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18/03/2006 - 10h13

Gravação da PF liga ex-líder do PMDB a tentativa de fraude

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JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Curitiba

Monitoramento telefônico feito pela Polícia Federal --ao qual a Folha teve acesso-- traz conversas entre o ex-líder do PMDB na Câmara José Borba e o ex-assessor do partido Roberto Bertholdo, nas quais discutem como interferir em processo de licitação da Transpetro, subsidiária da Petrobras, para aquisição de navios.

Borba renunciou ao mandato em 17 de outubro de 2005, para evitar ser cassado sob a acusação de operar o "mensalão". Mesmo assim, os dois continuaram a atuar na base governista e no partido. As gravações das conversas foram feitas até o dia em que Bertholdo foi preso, em 4 de novembro de 2005, quando a força-tarefa do Banestado --que investiga crimes de lavagem de dinheiro e contra o sistema financeiro-- pediu a prisão do advogado.

A PF descobriu que ele viajaria em 4 de novembro ao Paraguai. Para evitar uma possível fuga, Bertholdo foi preso nesse dia. Ele é acusado de crimes de tráfico de influência, interceptação telefônica clandestina, lavagem de dinheiro e venda de sentenças judiciais. Em outro processo, ele responde à acusação de tráfico de influência na CPI do Banestado.

Nos diálogos, Borba e Bertholdo articulam uma maneira de conseguir R$ 16 milhões num processo de licitação da Transpetro, empresa presidida pelo ex-senador cearense Sérgio Machado, que foi indicado para o cargo pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na cota da ala governista do partido.

A Transpetro abriu licitação para a construção de 42 navios para transporte de petróleo e GLP (Gás Liqüefeito de Petróleo). Em uma primeira etapa, a previsão era de construção de 26 navios. A escolha dos vencedores da licitação foi adiada em razão do alto preço apresentado pelos estaleiros.

Segundo as gravações, em 20 de outubro, uma secretária de Machado na Transpetro ligou para Bertholdo e marcou a reunião para o dia 25, na sede da empresa, no Rio. A secretária pediu a Bertholdo se ele podia adiantar o assunto. O advogado responde que Borba já havia falado com Machado sobre o que seria tratado.

No dia 25, após a reunião, Bertholdo viaja a Brasília no mesmo vôo de Machado. Mais tarde, no mesmo dia, ele relata suas conversas com o executivo a Borba e afirma que o negócio é bom para todo mundo. "É bom para o Machado. Ele gostou muito. Agora, só não faz se não quiser", diz Bertholdo num trecho das gravações.

A Folha apurou que a PF não conseguiu --por questões técnicas-- instalar uma escuta ambiental no gabinete de Machado para acompanhar a reunião.

Em outro trecho da gravação, numa conversa de Bertholdo com outro interlocutor, o advogado preso exemplifica como poderia obter benefícios na licitação ao falar de um estaleiro de Santa Catarina, o Itajaí, que deveria ficar com a construção de dois navios.

No lote 5 da licitação da Transpetro, o Itajaí aparece disputando a construção de três navios, sendo que o primeiro a ser construído está orçado em R$ 51 milhões.

Congresso

As gravações mostram também que Borba, mesmo após a sua renúncia, e Bertholdo continuaram a comandar, extraoficialmente, a liderança do PMDB governista.

Bertholdo e Borba articularam a presença de deputados no depoimento do ex-presidente do Bamerindus e ex-senador José Eduardo Andrade Vieira na Subcomissão de Liquidação de Bancos na Câmara em 19 de outubro. Bertholdo articulou para que parlamentares fizessem perguntas sobre um possível caixa dois na campanha de Fernando Henrique Cardoso à reeleição.

A Folha apurou que Bertholdo, mesmo sem o cargo de assessor formal, despachava da liderança do PMDB até sua prisão. Borba trabalhava na liderança, como um assessor informal, após renunciar ao mandato, até a última quarta, quando Wilson Santiago (PMDB-PB), seu sucessor, foi destituído.

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