Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/02/2005 - 09h10

Fome mata mais uma criança índia em MS

Publicidade

HUDSON CORRÊA
da Agência Folha, em Campo Grande

A desnutrição causou a morte de mais uma criança índia da etnia caiuá em Dourados (218 km de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul). "A desnutrição levou à diarréia e à desidratação, e a criança morreu", afirmou ontem o médico Zélik Trajber, 58, que presta serviço de assistência na aldeia para a Funasa (Fundação Nacional de Saúde).

A menina Kelly Fernandes, que tinha seis meses e 15 dias de vida, morreu no sábado pela manhã no Hospital da Mulher localizado na cidade, mas a morte só foi confirmada ontem pela Funasa. O bebê estava internado havia nove dias.

É o terceiro caso de morte por desnutrição neste ano nas aldeias de Dourados.

As outras vítimas foram uma menina de três anos e 11 meses, em fevereiro, e um bebê de oito meses em janeiro. Os dois também eram caiuás. Em 2004, ocorreram 15 mortes devido à fome nas aldeias do sul do Estado.

O médico Helder Lúcio Ganacin, 33, também da Funasa, e Trajber informaram que no atestado de óbito constará como causa da morte desidratação e diarréia. Ganacin e Trajber disseram que a desnutrição tornou a criança mais vulnerável às doenças, porém não aparecerá como motivo da morte.

No atestado de óbito das outras duas crianças que morreram neste ano a desnutrição aparece como causa direta.

Kelly Fernandes morava na aldeia Bororó ao lado de um posto de saúde. Ela era sobrinha do capitão (líder indígena máximo) Luciano Arévolo.

"A família resistia para internar a criança. Apesar de serem pessoas esclarecidas. Não entendi isso", afirmou o vice-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, o índio terena Fernando da Silva Souza, 37.

Segundo ele, com muita dificuldade os agentes de saúde conseguiram convencer os pais a internar a criança.

O capitão da aldeia de Caarapó, Sílvio Paulo, 45, afirma que, na cultura indígena, os pais costumam chamar diarréia em crianças de "kuaia virado", doença curada pelos líderes religiosos que no tratamento batem nos pés das crianças durante rituais.

Paulo disse que é preciso conversar com as famílias para convencê-las a levar os bebês doentes ao médico.

Ganacin e Trajber preferem não comentar esses aspectos da cultura dos guaranis e caiuás. A Funasa tem dados sobre a fome.

Mortalidade infantil

Em Dourados vivem 11 mil índios das etnias guarani, caiuá e terena, em uma área onde deveriam estar no máximo 200 famílias. Falta terra para plantar.

Segundo a Funasa, na reserva indígena de Dourados 12% dos índios menores de cinco anos de idade, ou 232 crianças, estão desnutridas, e 19% (357) vivem em risco nutricional, ou seja, abaixo do peso considerado normal.

Em 2004, o índice de mortalidade infantil aumentou 15% nas aldeias de Dourados, passando a 64,33 por mil nascidos vivos. A média brasileira é, segundo o Ministério da Saúde, de 24 por mil.

A situação em Dourados é, contudo, menos grave que nas aldeias dos guaranis e caiuás, localizadas mais ao sul do Estado.

Em Amambai, 331 (19% da aldeia) crianças estão desnutridas, e outras 306 (18%), em risco nutricional. A mortalidade infantil chegou a 96,47 por mil nascidos vivos. Em Tacuru, a mortalidade triplicou, indo a 94,34.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a morte de índios
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página