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31/03/2010 - 18h46

Leia íntegra do discurso do presidente Lula na cerimônia de posse de novos ministros

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da Folha Online

Leia abaixo íntegra do discurso do presidente Lula na cerimônia de posse de novos ministros

M"eu caro companheiro Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados,
Nossa querida companheira Erenice Guerra, ministra-chefe da Casa Civil,
Meus companheiros Luiz Paulo Barreto, ministro da Justiça; Nelson Jobim, da Defesa; Guido Mantega, da Fazenda; Paulo Passos, dos Transportes; Wagner Rossi, da Agricultura; Fernando Haddad, da Educação; Juca Ferreira, da Cultura; Carlos Gabas, da Previdência - é importante vocês saberem que o Gabas é tão importante que ele trouxe a minha "mãe", de Paris, para participar... Podia ficar em pé, Glória. Ele trouxe a Glória Pires, de Paris, para a posse dele. Imaginem o que é que nós vamos inventar... enfrentar de "nego" metido na Previdência,
A nossa querida Márcia Lopes, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A Marcinha nunca deveria ter saído do Ministério. Saiu, e eu disse que ela ia se arrepender, e ela está de volta.
Nosso querido companheiro Miguel Jorge,
Nosso querido companheiro Márcio Zimmermann,
Nosso querido companheiro Paulo Bernardo. Foi um dos que eu pedi para que não fosse candidato a nada, até porque a mulher dele é, e ia ter uma disputa séria dentro de casa.
Nosso querido companheiro Sérgio Rezende,
Nosso companheiro José Artur Filardi, das Comunicações,
Nossa querida companheira Izabella Teixeira, do Meio Ambiente,
O Orlando Silva foi outro companheiro a quem eu fiz o apelo para que ele não fosse candidato, porque ele tem tarefas mais importantes, afinal de contas, nós vamos ter Copa do Mundo e Olimpíadas pela frente.
Nosso querido companheiro Luiz Barretto, do Turismo,
Nosso querido João Santana, da Integração Nacional,
Nosso querido Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário,
Nosso querido companheiro Marcio Fortes, das Cidades,
Nosso querido companheiro Antônio Lambertucci, interino da Secretaria-Geral da [Presidência da] República,
Nosso companheiro general Jorge Armando Félix, do Gabinete de Segurança Institucional,
Luís Inácio Adams, advogado-geral da União,
Nosso querido companheiro Jorge Hage, do Controle e da Transparência,
Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais,
Franklin Martins, da Comunicação Social,
Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães Neto, da Secretaria de Assuntos Estratégicos,
Eloi Ferreira de Araújo, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial,
Nosso querido Altemir Gregolin, da Pesca e Aquicultura,
Nossa querida companheira Nilcéa Freire, também já transformado em Ministério, Nilcéa, [a Secretaria de Políticas para as] das Mulheres,
Nosso querido Paulo Vannuchi, do Ministério dos Direitos Humanos,
Nosso querido companheiro Pedro Brito, dos Portos,
Nossa querida companheira ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que se despede hoje do governo,
Nosso querido companheiro Alfredo do Nascimento, ministro dos Transportes,
Nosso querido companheiro Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura,
Nosso querido companheiro José Pimentel, da Previdência Social,
Patrus Ananias, do Desenvolvimento [Social] e Combate à Fome,
Edison Lobão, do Ministério de Minas e Energia,
Hélio Costa, das Comunicações,
Carlos Minc, do Meio Ambiente,
Geddel Vieira, da Integração [Nacional],
E Edson Santos, companheiro da Secretaria [de Políticas de Promoção] da Igualdade Racial, Ministério, na verdade, da Igualdade Racial,

Quero cumprimentar os... Esses últimos que eu citei aqui são os companheiros que estão nos deixando, para tristeza nossa, e [para a ] alegria dos que os estão substituindo.
Nossos companheiros senadores aqui presentes, Nosso querido companheiro Jucá, líder do governo no Senado, companheiro Vaccarezza, líder do governo na Câmara, deputados federais, senadores, companheiros familiares

Meus amigos e minhas amigas,

Hoje, por incrível que pareça, é um dia menos triste do que quando a gente tem que tirar um ministro porque a gente quer tirar o ministro. Um dia, quando vocês forem prefeitos, governadores ou presidente da República, vocês vão perceber que o momento mais difícil na vida de um político é o dia em que ele tem que dizer para um companheiro que ele convidou para o governo que ele o está desconvidando. É um momento triste, penoso. Quando a gente convida os companheiros para serem, normalmente é assim - eu estou dizendo isso porque é um dos aprendizados que eu vou levar daqui -, quando você convida alguém para vir aqui, os caras falam: "Olha, Presidente, vou ser leal ao máximo, e quero dizer uma coisa: quando o senhor precisar do meu cargo é só me comunicar, que eu sou um servidor deste país, do povo, eu lhe entrego o cargo." Não acreditem nisso. Não acreditem, porque na hora de tirar é muito difícil, muito. Eu tive casos históricos que um dia, quando estiver perto da extrema-unção, eu posso contar. Antes, não. Mas...

Uma outra coisa importante é que você nunca traga um companheiro que você não pode tirar do governo, porque tem isso. Tem determinadas pessoas que são tão ligadas a você por "n" coisas que, se você trouxer, quando elas te decepcionarem, fica muito difícil você tirar, muito, muito. Agora, isso quando a gente quer tirar. Agora, quando eles querem sair, é assim: todo mundo rindo... Vocês vão ver que na posse de um ministro... que eu espero não mexer com ninguém até o dia 31 de dezembro, mas se eu tiver que tirar alguém porque eu quero tirar, vocês vão perceber que aqui ele não estará sorrindo como estes aqui.

