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24/04/2005 - 09h01

Doleiro investigado por CPI tinha sociedade com Jucá

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RUBENS VALENTE
da Folha de S. Paulo, em Brasília

A CPI do Banestado quebrou em 2003 os sigilos bancário, telefônico e fiscal do maior doleiro de Roraima, Pedro José de Lima Reis, 57, que teve relacionamento político e empresarial com o ministro da Previdência Social, Romero Jucá (PMDB-RR), e família.

Reis foi o maior doador da campanha de Jucá ao Senado em 2002, com R$ 100 mil entregues por três empresas diferentes no mesmo dia, 12 de agosto --o Hotel Aipana, o Supermercado Butekão e a Cecon Engenharia. O doleiro, cuja casa de câmbio Lyne Tur Viagens funciona em Boa Vista (RR), também foi suplente de Jucá no mandato anterior, até 2002.

O vínculo entre ambos se estende aos negócios particulares. Documentos registrados na Junta Comercial de Roraima, aos quais a Folha teve acesso, revelam que Reis foi sócio, em 2003, da empresa de Brasília registrada em nome de quatro filhos de Jucá, a Societat Participações Ltda. Apesar de muito jovens (o mais velho tinha, na época, 21 anos), eles entraram com R$ 480 mil na sociedade.

O valor está registrado no contrato, mas a assessoria de Jucá negou que os filhos tenham desembolsado valores. A Societat, por meio de uma outra empresa, chamada Uyrapuru Comunicações, administra e gera as imagens da TV Caburaí, afiliada da Rede Bandeirantes em Boa Vista.

A quebra do sigilo de Reis foi pedida na CPI do Banestado pelo relator da comissão, o deputado federal José Mentor (PT). A CPI foi criada para investigar a remessa de recursos para o exterior.

Também foram quebrados os sigilos de nove empresas de Reis, incluindo as que doaram a Jucá.

Os motivos que levaram o relator a investigar Reis e suas empresas não foram detalhados por escrito na comissão. "O critério foi: todos aqueles que tinham conta ou subconta na Beacon Hill e no Banestado e que nós tínhamos informações suspeitas de operações no mercado paralelo", disse Mentor à reportagem na última sexta.

Fechada em 2003 por autoridades norte-americanas, a empresa de fachada Beacon Hill Service Corporation é considerada pela Promotoria nova-iorquina a maior lavanderia de dinheiro brasileiro em Nova York.

Operações deram origem à Operação Farol da Colina, que no fim de 2004 levou à prisão mais de 60 pessoas.

Mentor disse que não poderia comentar, por causa do sigilo bancário, o que foi encontrado a respeito de Reis a partir da quebra do sigilo dele e de suas empresas. Acrescentou, contudo, que as informações são compartilhadas com a Polícia Federal, que poderia abrir investigações próprias.

As digitais do doleiro estão por toda parte nas bases de dados da CPI: seu nome aparece em remessas do Brasil para o Banestado nos EUA por meio da "offshore" Blue Carbo, controlada pelo doleiro do Ceará Alexander Ferreira Gomes, consta da relação de operações da Beacon Hill e das movimentações do MTB Bank de Nova York.

Em síntese, operações ditas suspeitas pela CPI consistem em movimentar, enviar ou receber recursos por empresas de contas abertas em nome de "offshores" (sediadas em paraísos fiscais, de donos desconhecidos), as quais o Banco Central não controlava.

Reis enviou do Brasil ou movimentou no exterior pelo menos US$ 307,9 mil. Em 18 de setembro de 2002, consta o envio para seu próprio nome, por meio de terceiros, de US$ 40 mil em subcontas da Beacon Hill. Em cinco operações no MTB, Reis recebe recursos de três empresas "offshore".

O negócio entre Reis e a família Jucá durou apenas sete meses, de 15 de maio a 1º de dezembro de 2003. A sede da Societat, no edifício Office Tower de Brasília, não passa de duas salas de escritório fechadas há mais de dois anos.

Segundo os vizinhos de andar, ninguém aparece lá para trabalhar, com exceção de uma pessoa que recolhe a correspondência e paga as taxas do prédio.

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