Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/09/2005 - 09h16

Garçons dizem ter dado dinheiro a Severino

Publicidade

LUIZ FRANCISCO
HUDSON CORRÊA
da Agência Folha, em Brasília

Três funcionários da rede de restaurantes Fiorella confirmaram a versão de que o empresário Sebastião Augusto Buani pagou propina ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para manter um contrato de arrendamento de um dos restaurantes da Câmara.

Os garçons Hélio Antonio da Silva e Rosenildo Soares e o maître José Ribamar da Silva afirmaram ontem que chegaram a levar dinheiro em 2003 ao deputado dentro de envelopes.

"A filha do Buani [Gisele, diretora-financeira da rede] me entregava o envelope e dizia para tomar cuidado porque tinha dinheiro dentro. Eu entrava na sala e entregava [o envelope] para funcionários do deputado Severino Cavalcanti, dizendo que era uma encomenda do [restaurante] Fiorella", disse o garçom Hélio Antonio da Silva, 44.

Segundo Silva, ele fez o percurso do restaurante localizado no 10º andar da Câmara até o gabinete de Severino pelo menos "umas três vezes".

"Tudo era muito rápido, eu entrava, cumprimentava as pessoas, entregava o envelope e saía." Há 25 anos trabalhando no Congresso, Silva afirma que ficou surpreso com as denúncias envolvendo o deputado Severino Cavalcanti.

"Foi surpresa para mim, mas Deus sempre faz as coisas na hora certa. Agora, o que mais quero é que este cheque apareça", disse o garçom, referindo-se a um dos pagamentos que teria sido feito em cheque.

Cheque

Ontem, o dono do restaurante disse que já solicitou ao Bradesco a microfilmagem do cheque. "Tenho quase certeza absoluta que não endossei o cheque. Falo isso porque funcionários do gabinete do presidente da Câmara já entraram várias vezes em contato comigo para saber se havia o endosso. Por que tanta preocupação?", perguntou o empresário, que passou a manhã de ontem descansando em um clube de Brasília.

Há 30 anos trabalhando na Câmara, o maître José Ribamar Silva, 59, contou que também foi até o gabinete de Severino duas vezes. "E, nas duas, levei envelopes lacrados, contendo dinheiro." De acordo com o maître, a entrega da "encomenda" não causou nenhuma surpresa. "A gente estava acostumado a fazer isso, a fazer pagamentos, a entregar correspondências."

Para Silva, a "grande surpresa" foi o envolvimento de Severino com as denúncias de corrupção. "Ele sempre foi muito simples, um homem do povo, um autêntico nordestino, que dispensava as formalidades na hora das refeições. Estou decepcionado", disse o maître, que recebe cerca de R$ 1.200 por mês no Fiorella.

O garçom Rosenildo Francisco Soares, 26, que trabalha há sete anos com Sebastião Buani, revelou que também compareceu duas vezes ao gabinete do atual presidente da Câmara para entregar envelopes com dinheiro.

"Era sempre no final da tarde, depois que a gente fazia os pagamentos bancários. A única recomendação da filha do Buani era para a gente ter muito cuidado ao transportar os envelopes", disse Soares, que recebe cerca de R$ 800 por mês no restaurante.

Buani disse que outros funcionários do Fiorella também entregaram dinheiro para o presidente da Câmara, mas acrescentou não lembrar dos nomes.

"Esses três eu lembro, mas tem mais. Tem mais pelo seguinte: eu nunca paguei o "mensalinho" de uma vez só, eu pagava de acordo com minha arrecadação. Às vezes arrecadava R$ 4.000 e mandava entregar", disse o dono do restaurante na Câmara.

Rosenildo Francisco, Hélio Silva e José Ribamar não temem o desemprego --Buani já foi notificado para devolver o restaurante que administra na Câmara. "Estamos com a consciência limpa, não temos nada a temer. O que queremos é a moralidade pública", disse o maître.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Severino Cavalcanti
  • Leia a cobertura completa sobre o caso do "mensalão"
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página