Todos estão deixando o governo na expectativa de construir uma outra história política, uma outra página da sua história. Na verdade, eles estão deixando o sacrifício de ser governo, porque... Eu fiquei 27 anos dentro de uma fábrica e nunca trabalhei como eu trabalho no governo. Quando eu trabalhava na fábrica, eu sabia que eu entrava às 8[h], eu sabia que eu saía às 6[h], e eu sabia que a noite era minha, sabia que o resto do dia era meu. E aqui, não. Aqui você não tem sábado, você não tem domingo, você não tem segunda[-feira], você não tem terça[-feira], é à meia-noite, é a uma hora da manhã, e está cheio de gente desaforada que liga para você depois das onze da noite, que liga no sábado, que liga no domingo, e acha que você tem que atender. Então, eles estão, na verdade, deixando esse sacrifício. Eu tenho certeza de que todos aqui que não tiveram experiência de Executivo ainda, que estiveram no governo, sabem que se trabalha muito mais.

Então, eles estão querendo... alguns estão querendo "procurar sarna para se coçar", estão querendo ser candidato a governos. Outros estão querendo ser candidatos a deputado, a senador. Eu acho extraordinário. Ir para o Senado, Renan, dizem que é uma coisa maravilhosa porque só tem... nem o céu é melhor do que o Senado, porque dizem que no céu a gente tem que morrer para ir, e no [para] o Senado a gente vai vivo.

Então essas pessoas estão felizes por isso. Elas, certamente, estão procurando... Olha o Hélio Costa, o sorriso dele. Ele vai voltar para o Senado. O Geddel vai voltar para a Câmara, o Alfredo vai voltar para o Senado, o Minc vai voltar para a "deputância" dele, o Edson vai voltar para ser deputado, o Lobão vai voltar para ser senador... E assim vai um monte de companheiros retornando ao paraíso, e nós ficamos aqui com a carga de trabalhar por nós e por eles.

Então, é um momento menos sofrido porque é muito difícil perder companheiros que vestiram a camisa do governo, que acreditaram na proposta, que se dedicaram, que trabalharam, e que estão deixando porque têm sonhos, desejos, compromissos partidários, e que eu respeito profundamente a decisão de cada companheiro. Gostaria que todos ficassem até o final do mandato.

Mas, na medida em que eles saíram, eu sou obrigado a fazer alguns reconhecimentos aos companheiros. Montar uma equipe é a arte do sucesso de governar. Isso vale para o futebol --o técnico tem que montar uma equipe--, isso vale para uma orquestra --o maestro tem que escolher os melhores músicos para compor a sua orquestra e treiná-los bastante-- vale para uma redação de jornal, vale na construção da família da gente e vale para a política. Montar uma equipe, educar essa equipe para um determinado tipo de trabalho, não estabelecer uma relação de medo entre o Presidente e os ministérios, mas estabelecer uma relação de confiança e de respeito, que é muito diferente da relação de medo.

E todo mundo que conviveu comigo sabe que eu trato todo mundo em igualdade de condições, que o mesmo presidente que é capaz de dar um grito com um companheiro - sobretudo quando está fazendo regime e que para de comer determinado tipo de coisa -, é o mesmo presidente que tem a humildade de pedir desculpas algumas horas depois. Eu nunca utilizei, junto com eles, a história de que "eu estou determinando, eu estou mandando". Eu normalmente peço, discuto. Porque é gostoso, para a liturgia do cargo, sempre aparecer a ideia de que "o Presidente mandou, o Presidente determinou". Não. Na maioria das vezes nós conversamos, nos colocamos de acordo, e as coisas acontecem sem precisar uma determinação mas, sim, uma construção a dois, a três, a dez. É sempre melhor do que uma construção autoritária, a um sozinho. Então, foi assim que nós trabalhamos.

Então, eu sou agradecido a cada um de vocês. Obviamente que não cabe a um presidente da República ficar aqui tecendo elogios a todo mundo, porque todos são candidatos e daqui a pouco estão todos colocando eu, aqui, na televisão, elogiando eles.

Mas eu sou obrigado a agradecer a cada companheiro. O companheiro Alfredo do Nascimento, eu tenho uma gratidão profunda porque no momento em que era difícil saber se eu ia ganhar as eleições em 2002, ele, lá na capital do estado do Amazonas, assumiu o compromisso de apoiar a minha campanha. Na verdade, ele nem queria vir para o Ministério.

Eu é que fiz questão de trazê-lo para o Ministério, depois de muita insistência, porque um outro companheiro nosso foi ser candidato a prefeito da sua cidade. E eu quero te dizer, Alfredo, que eu sou grato pelo trabalho prestado ao país e ao governo. Certamente, o Ministério dos Transportes deu um salto de qualidade. Certamente, nós multiplicamos por mais de cinco ou seis vezes o dinheiro que o Ministério dos Transportes tinha para ser utilizado, e você e a sua equipe - da qual faz parte o nosso companheiro Paulo Sérgio, que já foi ministro quando você foi candidato ao Senado - trabalharam muito. Então, eu quero dizer do meu reconhecimento aos trabalhados prestados a este país. Muitas vezes, se não fosse o teu jeito de ser, a tua calma, a tua tranquilidade, a paciência que você teve nos momentos difíceis, certamente a gente não teria conseguido fazer tudo o que nós fizemos. Portanto, os meus agradecimentos, querido companheiro Alfredo do Nascimento.

Meu companheiro Pimentel... O Pimentel é um que quando... Para quem não sabe, o Pimentel era deputado federal do Ceará, ex-funcionário do Banco do Brasil. Quando o Marinho deixou a Previdência Social, eu tinha ideia de que eu ia montar o Ministério somente com pessoas que não fossem candidatas a nada, porque eu sabia que ia acontecer isso, eu sabia. A única pessoa que não era candidata, mas teve gente que quis, foi a Dilma. O restante, todo mundo queria ser candidato. Então, eu disse ao Marinho: Marinho, eu quero alguém que não queira ser candidato a nada na eleição. Aí o Marinho vem e me apresenta o Pimentel: "Ah, eu estou cansado de ser deputado, Presidente. Eu não quero ser deputado. Eu vou para o Executivo e..." Aí eu estou percebendo essas coisas... a gente vai ficando matreiro... Uns quatro meses atrás já começou a dizer: "Olha, as bases estão querendo, a militância está querendo, há uma oportunidade. Se a gente trabalhar direito, a gente elege os dois e derrota a oposição". E vai por aí, vai por aí, vai por aí. Eu tentei... Falei: vou pensar.

