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06/08/2006 - 11h00

Nanicos ganham segundos de fama no "Jornal Nacional"

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MICHELE OLIVEIRA
da Folha de S.Paulo
PAULO SAMPAIO
da Folha de S.Paulo

Em duas horas de coquetel, apenas 30 segundos são relevantes na inauguração do comitê do candidato à Presidência da República Luciano Bivar (Partido Social Liberal) --aqueles que a Globo gravou para levar ao ar no "Jornal Nacional".

Para que esses instantes pareçam bem naturais, o candidato-traço (0% de intenções de voto no último Datafolha) tem de contar com figurantes que produzam uma espécie de "movimento eleitoral" atrás dele.

"Nosso voto é muito de opinião", diz Bivar, 61, sem apontar nenhum exemplo no local.

Moças contratadas para balançar bandeiras amarelas e azuis se misturam a correligionários de outras praças que estendem cartões de apresentação à reportagem, enquanto esticam o pescoço em busca de uma nesga de lente global.

O mesmo esforço de "movimento eleitoral" está presente na campanha do presidenciável José Maria Eymael (Partido Social Democrata Cristão), 1% no Datafolha. Suas caminhadas da última semana foram acompanhadas por sete bandeiras, também amarelas e azuis. Enquanto na terça-feira elas eram agitadas na zona norte da capital por parentes e amigos de candidatos do partido, na quarta, desempregados contratados por R$ 10 por meia hora faziam o serviço no centro da cidade.

Eymael, 66, que tenta pela segunda vez chegar ao Planalto, tem uma equipe de 30 pessoas. Um desses assessores tem, entre outras missões, a de recrutar pessoas na rua para Eymael cumprimentar. "Dá um abraço no candidato", diz. Em seguida, o democrata cristão dispara frases como: "Aperta a mão do Eymael, campeão" e "Vamos juntos ganhar a Presidência". Tudo sob as lentes das câmeras --que não são muitas. Na terça, além da Globo, as emissoras RIT e Record gravaram o candidato. No dia seguinte, só a Globo filmou sua caminhada.

Apesar do espaço diário nos telejornais globais e do eterno jingle ("Ey-Ey-Eymael, um democrata cristão"), poucos o reconhecem. A reportagem ouviu, em dois dias, três passantes confundi-lo com "aquele do aerotrem" --Levy Fidelix (PRTB).

"Não olha para a câmera"

A situação de Eymael e Bivar é muito melhor do que a de Rui Costa Pimenta (PCO), que, apesar de ter 1%, não tem direito a cobertura com imagens. Ele está de fora por seu partido não ter eleito nenhum deputado federal em 2002.

Já Cristovam Buarque, igualmente com 1%, recebe os mesmos segundos na TV que Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Heloísa Helena. Segundo a Globo, a exposição de Cristovam se justifica pelo PDT ter 21 deputados na Câmara.

A cobertura dos nanicos provoca situações inusitadas. No comitê inaugurado de Bivar, na terça, o cinegrafista deu uma bronca: "Não olha para a câmera, amigo, conversa com o candidato", orientou a um emergente que quase colocou toda a espontaneidade do momento a perder. No dia seguinte, foi a vez de Eymael cobrar agilidade da equipe da Globo. Ao se despedir do repórter da emissora, disse: "Vamos, para dar tempo, né". A intenção do candidato era se ver no "Jornal Hoje".

Nos eventos de campanha, perguntas são respondidas com muitas respostas repetidas. Bivar martela sobre o imposto único. "Qual a sua proposta?". Resposta: "O imposto único, que substitui os dez existentes e vai resolver o problema de mais de 50 milhões de pessoas que vivem na marginalidade".

Após a entrevista, deixou o comitê em sua Mercedes Benz CLS 500 (R$ 396 mil; R$ 15 mil de IPVA). Ele é o candidato a presidente mais rico: seu patrimônio é de R$ 8,775 milhões.

Eymael tem uma única frase sobre o escândalo dos sanguessugas: "Para mim, para a democracia cristã, todo político corrupto, marginal, é um serial killer, é um assassino em série, é um matador em atacado".

Eymael diz que a sua candidatura tem o objetivo de chegar ao segundo turno. "O sr. acha que é possível?", diz a Folha. "Veja: até há alguns dias atrás eu não tinha nenhuma mídia, zero de mídia. E, mesmo sem mídia, nós já temos 1%."

Perguntado se ele estava fazendo campanha somente para aparecer na TV, Eymael responde: "A minha vida inteira a minha maneira de fazer política sempre foi muito próxima com as pessoas".

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