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09/08/2005 - 09h54

Sacadores de Duda trabalhavam para doleiro

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JOSÉ MASCHIO
PAULO PEIXOTO
THIAGO GUIMARÃES
LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S.Paulo

Pessoas ligadas ao doleiro Jader Kalid Antônio, dono da Panorama Consultoria Financeira, de Belo Horizonte, fizeram saques em contas das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza e, segundo o próprio Valério, repassaram os recursos a Zilmar Fernandes da Silveira, sócia do publicitário Duda Mendonça.

As retiradas foram feitas pelos policiais Luís Carlos Costa Lara e David Rodrigues Alves e pelo churrasqueiro Francisco Assis de Novaes Santos e totalizaram R$ 6,750 milhões.

A Folha confirmou com diferentes porteiros do edifício onde funciona a Panorama Consultoria Financeira, na rua professor Magalhães Drumond, 15, no bairro Santo Antônio (região central de Belo Horizonte), que Lara, Alves e Novaes trabalhavam para Kalid Antônio, o dono da consultoria.

Em entrevista ao jornal "O Estado de Minas", o doleiro negou qualquer participação no esquema de pagamentos e afirmou não conhecer os policiais ou Novaes.

Procurado em sua casa, no bairro Sion, Kalid Antônio não foi localizado. A informação dada à reportagem foi que o doleiro e a mulher viajaram e não retornariam a Belo Horizonte nos próximos dias. A Panorama Consultoria Financeira está fechada desde 20 de julho, data do segundo depoimento do policial David Rodrigues Alves à Polícia Civil de Minas Gerais.

Um processo que tramita na Justiça de Minas Gerais desmente a versão de Kalid Antônio de que ele não conhece o churrasqueiro Novaes. Uma ação contra Novaes foi juntada a outro processo, este contra a Unicash Factoring Representações Ltda., empresa de Jader Kalid Antônio que foi fechada em 27 de maio de 2002 e funcionava no mesmo endereço da Panorama Consultoria, criada 9 de julho de 2002. No processo, Novaes --um misto de churrasqueiro, garçom e informante de polícia-- aparece como tesoureiro da Unicash.

O advogado de Novaes Santos, Jair Ferreira de Resende, disse que o churrasqueiro, em depoimento à Polícia Federal, informou que fazia as retiradas no Banco Rural para um policial militar identificado apenas como Geraldo. Segundo o advogado, ele ganhava R$ 80 por retirada "e nunca soube o valor das retiradas ou para quem era".

Lara e Alves sustentaram, em depoimentos à Polícia Civil de Minas Gerais, que o dinheiro retirado era entregue à SMPB e que ganhavam "como seguranças" para fazer os saques.

Valério e Simone Vasconcelos, diretora financeira da SMPB, apontaram como destinatários finais do dinheiro Duda Mendonça, Zilmar Fernandes da Silveira e Antônio Kalil Cury, diretor financeiro da Duda Mendonça Associados. Este último recebia, segundo Valério, repasses por meio do Banco Rural em São Paulo. Os saques totalizaram R$ 15,5 milhões, de acordo com o publicitário mineiro.

Duda Mendonça, que nega ter recebido o dinheiro, é o principal publicitário ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva --fez sua campanha em 2002 e tem contratos com órgãos da administração federal.

Transporte de valores

Num relatório do inquérito da Corregedoria Geral da Polícia Civil, de 16 de dezembro de 2003, assinado pela delegada Margarida Coelho, o churrasqueiro Novaes diz que Jader Kalid Antônio, em razão da amizade que tinha com o detetive Lara, sempre que precisava transportar valores, o chamava para acompanhá-lo nos saques.

O policial Lara é responsável por saques que somaram R$ 600 mil. Os saques de Francisco de Assis Novaes Santos, que totalizaram R$ 1,250 milhão, não aparecem na lista apresentada por Marcos Valério, mas constam da lista do Banco Rural, liberada pela CPI após quebra de sigilo bancário.

O inspetor de polícia David Rodrigues Alves, em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil de Minas Gerais no dia 19 de julho, disse que fazia as retiradas a pedido de "Cristiano Paes" (um sócio de Valério se chama Cristiano Paz) e não soube indicar para quem o dinheiro era entregue. Alves sacou R$ 4,9 milhões.

No dia 20 pela manhã, no entanto, ele prestou novo depoimento à corregedoria e disse ter sido apresentado a Cristiano Paz, presidente da SMPB, pelo doleiro Aroldo Bicalho. Disse ainda que entregava os valores à gerente financeira da SMPB, Geisa Dias, e à diretora financeira, Simone Vasconcelos.

Bicalho foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Farol da Colina, em agosto do ano passado, e sofre ação na Justiça Federal por lavagem de dinheiro.

Advogados de Simone Vasconcelos pediram à CPI dos Correios que o depoimento dela fosse dado em uma sessão secreta. A justificativa dos advogados: eles esperavam mostrar que Alves, em uma eventual acareação, não saberia identificar Simone Vasconcelos, a quem afirma que entregou os R$ 4,9 milhões sacados por ele.

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