Vou chamar o Marinho e falar para o Marinho cobrar dele a palavra. Aí eu pensei: não vale a pena. Não vale a pena, porque também eu tenho que agradecer ao companheiro Pimentel. Está certo que o trabalho começou lá atrás, com o Ricardo Berzoini, ainda, no Ministério da Previdência. Depois passou pelo companheiro Marinho e outros, mas uma coisa é importante: é que este Pimentel conseguiu mexer com uma coisa muito séria neste país. Vocês nunca mais viram uma manchete de jornal falando da fila do INSS.

Eu lembro como se fosse hoje, eu estava dando uma entrevista para... acho que uma rádio do Rio de Janeiro --não sei se é a rádio Globo ou a rádio CBN do Rio de Janeiro, uma coisa assim -, ao vivo e eu disse: nós vamos acabar com essa, com essa, com essa fila. O Nelson Machado, que então --estou vendo ele ali agora -, que era o ministro da Previdência... No dia seguinte tem uma manchete: Ministro desautoriza Presidente a falar que acaba com as filas. Aí eu chamei o Nelson, e aí ele disse: "Olha, não acabar com a rapidez que o senhor falou, mas é possível acabar com as filas".

Então, entrou o companheiro Pimentel e me anunciou a primeira grata surpresa... porque eu trabalhei no sindicato nos anos 72 e eu cuidava de aposentadoria, e eu sabia o que era esperar um trabalhador chegar da fábrica, você fazer a contagem dos anos de trabalho dele, às vezes ele não tinha documento. Você tinha... eu não sei se era J.A. ou uma... J.A.?... Era um documento que você tinha que dar como indício de prova para dar entrada no INSS.

Depois o INSS passava três anos para tentar localizar aquilo e não localizava. E às vezes, um trabalhador dava entrada na aposentadoria e levava três anos... Se ele estivesse trabalhando, ele esperava, mas se ele tivesse já sido mandado embora, ele passava três anos sem receber a aposentadoria dele. Era um verdadeiro martírio a gente conquistar uma aposentadoria.

E de repente o Pimentel vem e me comunica: "Presidente, a partir de tal data o senhor pode anunciar que todos os trabalhadores brasileiros, todos da indústria brasileira, daqueles que têm carteira assinada, a partir de tal data ninguém mais vai precisar apresentar nenhum documento ao INSS. Ou seja, nós é que vamos comunicar o cidadão, em casa, que ele completou o seu tempo de serviço, que o salário mensal será de tanto, e que ele pode vir à Previdência receber e, em meia hora, estará quitada a sua previdência". Você quer colírio...

Depois, nós tínhamos um problema sério aqui, sério, muito sério, que eram as filas para as pessoas marcarem especialistas na Previdência Social, sobretudo na perícia médica. Porque era assim: O trabalhador, quando estava doente, ele se afastava. Os primeiros quinze dias eram pagos pela fábrica. É isso, Pimentel? Bem, para que ele retornasse à fábrica, ele tinha que fazer uma perícia médica para saber se ele ia ser enquadrado como beneficiário e receber o benefício, ou se ele ia voltar para a fábrica. Então, o que acontecia? Esse trabalhador, ao tentar marcar a perícia, demorava nove meses, um ano, onze meses. Por quê? Porque não tinha perito. Tinha tido uma greve dos peritos antes de a gente chegar aqui, então acharam melhor acabar com os peritos e terceirizar. Consequentemente, o trabalhador ficava um ano e ganhava até um pouco mais do que ganhava na fábrica. Então, era tudo o que um cara quer. Você imagine, é tudo o que um ser humano quer: ganhar mais sem trabalhar! Então, era assim.

Nós tomamos a decisão de contratar peritos. Contratamos quantos, Pimentel? Cinco mil e duzentos peritos. Depois, a gente é obrigado a ler matéria de que "nós inchamos a máquina"... Porque, na verdade, as pessoas que criticam o inchaço da máquina são as pessoas que preferem que a gente faça o inchaço das filas. E como nós preferimos tratar o cidadão com decência, nós contratamos os peritos. E eu lembro como se fosse hoje. Você pode até ligar de Paris, Nilcéa, "135", que você vai ver que do Oiapoque ao Chuí, você marca hoje uma perícia médica, no máximo, em cinco dias. E o Gabas disse que quer diminuir o Pimentel o máximo, que quer fazer em um dia, dois dias, ou seja, você sabe o que é marcar uma perícia em cinco dias no lugar mais difícil, que é São Paulo, onde tem mais gente? Quantas agências foram inauguradas? Quatrocentas inauguradas e 320 em construção, são mais 720 agências novas que você tem que fazer, se você quiser melhorar o serviço ao público, e aí você tem que contratar mais gente. O computador é ótimo, mas ele não atende as pessoas, ele não fala bom dia para as pessoas, então, nós temos que contratar.

Então eu quero, Pimentel te agradecer pela revolução. E ele ainda me deu outro presente: é que agora já tem mais de quatro milhões e meio de pequenos produtores rurais cadastrados; cinco milhões - já aumentou um milhão - 5 milhões e 119 pequenos produtores cadastrados, pessoas que têm propriedade com menos de quatro módulos, até quatro módulos rurais. E essas pessoas também não vão precisar provar mais documento nenhum, nós é que temos que garantir que essa pessoa tem direito. Então, essa pessoa vai receber agora, porque nós vamos comunicá-lo em casa que ele atingiu o tempo de idade dele e ele vai receber sua aposentadoria por tempo de serviço.

