica sem cargos na Mesa

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ROSE ANE SILVEIRA
da Folha Online, em Brasília

A eleição para a presidência da Câmara, que começou com um racha dentro do PT, terminou na maior derrota do governo Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso. Com 300 votos dos 498 deputados presentes, foi eleito nesta manhã novo presidente da Casa o candidato independente Severino Cavalcanti (PP-PE).

O candidato oficial do governo, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), só teve 195 votos --menos que os 207 obtidos no primeiro turno, três horas antes. Houve ainda um voto em branco e dois nulos. O PT também não elegeu nenhum candidato à Mesa Diretora da Câmara.

Sérgio Lima/FI
O deputado Severino Cavalcanti (PP-PE)
Severino Cavalcanti vai presidir a Câmara dos Deputados no biênio 2005-2006. O deputado, que construiu sua candidatura com a promessa de elevar salários e de melhorar as condições de atuação dos colegas congressistas, decolou após a insistência do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) em manter sua candidatura avulsa mesmo após o PT ter definido Luiz Eduardo Greenhalgh como seu indicado oficial.

Foi a primeira vez que um candidato independente, que pouco contou com o suporte de seu próprio partido, venceu a eleição para a presidência da Câmara. Também foi inédito o fato de o maior partido da Câmara não ter feito o presidente da Casa.

O presidente da Câmara é o primeiro a substituir o presidente da República na ausência de seu vice. Nas mãos do presidente, está o poder de determinar a pauta da Câmara e controlar todas as votações da Casa. No cargo, Severino Cavalcanti também poderá elevar, por ato normativo, os salários dos deputados.

Fora da presidência da Câmara, o PT terá de negociar pesado para ter o controle da pauta, apesar de ter a maior bancada e a maior presença nas comissões permanentes. Sem vice-presidentes e secretários, o PT também ficará de fora do controle da Casa mesmo com a ausência de Severino.

O primeiro problema para o governo com Severino pode ocorrer durante a votação da medida provisória 232, que aumentou a base de cálculo do IR (Imposto de Renda) e da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) para empresas. Em sua primeira entrevista no cargo, o deputado do PP afirmou que Lula deveria recuar da medida, que tem potencial para gerar uma arrecadação extra de R$ 2 bilhões ao ano para os cofres da Receita Federal.

O novo presidente da Câmara, entretanto, também declarou que não vai fazer oposição ao governo Lula. "Ganhei contra o candidato do partido de Lula, mas não vou dificultar o bom andamento do país", afirmou.

Longa madrugada

Com o risco de Severino Cavalcanti levar a presidência da Câmara, as negociações foram intensas durante toda a madrugada.

Severino foi pessoalmente ao gabinete de cada liderança partidária para pedir apoio a sua candidatura. Ele foi também pedir apoio de Virgílio Guimarães, que desapareceu do plenário e evitou comentar o resultado da votação em primeiro turno.

Já os governistas se mostraram perplexos com o resultado da votação em primeiro turno e atribuíram a baixa votação de Greenhalgh a uma "traição ao governo", segundo o deputado Paulo Bernardo (PT-PR). "O governo tinha certeza ontem que o Luiz Eduardo [Greenhalgh] tinha 260 votos", disse.

O ministro das comunicações Eunício Oliveira foi ao Congresso para reforçar o apelo para que a bancada do PMDB, seu partido, votasse com Greenhalg.

O movimento de Eunício foi uma resposta à presença do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB-RJ) no Congresso que tentava transferir os votos do partido para Severino Cavalcanti.

Tensão

A disputa pela presidência foi também uma das mais tumultuadas do últimos tempos. Ao indicar o nome de Greenhalgh como o candidato à presidência da Câmara, o PT provocou dissidências dentro do PT --o nome mais votado na bancada havia sido o do deputado Virgílio Guimarães, que foi pressionado a desistir de sua candidatura devido a acordos internos na bancada.

Apesar de ser o preferido dos petistas, Guimarães perdeu o apoio da bancada ao insistir em manter sua candidatura avulsa. Aos poucos, sua candidatura também foi perdendo força na medida em que o congressista procurou apoio entre os críticos do governo federal, como o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB).

Clima tenso

Nos últimos dois meses, o clima da disputa foi ficando cada vez mais tenso. O ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), foi obrigado a assumir a coordenação de campanha de Greenhalgh, com o objetivo de garantir a unidade da bancada petista.

Além de João Paulo Cunha, mais de dez ministros se empenharam pessoalmente na vitória do candidato oficial do PT.

Considerado frio e distante pelos seus pares, Greenhalgh tentou ainda mudar seu estilo e adotar um tom mais conciliador. O deputado buscou conversar com todos os segmentos representados na Câmara, entre eles os evangélicos e os ruralistas.

Greenhalgh chegou inclusive a apresentar uma plataforma de campanha com 21 itens que tinha como mote a estabilidade do governo, a continuidade das mudanças promovidas pela primeira gestão petista à frente da mesa e ao fortalecimento do papel dos deputados.

Após tomar posse, Severino Cavalcanti passa a presidir a mesa e a comandar a apuração da eleição dos outros 10 cargos em disputa.

Virgílio Guimarães já é considerado o mais novo rebelde do PT e deverá ser punido por não ter retirado sua candidatura e levado a votação para o segundo turno.

A bancada do PT deve se reunir nos próximos dias para definir qual a punição que será aplicada a Guimarães por ter desobedecido a uma orientação partidária e ter mantido sua candidatura até o final.

Mesa Diretora

Os cargos da Mesa Diretora da Câmara começaram a ser definidos no início da manhã de hoje, logo após a eleição de Cavalcanti.

A Primeira Vice-Presidência será disputada amanhã em segundo turno entre os deputados José Thomaz Nonô (PFL-AL), que teve 194 votos, e César Bandeira (PFL-MA), com 193. A votação decisiva deverá ocorrer amanhã.

Já o segundo vice-presidente está definido. Será o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), que teve 384 votos.

Também já estão eleitos primeiro secretário, deputado Inocêncio Oliveira (PMDB-PE), com 257 votos; o segundo secretário, deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), que teve 416 votos; e o terceiro secretário, deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO), com 407 votos.

Amanhã também haverá segundo turno na eleição do quarto secretário, que será disputada entre Edmar Moreira (PL-MG), que teve 239 votos, e João Caldas (PL-AL), com 228 votos

Por último, foram eleitos suplentes de secretário os deputados Givaldo Carimbão (PSB-AL), com 359 votos; Jorge Alberto (PMDB-SE), com 356; Geraldo Resende (PPS-MS), com 322; e Mário Heringer (PDT-MG), com 307.

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