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31/07/2005 - 09h41

Berzoini culpa Delúbio e Genoino pela crise

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LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo

Deputado federal pelo segundo mandato consecutivo, ex-ministro da Previdência e do Trabalho, Ricardo Berzoini, 45, foi escolhido para substituir Silvio Pereira como secretário-geral do PT para recuperar a imagem do partido.

Para Berzoini, o maior culpado pelos problemas vividos pelo PT é o ex-tesoureiro Delúbio Soares. O excesso de poder concentrado nas mãos de Delúbio tornou o "partido refém de uma onda de erros e decisões irresponsáveis", afirma.

Ele não isenta também o ex-presidente da legenda José Genoino, que assinou empréstimos tomados pelo PT nos bancos Rural e BMG, em que o publicitário Marcos Valério foi avalista. Para Berzoini, no mínimo, Genoino "se omitiu de suas responsabilidades" por não ter informado os demais integrantes da direção do partido sobre as operações.

Apesar de reconhecer a gravidade da situação, o deputado acredita que o PT vai superar a crise e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem grandes chances de se reeleger em 2006. Em sua opinião, parlamentares do PFL e do PSDB que hoje falam em impeachment do presidente Lula estão "no limite do golpismo".

Folha - O que ocorreu com o PT?

Ricardo Berzoini - Eu acho que houve um excesso de concentração de poder e falta de um sistema básico de gerenciamento de riscos. Todo partido corre riscos políticos e administrativos. Um partido que cresce rapidamente como o PT, que chega ao governo federal, precisa administrar um complexo sistemas de alianças políticas com outros partidos. O PT cresceu sem se dar conta da necessidade de um gerenciamento de riscos que evitasse, por exemplo, que o tesoureiro tivesse essa concentração de responsabilidades que acabou tornando o partido refém de uma onda de erros e decisões irresponsáveis.

Folha - O poder subiu à cabeça dos dirigentes do partido?

Berzoini - Acho que o PT mudou de padrão. Passou a ter uma estratégia de gastos dissociada da realidade partidária. Isso se revela, por exemplo, no leasing de computadores, no processo de crescimento do número de funcionários, da frota de carros, da sede de Brasília. Sem falar nessas negociações não contabilizadas que hoje são reveladas ao país e que colocam o PT em situação constrangedora.

Folha - É possível responsabilizar só Delúbio por tudo o que ocorreu?

Berzoini - Eu disse na semana anterior à saída do companheiro Genoino, pessoa pela qual tenho o maior apreço, que tendo assinado uma operação de crédito daquele montante sem compartilhar a informação com a Executiva do partido, ele teria, no mínimo, se omitido de suas responsabilidades. Ninguém está colocando em questão sua trajetória, seu desempenho brilhante como parlamentar. Mas, evidentemente, quem assume a presidência de um partido como o PT tem responsabilidades. Acho que toda a direção errou, porque, de certa forma, foi complacente com o comportamento de alguns membros da Executiva. Para mim, é impensável que alguns dos dirigentes do partido se deslocassem em carros blindados, salvo se houvesse ameaça, o que deveria ser levado ao conhecimento do partido.

Folha - Como o sr. avalia essa movimentação financeira das empresas de Marcos Valério ligada ao PT?

Berzoini - As contas do PT não têm dinheiro do Marcos Valério. Com exceção daquelas duas operações de crédito com os bancos, não detectamos nenhum tipo de integração, o que é preocupante. Quem faz algo que não pode passar pelas contas do partido está fazendo algo que não pretende revelar. Parece-me que houve algum tipo de negociação para o pagamento a parlamentares e a outras pessoas com vínculos políticos. Se esse pagamento é para quitar dívidas de campanhas ou se envolveu algum tipo de benefício pessoal, só a CPI pode apurar.

Folha - Ou seja, no mínimo, houve financiamento de campanha por meio de caixa dois?

Berzoini - Isso está claro, a CPI já apurou que houve movimentação [financeira] muito estranha. Quando há revelações pelo tesoureiro e pelo Marcos Valério de que havia dinheiro não contabilizado de campanha, evidentemente está claro que, no mínimo, isso ocorreu. Outro tipo de movimentação, com certeza, é mais grave porque, mesmo sem "mensalão", pode dar margem ao entendimento de que houve aquisição de opinião.

Folha - Por que o PT chegou ao Marcos Valério?

Berzoini - O PT não chegou, o Delúbio chegou. Através do Delúbio, outras pessoas se relacionaram.

Folha - Parlamentares que receberam recursos de caixa dois devem prestar esclarecimentos?

Berzoini - É preciso responsabilizar proporcionalmente à irregularidade. Um parlamentar que foi pessoalmente ou mandou alguém buscar recursos não contabilizados para pagar dívidas de campanha não deve ser tratado da mesma maneira que uma pessoa que tenha organizado esse esquema, desde que tenha como comprovar ou convencer as instâncias da Casa que de fato o dinheiro foi gasto com dívidas de campanha.

Folha - O PT vai tomar medidas contra esses parlamentares?

Berzoini - Esse assunto depende fundamentalmente da Comissão de Ética do partido. Mas diria que alguma sanção pode ser tomada, mas tem de ser proporcional. Por exemplo, o deputado Paulo Rocha (PA) explicou de maneira cristalina seu procedimento. Sou solidário ao deputado.

Folha - Como esse episódio vai afetar o desempenho dos candidatos do PT nas eleições de 2006?

Berzoini - Vai depender muito de como o partido sairá da crise. O PT já demonstrou, em outros momentos, uma capacidade de recuperação muito grande.

Folha - Mas essa é a mais grave crise já enfrentada pelo partido.

Berzoini - Sem dúvida, não estou querendo minimizar a crise, não há como negar que a imagem do partido sofre um ataque muito grande. Mas vamos trabalhar para fazer desse episódio um aprendizado coletivo do partido e da sociedade para chegar em 2006 com condições competitivas tanto para a reeleição do presidente quanto nos governos estaduais e para eleger boas bancadas.

Folha - O sr. teme redução da bancada no Congresso?

Berzoini - Acho prematuro dizer isso, até porque as apurações estão mostrando que esse não é um episódio do PT, atinge políticos do PSDB, PP, PL, PFL. Não é porque num determinado partido havia um cidadão vinculado ao tráfico de drogas que nós vamos acusar esse partido de ser uma quadrilha de traficantes.

Folha - O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), disse que não se pode afastar a possibilidade de impeachment do Lula.

Berzoini - Acho que há um açodamento, porque ele parte do pressuposto de que o Lula teria responsabilidade por essas decisões do ex-tesoureiro do PT. Isso está muito longe até agora de se configurar, e acredito, sinceramente, que não se verificará.

Folha - Falar em impeachment hoje é uma atitude golpista?

Berzoini - Eu acredito que aqueles que chegam a verbalizar isso estão no limite do golpismo.

Folha - O presidente está frustrado com o partido?

Berzoini - Acho que ele está frustrado com quem errou. Ele não está frustrado com o partido.

Folha - Lula disse que não sabe se vai se candidatar à reeleição. Qual a probabilidade de sua reeleição?

Berzoini - Acho que ele deve se candidatar porque é a liderança mais importante que temos no Brasil no campo democrático popular. As pesquisas de opinião demonstram isso, inclusive que o grau de desgaste do presidente e do partido em decorrência da crise ainda é bastante limitado.

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