Então, Pimentel, eu não poderia deixar de fazer esse reconhecimento público e dizer que você também só pôde fazer isso porque o Gabas estava do seu lado. Então, eu aproveito, tiro uma cara metade e fica a outra cara metade para dar sequência nos bons serviços prestados à Previdência Social.

Quero agradecer de coração ao companheiro Reinhold Stephanes, que deu uma contribuição extraordinária para nós na Agricultura. Agradeço, inclusive, ao PMDB que, ao indicar o Reinhold Stephanes, indicou um cara que parece que nasceu dentro do Ministério ou, se não nasceu, veio para o Ministério muito cedinho, porque ele conhecia não apenas tudo do Ministério, mas conhecia as pessoas do Ministério. Então, prestou um trabalho importante, deixou alguns trabalhos já em andamento, que o Wagner Rossi, nós vamos discutir. E, sobretudo, uma coisa que é marcante para nós: nós fizemos um acordo que os trabalhadores rurais... os empresários rurais esperavam há mais de 30 anos, junto com o Guido Mantega, eles construíram um acordo da dívida que todo mundo esperava há 30 anos, o que foi uma coisa muito importante. Se reconstituiu uma relação de confiança, porque como a agricultura é cíclica, ou seja, às vezes ela dá dois anos bem, três anos bem, depois ela dá um ano ou dois anos mal. Quando ela está bem é mérito de quem colheu e de quem plantou, é sabedoria do plantador, do cara que vai trocar a sua caminhonete, e tal. Mas quando dá desgraça é o governo que é culpado. Então, nós temos que assumir isso como fato consumado e trabalhar assim mesmo. Também as críticas são cíclicas e os apoios são cíclicos também.

Então... Nesse momento nós estamos num momento bom porque fizemos acordo, estamos resolvendo o problema dos cacaueiros na Bahia, que eu espero que tenha resolvido ontem. A agricultura familiar, nós não fizemos tudo, mas fizemos coisas extraordinárias para a agricultura familiar. Portanto, o caminho está trilhado. E uma coisa importante que foi a boa combinação entre o Reinhold Stephanes e o Guilherme Cassel. Uma coisa importante que o Reinhold pegou nesse período e que nós vamos concluir agora, graças à compreensão da Petrobras, que há cinco anos estamos falando que a Petrobras precisa entrar na área de fertilizantes, sobretudo nos nitrogenados, que é a ureia, que o Brasil importa muito para produzir. Agora que a gente tem gás... porque três anos atrás a gente dizia que não tinha gás, mas com o Plangás, que nós criamos, nós já temos gás. Portanto, a Petrobras já tomou a decisão de fazer a fábrica de ureia em Três Lagoas e a fábrica de amônia em Uberaba. Nós conseguimos dar um jeitinho político de atender os dois lados.

E tem todo o projeto de fertilizantes que o Reinhold deixou. Ontem, nós... já está na Casa Civil para a gente trabalhar como é que a gente vai encaminhar. Porque nós vamos chamar a Vale do Rio Doce e a Petrobras juntas, e as duas, na questão de fertilizantes, têm que ser parceiras, porque nós não podemos continuar comprometendo a nossa agricultura a ficar dependendo de fertilizantes que a gente importa de duas ou três multinacionais. Portanto, quem achar ruim, quem achar que isso é o Estado se meter... O Estado não vai se meter, mas o Estado vai induzir as nossas boas empresas a produzirem o oxigênio que falta para a nossa agricultura ser mais competitiva e melhor. Portanto, obrigado, Reinhold Stephanes, pela sua participação.

Companheiro Carlos Minc! Companheiro Carlos Minc, esta figura... a menos polêmica de todos os companheiros que eu tenho, o que gosta menos de falar com a imprensa, o que se veste mais discretamente. É um companheiro... Primeiro, é um companheiro de partido, de muitos anos. É um companheiro... e muitas vezes o Minc é criticado pelas coisas boas que faz e não pelas coisas ruins. Normalmente, acontece um pouco isso no Brasil. Quando você não fala a linguagem da supremacia da elite dominante, você é criticado pelas coisas boas que você faz. E a verdade é que o Minc, ele deu uma certa robustez ao papel do Ministério do Meio Ambiente, ou seja, não é um Ministério de contestação às políticas do governo, mas é um Ministério que trabalha para que o governo faça as coisas certas porque é melhor para o país, é melhor para o meio ambiente, é melhor para o povo. E o Minc prestou serviços enormes. Muitas divergências... não pensem que é fácil trabalhar com o Minc, é muita divergência, mas, também, muita lealdade.

Então, eu quero fazer esse reconhecimento público aqui, do trabalho que ele prestou, e o último trabalho que nós poderemos ter em conta foi a hidrelétrica de Belo Monte que nós, finalmente, vamos poder começar a trabalhar e fazer os leilões para que o Brasil ofereça ao seu povo e aos investidores energia com fartura e energia mais barata para o povo brasileiro. Portanto, muito obrigado. E deixa a companheira Izabella que, certamente, será melhor do que ele, certamente será melhor do que ele.

O nosso companheiro Edson. O Edson, eu quero te agradecer, Edson, pela... eu diria quase pela construção da unidade do movimento negro no Brasil. Nós sabemos das divergências que existem nos mais diferentes movimentos espalhados por esse país afora. Nós sabemos que foi a sua atuação que conseguiu construir uma perspectiva no movimento, de a gente ter, embora com divergência, um pensamento único, com o Estatuto da Igualdade Racial. E eu acho que tem alguns problemas no Senado, que nós vamos ter que resolver mas, certamente, o Estatuto tem que ser aprovado, e eu acho que esse trabalho que você fez foi muito importante.

