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10/03/2006 - 09h49

Tropa de choque petista fez acerto informal com o PFL

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FÁBIO ZANINI
LUCIANA CONSTANTINO
CYNTHIA GARDA
da Folha de S.Paulo

A dupla absolvição de Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP) foi fruto de um acordo capitaneado por uma tropa de choque leal ao petista.

Empenhados em salvar Luizinho, seus generais levaram a deputados da oposição uma oferta que não podiam recusar: a absolvição de Brant, livrando o PFL do risco de ser manchado pela crise política, em troca de um tratamento leve e respeitoso ao ex-líder do governo Lula na Câmara.

Cada um ficou encarregado de conversar com deputados de um determinado Estado. Nilson Mourão (AC) ficou com a região Norte. "Eu falei com todo mundo. De todos os partidos. Pedia voto contra a cassação do Luizinho e também contra o Brant", disse.

Em São Paulo atuou Devanir Ribeiro (SP), um dos deputados mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No meio da tarde de anteontem, horas antes do início das votações, Devanir contava 50 votos dentro do PT para salvar Brant e uns 25 entre os pefelistas como contrapartida. "Aposto na absolvição dos dois", disse. Outros que se destacaram na defesa de Luizinho foram Fernando Ferro (PE), Virgilio Guimarães (MG) e Luiz Sergio (RJ).

Entre os pefelistas, os apoios mais explícitos vieram de Mussa Demes (PI) e do próprio Brant (MG). Quando se aproximava o momento de votar a cassação, Mussa pediu autorização ao líder de seu partido, Rodrigo Maia (RJ), para subir à tribuna e defender o ex-rival Luizinho. "Sem problema", disse Maia. Mussa fez, na opinião de 9 entre 10 petistas, um dos discursos mais contundentes em defesa do acusado. "Não há razão para o deputado Professor Luizinho ser submetido a esse vexame", discursou o pefelista.

Brant

Brant, após ser absolvido com ajuda decisiva da base governista, pôs-se a ajudar Luizinho e a pedir votos em sua bancada. Festejou muito após o resultado e aproveitou para alfinetar o governo, que teria abandonado seu deputado. "Fiquei eu aqui, do PFL, chorando pelo Luizinho, enquanto Lula está na Inglaterra com a rainha Elizabeth", disse.

Não chegou a haver participação direta e coordenada das lideranças das duas bancadas para a troca de favores. Segundo um parlamentar petista, foi uma confluência de interesses das legendas. O PFL, desesperado para salvar Brant; o PT, com receio de que uma radicalização da oposição levasse a uma perda de um deputado importante, agora que a crise caminha para o desfecho. Deputados de médio escalão dos dois partidos trabalharam quase que informalmente por um acordo.

Como conseqüência, acabou sendo plantada uma semente para uma troca futura, envolvendo a absolvição de um dos grandes símbolos da crise, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Ontem, o pefelista Mussa Demes já dizia que fará por João Paulo o que fez por Luizinho.

Futuro

Dos 19 deputados citados no escândalo do "mensalão", nove ainda aguardam julgamento. Não há previsão possível de desfecho. Ontem, dentro da Câmara, havia duas avaliações. Para os integrantes do chamado baixo clero (grupo de deputados de pouca expressão, porém majoritário), a tendência é salvar todos.

"Porteira que passa bezerro passa boiada. A lógica agora é não cassar mais ninguém. Se caixa dois não é crime, como cassar os outros?", pergunta o deputado João Caldas (PL-AL).

A outra linha de raciocínio é a de alguns líderes partidários, sobretudo os de oposição. "Quanto menor a distância entre uma votação e outra, menor a probalidade de absolvição, pois ainda não caiu no esquecimento a decisão anterior", disse Rodrigo Maia, líder do PFL na Câmara.

Em 15 de dezembro, o plenário da Câmara absolveu o deputado federal Romeu Queiroz (PTB-MG), que comprovadamente teve seu nome relacionado a mais de R$ 400 mil do chamado valerioduto. No dia seguinte a essa decisão, argumentava-se dentro da Casa que os próximos casos teriam de resultar em cassação.

Como a Câmara demorou mais de dois meses para julgar, a poeira abaixou e Brant e Luizinho foram salvos. "Mas agora", diz Maia, "serão dois processos por semana e ficará muito difícil salvar mais mandatos".

Especial
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