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20/08/2005 - 10h12

Virar homem do mal me revoltou, diz Buratti

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da Folha Ribeirão

O advogado Rogério Tadeu Buratti fez duas exigências para falar com os jornalistas na tarde de ontem, após dar o depoimento acusando o ministro Antonio Palocci (Fazenda) de receber propina quando era prefeito de Ribeirão Preto. A primeira foi trocar a roupa laranja de detento por um roupa normal. A segunda foi que os jornalistas se comprometessem a não segui-lo e também a não importunar mais sua família.

Com o semblante tranqüilo, de camiseta azul com a inscrição "Portugal" e calça jeans, Buratti falou aos jornalistas na Seccional de Ribeirão durante cinco minutos. Deu o recado, virou as costas e saiu, sem responder a nenhuma pergunta dos cerca de 40 jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos.

Minutos depois, Buratti apareceu no pátio da delegacia, novamente com as algemas e usando a roupa laranja.

Ele entrou na parte de trás do camburão de uma equipe do Garra, que deixou a delegacia tocando sirene, escoltada. Menos de uma hora depois, por volta das 17h40, Buratti saiu caminhando do CDP (Centro de Detenção Provisória de Ribeirão), não falou com os jornalistas e entrou em um Honda Civic dirigido por sua ex-mulher, Elza Buratti.

No CDP, ele dividiu a única cela especial com outros três advogados, todos acusados de tráfico de drogas. Buratti passou parte do tempo na cadeia deitado, descansando. A cela de Buratti tem 3 m x 5 m, televisão de dez polegadas e camas de alvenaria com colchões.

O advogado não recusou a comida oferecida no CDP --arroz, feijão, bisteca e salsicha.

Ele não chegou a tomar banho de sol no pátio porque passou as tardes de quinta-feira e de ontem em depoimento.

A cela especial do CDP fica afastada das celas dos presos comuns que aguardam julgamento. O centro tem capacidade para 412 pessoas, mas abriga atualmente 1.031, segundo a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária. Leia abaixo a íntegra do discurso de Buratti à imprensa:

"Boa tarde, gente! A única coisa que me levou hoje a falar com a imprensa e a falar o que está acontecendo é em função de nós estarmos assistindo ao que está acontecendo no Brasil, ao que está acontecendo com o projeto de governo, que era o projeto do governo Lula. E o que acontece com todas as coisas leva a gente a refletir muito sobre a nossa vida.

Eu acho que eu pagava um preço excessivamente alto por coisas que eu não tinha feito ou porque, se algumas coisas eu eventualmente tivesse feito, elas tivessem tido razões que se justificavam na política ou se justificavam em projetos. Eu tenho tranqüilidade em dizer que minha vida foi construída com meu trabalho, com minha dedicação --minha e da minha família e etc.

Ver as pessoas --na verdade, ver as únicas pessoas-- que ficaram do meu lado depois de tudo isso que me aconteceu ficarem sofrendo o que sofreram, ver a prisão de um homem de bem, como é a prisão do seu Mauad, simplesmente porque se relacionava comigo, ver pessoas que pelo simples fato de conversarem comigo eram entendidas como pessoas do mal e ver eu mesmo, diante de tudo que está acontecendo neste país, ser guindado à condição de um dos principais homens do mal do país me revoltou profundamente.

Os dois dias que eu fiquei preso serviram para eu refletir que eu já estava isolado. Foram dois dias com grandes companheiros que conheci, que respeitei e foram dois dias comigo mesmo onde eu estive exatamente sozinho pensando exatamente comigo. Daí eu percebi que eu já estava exatamente sozinho há bastante tempo.

Então, eu resolvi continuar sozinho do lado das pessoas que eu respeito e que me querem bem.

Então foi isso que aconteceu. Eu quero dizer ao Brasil, dizer a todos que não me coloquem mais como uma pessoa do mal que se propõem colocar porque, na verdade, eu simplesmente fiz o meu trabalho, trabalhei, me relacionei com quem deveria me relacionar e acho que hoje é o dia em que eu quero me dizer um pouco mais livre, apesar de sair de uma prisão e estar entrando em outro tipo de prisão, que eu sei que estou entrando. Mas eu acho que eu me sinto um pouco mais livre e tranqüilo para viver com as pessoas que efetivamente gostam de mim e, principalmente, com as pessoas que nunca se envergonharam de ficar perto de mim.
Um abraço."

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