E você deixa, Edson, no seu lugar, o companheiro Queiroz... Elói. Então, eu quero, Edson, dizer para você dos meus agradecimentos. Lamentando que você não tenha me entregue a ponte de Ivaporunduva. A ponte do Ivaporunduva... Eu, em 93, eu vou contar essa história porque é uma das coisas que eu falo sempre, da burocracia.

Em 93, eu fiz a caravana da cidadania para o Vale do Ribeira. E eis que eu fui visitar um quilombo lá, em Ivaporunduva. É assim, não é? Em uma cidadezinha de Registro, uma vila lá. E eu via os garotos pegando uma canoa para ir para a escola. Como a caravana previa a elaboração de um projeto de desenvolvimento para o Vale do Ribeira, eu fiz o projeto do Vale do Ribeira e fui entregar em 94 ao Mário Covas, que tinha sido eleito governador do estado de São Paulo. E eu dizia para o Mário Covas: "Olha, se for necessário fazer pelo menos uma... Sabe aquela ponte que o Tarzan carregava a Jane nas costas e a Chita vinha atrás correndo? Se for preciso fazer uma daquelas, para nós está bom, atravessa ali segurando nas cordas, mas é mais seguro do que uma criança pegar uma canoa para ir para a escola".
Bem, eu sei que, em 2003, eu assumi a Presidência, não estava feita a minha ponte. Eu falei: "Agora eu faço". Matilde foi escolhida para a Secretaria da Igualdade, eu tinha pedido para as empresas Usiminas e Vale do Rio Doce, que iam fazer a ponte do rio Jequitinhonha lá em Minas Gerais - que cidade que era, Patrus? Itinga, Itinga - uma ponte grande... Você acredita que eu já inaugurei a ponte de Itinga e a nossa de Ivaporunduva ainda não consegui inaugurar. Então, eu falei com o General de Exército, para você saber que eu falei, pedi até a interferência do Jobim para falar com o homem que dá licença lá em São Paulo, que é o Xico Graziano, para liberar, porque faltam 400 metros para liberar. A ponte está pronta, falta só o acesso ao quilombo. E eu não posso deixar o meu governo sem inaugurar essa ponte do quilombo de Ivaporunduva.

Elói, portanto você sabe que você tem o trabalho de acompanhar... Eu pedi para o general Enzo conversar com o pessoal que está fazendo para concluir, porque não é possível uma pequena ponte demorar tantos anos para construir. Então, Edson, muito obrigado por tudo, querido.

Companheiro Patrus Ananias, eu acho que muita gente conhece o Patrus como prefeito de Belo Horizonte, o Patrus deputado federal, o Patrus companheiro, o Patrus da PUC de Minas Gerais, mas o Patrus conseguiu notabilizar o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Acho que a paciência dele, em momentos de duras críticas a que o Ministério foi submetido, e críticas contundentes, de setores que jogam fora, por dia, mais comida do que essa gente come em uma semana. E tem uma parcela da hipocrisia neste país, que acha que cuidar de pobre é desperdício, quando, na verdade, cuidar dos pobres significa a gente elevar o padrão da classe média brasileira; significa elevar o padrão de escolaridade; significa elevar o padrão de nutrição das crianças; significa a gente elevar o padrão de cidadania das pessoas. Porque tem gente que acha que a sociedade tem que ter o seguinte: se 30% estiver bem, está bem. O resto pode ficar tratado como se fosse de terceira categoria. Não é verdade. A coisa mais fácil - e isso vai fazer parte do meu discurso até o dia da morte -, a coisa mais fácil para um prefeito, para um governador e para um presidente da República é cuidar dos pobres. Não tem nada mais barato do que cuidar dos pobres. Não tem nada mais barato. E eu acho que nós fizemos muito, se comparado ao que era feito, mas fizemos pouco, se comparado ao que precisamos fazer. E que, portanto, nós vamos ter que fazer muito, e muito mais. Muito e muito mais. Nós apenas estamos começando essa caminhada. E, portanto, Patrus, eu quero te agradecer o trabalho, acho que é uma experiência extraordinária, e quero dizer para quem quiser ouvir, e até para quem não gosta do governo: se tem política social neste país, ela é feita pelo governo federal, em qualquer estado, em qualquer município.

O Luz para Todos, que eu considero uma transferência de renda, porque o Luz para Todos é você trazer uma pessoa do século XVIII para o século XX, apertando um botãozinho... Os cálculos que o IBGE tinha publicado, em 2003, era que nós tínhamos 2 milhões de pessoas... 2 milhões de ligações a fazer. A Dilma ainda era ministra do Meio Ambiente [de Minas e Energia], nós começamos a fazer esse... a Dilma ainda era ministra da Minas e Energia, nós começamos a fazer o programa Luz para Todos. Quando nós concluímos os 2 milhões, nós descobrimos que não eram os 2 milhões só do IBGE, que tinha mais 975 mil ligações a serem feitas. Assumimos o compromisso de fazer e, quando nós pensávamos que íamos acabar, surgiram mais 495 números a fazer. Ou seja, é quase que uma coisa que quanto mais a gente adentra - Samuel, escuta o adentra... Quanto mais a gente adentra às entranhas deste país, a gente vai descobrindo o quanto de brasileiros tinha sido esquecido até pelo nosso querido IBGE, ou seja, pessoas que não estavam na contabilidade, na matemática deste país. Então, quando os meninos vão a campo... e as empresas, também, que têm responsabilidade de fazer... as nossas empresas vão ter que assumir compromisso. Agora, o que é engraçado? Muitos estados nem pagaram a parte deles, que é apenas 20%. É 80% da União e 20% dos estados. Muitos estados não conseguiram pagar a parte deles. Nós fizemos a nossa e a deles. E esse Programa é um programa ligado ao Bolsa Família, mas é uma genialidade que veio do Ministério da Integração, e eu quero transferir os elogios do Patrus para o companheiro Lobão, porque foi um trabalho extraordinário esse programa Luz para Todos.

Eu penso que hoje a gente pode olhar para o Brasil, Lobão, e dizer o seguinte: "Olha, o Brasil está tranquilizado do ponto de vista energético". Ai, quanta, quanta, quanta... Quantas aves de mau agouro torceram para que faltasse energia neste país! Quantas, você sabe, para mostrar que no nosso governo ia ter o mesmo apagão que teve em 2001, e nós vamos terminar o nosso governo sem ter o tão sonhado apagão dos meus adversários. Isso foi uma alegria. E, daqui para frente, nós vamos deixar uma quantidade de projetos que quem governar este país vai ter muito mais facilidade do que nós tivemos. E eu quero dizer, Lobão, que você foi uma grata surpresa. Quero dizer... fazer um reconhecimento público, porque quando os companheiros do PMDB vieram dizer do Lobão, eu falei: pô, mas o Lobão, aquele que era do PFL? Eu vou ter que ter ele aqui? E hoje eu quero de público, Lobão, de público, dizer que foi um orgulho para mim, orgulho, ter você como ministro de Minas e Energia no meu governo, sabe? Pelo alto grau de companheirismo, sem abrir mão das convicções, o Lobão é um homem de fino trato, que gosta de bons vinhos, embora nunca tenha me pagado um almoço, nem um jantar. Está devendo. Eu espero que como candidato a alguma coisa, o seu coração esteja mais leve e seu bolso mais aberto para você poder pagar o tão sonhado vinho e o almoço que você prometeu durante tanto tempo. Se não no Ministério, em um bom restaurante aqui em Brasília.

Bem, nosso companheiro Hélio Costa... Eu acho que o Hélio Costa teve uma coisa extremamente importante, além da credibilidade, do jornalista renomado que é, do cara que... Eu, toda vez que vejo o Hélio, eu ainda o vejo em Nova York, falando para o Fantástico. Agora, uma coisa extraordinária que nós, que o Brasil vai dizer... O Hélio Costa, obviamente que sempre com o trabalho conjunto da Casa Civil, é a implantação da nossa TV digital. Parecia impossível que o Brasil iria ter um modelo de TV digital chamado nipo-brasileiro. E foi um desafio que nós fizemos, que quando nós fomos atrás e provocamos as universidades brasileiras, 27 universidades deram resposta competente e produziram para nós algo de japonês ficar com inveja, tal era a competência.

Hoje, nós já temos Brasil, Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Equador, Costa Rica. Faltam Colômbia, Uruguai e Paraguai adotar o sistema, aí nós poderemos até nos orgulhar de dizer que temos um sistema digital da América do Sul. Chiquérrimo. Porque antes só podia ter Estados Unidos, só podia ter Europa e a China, que o pessoal dizia que o da China tinha problemas. Então, nós estamos com um modelo e devemos isso ao trabalho e à crença do nosso companheiro Hélio Costa, sempre com o apoio da Casa Civil.

E também os telecentros montados pelo interior afora e nas escolas do interior. Ou seja, certamente quem fica em uma sala com ar-condicionado e não visita o país não vai entender as coisas que eu estou falando. Porque, de vez em quando, eu fico vendo que eu... Embora pareça que eu não leio, eu leio muito o jornal, viu Arlindo? E eu fico vendo as minhas coisas que dizem e eu fico me deleitando com a distância entre o que eu vi e o que está escrito. E aí eu vou contar a minha história de Ibiúna, porque essa todo mundo vai ter que aprender. Eu estava em uma padaria em Ibiúna e eu parei para comprar pão. E parei para comprar pão e o caixa estava na minha frente, olhando, e fez assim: "Você parece com o Lula". Você sabe que eu não era candidato a Presidente ainda, mas todo mundo que é público, dirigente sindical, quando alguém reconhece a gente na rua é o máximo do máximo. Não tem nada pior para um político do que abrir as portas e ninguém conhecer ele. Então, já estava... Eu vou...

Acho que todo mundo aqui sabe o seguinte: eu... tem hora que eu estou no avião, quando alguém começa a falar bem de mim, o meu ego vai crescendo, crescendo, crescendo... Tem hora que eu ocupo, sozinho, três bancos - o ego. Então, nesse caso da padaria, a minha cara já não cabia mais naquele buraquinho do caixa. Até já tinha... E aí aparece um cidadão atrás de mim e fala o seguinte: "Ele não é o Lula, não. Eu conheço o Lula, conheço o Lula, da Vila Euclides. O Lula é mais alto e mais moreno". Eu fiquei pensando: o cara me reconhece e vem um cara aqui, que eu nunca vi, dizer... Peguei meu documento, a identidade, e falei: companheiro, eu sou o Lula, olha aqui. Ele olhou, pediu para ver meus dedos, eu mostrei. Aí ele falou: "É. É, mas não parece". Então, eu... Eu fico me deleitando, Franklin Martins, porque as pessoas fazem um esforço muito grande, porque as pessoas sabem que é, as pessoas sabem que esse governo é bom, as pessoas sabem que esse governo cuidou de coisas que outros não cuidaram, as pessoas sabem que o Brasil mudou de patamar, elas sabem porque elas lêem jornal estrangeiro. Porque, antigamente, eles copiavam quando falavam mal de nós. "Deu no New York Times, o Brasil não vai para frente". Agora que deu no New York Times que o Brasil vai para frente, não querem nem dar notícia. Eles sabem, mas eles fingem que não aparece. Então, vamos levando a vida, vamos levando a vida.

Faltam nove meses para terminar o mandato, eu tenho que trabalhar que nem um "desgraçado" ainda, e quem quiser me derrotar vai ter que trabalhar mais do que eu. Vai ter que trabalhar mais do que eu. Quem quiser... quem quiser dormir até às 10, quem quiser achar que tem que fazer relação com um formador de opinião pública e vai me derrotar, vai ter que botar o pé no barro, vai ter que viajar este país, vai ter que correr. Porque as pessoas têm que aprender que este país não aceita mais ser tratado como se fosse um país de segunda classe! O povo brasileiro não é um povo menor! O povo brasileiro está aprendendo a ter orgulho. Houve um tempo que neste país cerveja de qualquer lugar, mesmo que fosse das ilhas Seychelles, tinha mais valor do que a nossa. "É brasileiro, não presta". Não era assim que falava? Este país está aprendendo a gostar de si próprio. Este país está...
Eu acho engraçado, porque eu fui a Israel, não estava nem na minha agenda, nem os israelenses pediram para eu visitar o túmulo do criador do sionismo, mas nem os israelenses pediram. Alguns jornais aqui no Brasil ficaram incomodados porque eu não quis ir visitar uma coisa que nem Israel queria. E ainda diziam: "O que o Lula está se metendo, o que ele pensa que é? Discutir crise internacional... Se coloca no seu lugar, baixinho!" Eu sou baixinho, mas o povo brasileiro não é. O povo brasileiro é muito grande! E nós não aceitamos supremacia de uma nação sobre a outra. Não aceitamos supremacia dos que têm dinheiro contra os que não têm dinheiro. Não aceitamos a supremacia daqueles que acham, em uma outra geopolítica, daqueles que acham que eles são donos das decisões mundiais. É por isso que este país tem brigado de forma intransigente há quinze anos - não é apenas no meu governo, não - para que a gente consiga mudar as Nações Unidas. As Nações Unidas precisam representar o mundo de 2021 e não o mundo da década de 40. Nós queremos mais países. Nós queremos que tenha senso de decisão.

E eu estou convencido - companheiros ministros e companheiros da imprensa - de que o conflito de Israel não é apenas uma coisa quando um quer ou quando o outro quer.

A ONU criou o Estado de Israel e ela tem que ter força para criar o Estado palestino, e para fazer com que haja a paz entre os dois. Ninguém mais, ninguém mais discute a supremacia de um sobre o outro. Ninguém mais discute porque tem que negar um para criar o outro. Todo mundo - judeus e palestinos - já sabe que precisa dos dois Estados. Agora, aquilo não é um clube de amigos. "Ah, porque os Estados, não é sempre que podem fazer a paz, se pudesse já tinham feito". Eu já vi tanto presidente americano apertando a mão de presidente judeu e palestino, e não fez. A Europa vai fazer também, não faz. Ali, é preciso saber o seguinte: a paz só vai acontecer quando os que estão em guerra quiserem. É preciso colocar todo mundo em uma mesa de negociação: quem está conversando com o Hamas, quem está conversando com o Hezbollah, quem está conversando com a Síria, quem está conversando com o Irã? Como é que você vai construir a paz, se tem pessoas envolvidas no conflito que estão de fora? Já são considerados como bandidos e não se conversam.
Então, o Brasil, pelo seu jeito de ser, um país pacífico, tranquilo, sou amigo de todo mundo, da mesma forma que eu abraço o Obama, eu abraço o Chávez. Da mesma forma que eu cumprimento o Sarkozy, eu cumprimento o Ahmadinejad, cumprimento o rei Abdullah, cumprimento o... Não tem problema, um chefe de Estado não escolhe amizades, um chefe de Estado se relaciona com outro chefe de Estado. E discute interesses, não é questão de amizade pessoal. E tem gente, e tem gente que se incomoda: "Nossa, que baixinho metido. Será que esse Brasil não se enxerga, fazendo coisas que só os outros sabiam fazer?". Quem é que disse que eles sabem mais do que nós?

Então, companheiros, eu acho que a nossa vida é assim, e eu entro na vida do nosso companheiro Geddel. O Geddel, um companheiro, todo mundo sabe que o Geddel fez oposição a mim durante quatro anos, no primeiro mandato, todo mundo sabe. E, para minha surpresa, o Geddel é trazido às minhas mãos pelo Jaques Wagner, que tinha acabado de fazer uma aliança com ele para ganhar a Bahia em 2006. E eu quero te dizer, Geddel, que apesar das divergências entre você e o Wagner, eu, sinceramente, não gostaria que tivessem essas divergências. Se vocês dois me obedecessem, não teria. Mas o desejo de cada um é o desejo de cada um, a gente não pode evitar. Mas eu quero dizer que eu sou grato pelo seu trabalho no Ministério da Integração. Sou grato porque você, tinhoso do jeito que você é, brigão do jeito que você é, você foi um cumpridor de tarefas extraordinário, e isso eu tenho ouvido não apenas da minha boca, que viajo com você, mas da companheira Dilma, que conviveu contigo e coordenou... E eu disse ao Geddel outro dia: é uma pena que você deixe o governo. Você poderia continuar no governo, que seria melhor, pela grandeza do seu trabalho. Eu acho que o Temer deveria pegar os deputados aqui de todos os partidos e levar para ver algumas obras que estão acontecendo no Nordeste brasileiro, para saber o que está acontecendo no Nordeste brasileiro. O canal da integração é uma obra em que vocês vão perceber porque D. Pedro II queria fazer essa obra em 1847. E uma parte dela já vai estar pronta, mas eu espero que até 2012 a gente conclua ela inteira. Então, Geddel, meus agradecimentos por todo o seu trabalho nesses três anos e meio de governo.

Por último, a nossa querida Dilma Rousseff. Eu não deixei a Dilma por último porque ela é a única mulher que vai sair. Eu deixei a Dilma por último porque a Dilma é parte integrante do sucesso de tudo que esses "meninos" fizeram de bom, tudo.
Porque vocês passaram a vida inteira de vocês dizendo o que vocês achavam, dando palpite na vida dos outros, fazendo oposição, vocês agora vão ter que trabalhar com o legado que vocês construíram. O Hélio Costa, o Geddel, o Reinhold Stephanes, o Alfredo, o Pimentel, o Minc, todos vocês agora vão ter que ir para a rua para defender o que vocês fizeram. Porque eu espero que vocês utilizem o que vocês fizeram como instrumento de divulgação das coisas boas que aconteceram neste país.

E eu acho que a Dilma Rousseff foi, eu diria, uma figura... Não existe ninguém insubstituível, não existe. Mas eu acho que a Dilma foi de uma competência extraordinária. A capacidade de articulação, a capacidade de trabalho. Muita gente acha que a Dilma é dura, que a Dilma é isso... Porque, também, nem todo mundo é obrigado a ficar se arreganhando para todo mundo todo dia. Tem uma história de que político tem que aparecer rindo, que nego vem te falar de um velório e você começa a rir. Não, a Dilma é o que ela é. Ela é assim, e, sobretudo, a mulher tem que ser mais serena e saber que ainda tem muito preconceito contra a mulher. E que, portanto, muitas vezes, ser um pouco dura é, possivelmente, uma das estacas que você utiliza para exercer a sua função, o seu poder.

E eu, ô Dilma, eu te confesso que eu não conheço... mas eu não sei quantas vezes a Casa Civil deste país funcionou com a competência que funcionou na tua gestão na Casa Civil. Eu acho que... eu acho que a tua saída é um prejuízo para o país, mas a tua saída é dentro de uma perspectiva de que você seja mais do que chefe da Casa Civil. Então, a esperança é a motivação da tua saída. E você deixa uma companheira da qualidade da Erenice, que foi... Eu, se pudesse colocar duas ministras em uma só, eu colocaria a Erenice e a Míriam Belchior no... não cabe... Mas a Erenice é a parte que ajudou a Dilma a tocar a Casa Civil, e a Míriam Belchior ajudou a tocar o nosso PAC. Portanto, uma vai continuar cuidando do PAC. Daqui para a frente, Jobim, você vai ter que se ver é com a Míriam, na questão dos aeroportos, não é com a Dilma branda, do jeito que é. Você vai ver a Miriam, como é que é! Quem achava que a Dilma era dura, deixa sentar à frente da Míriam, para você ver o que vai acontecer na questão do PAC. Então, Dilma, eu acho que vai ficar um vazio, [por] um determinado tempo, no Palácio. As nossas conversas, as nossas discussões, as tuas brigas como José Sergio Gabrielli, da Petrobras; a tua briga com a Maria Fernanda, na Caixa Econômica, por causa do programa Minha Casa, Minha Vida; a tua briga com o nosso querido Lobão, na questão das Minas [e Energia]; com o Minc... toda vez que tinha um problema, eu falava: Dilma, o Minc é teu companheiro de luta armada, vai conversar com ele, vai acalmar. Então, eu penso que você vai deixar... Eu duvido que tenha tido um companheiro, um companheiro que trabalhou contigo, que não tenha uma extraordinária impressão. Tem alguns que saíam da tua sala e iam à minha sala se queixar, de que você tinha maltratado ele, que tinha sido muito dura com ele, o que também é normal, também é normal. De vez em quando, deve sair alguém da minha sala e ir à tua sala se queixar do meu tratamento, sobretudo o Gilberto Carvalho, o ...

Mas de qualquer forma eu acho que o Brasil, Dilma, deve a ti muitas coisas, eu acho que o Brasil deve a ti muitas coisas. E eu acho que a Erenice tem uma responsabilidade imensa pelo que vai acontecer daqui para a frente, na continuidade dos trabalhos que nós fizemos.
Então, companheiros, a todos vocês os meus agradecimentos. Aos companheiros novos, eu estou convocando uma reunião para segunda-feira, eu vou fazer o discurso lá, para vocês.

Mas eu só queria alertar vocês de uma coisa: em 1962 o Brasil foi disputar a Copa do Mundo no Chile, e o Pelé estava no auge da sua carreira, era o auge da sua... O Pelé era, em [19]62, o Messi, o Maradona, o Kaká e o Ronaldinho juntos. Então, você percebe que ele fazia falta para a Seleção brasileira. Quando ele se machucou, não dava para você convocar uma nova Seleção, você tinha que colocar quem você tinha escolhido antes. E colocou-se o Amarildo para ser o substituto do Pelé. Eis que o Amarildo não deixou a desejar, já começou fazendo gol. E o Garrincha, que era um cara muito bom de bola, mas que não era tido como o carro-chefe, como o líder, assumiu a liderança e a gente terminou sendo bicampeão do mundo, 3 x 1 contra a Tchecoeslováquia, em 1962.

Então, eu queria dizer para a nova equipe que está entrando que nós vamos ter que trabalhar mais, porque vocês têm nove meses. Veja que interessante: nove meses é o tempo da coisa mais extraordinária que o mundo criou, que é o tempo de gestação de um ser humano, ou seja, entre concebê-lo e nascer dá exatamente nove meses. Alguns nascem prematuros, um pouquinho outros, mas dificilmente ultrapassam os nove meses.

Então, vocês têm exatamente esse tempo de construir a passagem de vocês pelo governo. Significa que vocês vão ter que trabalhar mais do que os companheiros que saíram, vocês vão ter que realizar mais, sem poder inventar nada novo, porque nós não estamos na época de pensar em um novo programa. Nós estamos na época de executar os programas que vêm andando, porque eu não sei se vocês perceberam, não dá para a gente, faltando nove meses, dizer: "Ah, eu vou fazer tal coisa." Entre você pensar, fazer o projeto e ter dinheiro no orçamento, acabou o mandato. Então, companheiros, eu, na segunda-feira vou cobrar de vocês.

E queria terminar dizendo o seguinte: aos companheiros que saem, boa sorte, que Deus abençoe vocês na caminhada de vocês. E espero que vocês realizem o desejo que levou vocês a saírem do governo.

Aos que entram, boa sorte, e espero que vocês "coloquem no chinelo" os que saíram, de tanto trabalhar e de tanta competência.

Um grande abraço, meu carinho a todos vocês, e vamos à luta."

 

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