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21/09/2006 - 09h18

PT já fazia dossiês em 2002, diz sindicalista

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RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo

O consultor sindical Wagner Cinchetto, 43, afirmou ontem, em entrevista à Folha, que dois dos principais personagens da operação de compra de dossiê contra tucanos na atual campanha eleitoral participaram de um grupo petista que operou na campanha presidencial de 2002 para proteger o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva de denúncias e levantar acusações contra os adversários da campanha.

Segundo Cinchetto, Ricardo Berzoini --então deputado federal e hoje presidente nacional do PT-- e Oswaldo Bargas, amigo de Lula e ex-assessor do Ministério do Trabalho, eram dois dos cinco integrantes de um "grupo de inteligência" da campanha lulista de 2002.

Em 2003, a revista "Veja" revelou a existência do aparato da campanha de 2002. Na época, a revista disse ter apurado o assunto com 17 fontes. Assessor da presidência da Força Sindical por dois anos (1991-1993) e um dos fundadores da central, hoje consultor sindical, Cinchetto resolveu quebrar o silêncio de quatro anos e afirmou que documentos foram obtidos no Banco do Brasil para atacar o então candidato tucano à Presidência da República, José Serra.

O grupo também estaria por trás de denúncias contra o vice do candidato Ciro Gomes (então no PPS e hoje no PSB), Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.

FOLHA - O sr. integrou um grupo criado na campanha de Lula em 2002 com o objetivo de levantar denúncias contra adversários?
WAGNER CINCHETTO -
Num primeiro momento, nós achávamos que o candidato Lula tinha sido muito atacado nas eleições anteriores. Nós organizamos um grupo e apresentamos uma proposta de trabalhar paralelo ao comitê eleitoral no sentido de antecipar alguns fatos, algumas denúncias que os adversários poderiam fazer, e, ao mesmo tempo, reunir material suficiente e capaz de não só combater as denúncias dos adversários como também divulgar as denúncias contra os principais adversários do candidato Lula.

FOLHA - Quem integrava o grupo?
CINCHETTO -
Oswaldo Bargas, Carlos Alberto Grana, que era o secretário-geral da CUT, Berzoini e outros.

FOLHA - Quais foram as principais operações do grupo?
CINCHETTO -
Primeiro houve uma série de operações no sentido de inviabilizar o vice do então candidato Garotinho, uma tentativa de recolher materiais que pudessem ser divulgados em denúncias contra o Ricardo Sérgio e o pessoal do Serra. Também foram reunidas todas as denúncias e as informações que pudessem denunciar o vice do então candidato Ciro Gomes, Paulo Pereira da Silva.

FOLHA - Sobre Paulo Pereira da Silva, o que vocês conseguiram reunir e o que fizeram com isso?
CINCHETTO -
Na época, Ciro Gomes teve um crescimento muito grande nas pesquisas, que mostrava que num segundo turno ele derrotaria o candidato Lula. Foi então que nós passamos a trabalhar no ponto fraco que nós considerávamos da campanha dele, que foi a escolha do vice, presidente da Força Sindical. Contra ele já havia uma série de denúncias de irregularidades na gestão de recursos do FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador], a compra de uma fazenda superfaturada no interior de São Paulo, o Ministério Público já vinha investigando todas essas denúncias, e o trabalho do grupo foi simplesmente dar um pouco mais de transparência à imprensa para que esses fatos pudessem vir ao esclarecimento público.

FOLHA - Esse material acabou sendo divulgado pela imprensa?
CINCHETTO -
Foi divulgado de uma maneira muito ampla pela grande imprensa, inclusive foi capa das principais revistas de São Paulo. E logo em seguida o Ciro Gomes começou a perder a cabeça, começou a ter uma série de problemas com seu vice. As denúncias atingiram em cheio a candidatura. Assim que o Ciro começou a cair, o pessoal chegou a me agradecer muito pelo trabalho realizado.

FOLHA - Sobre José Serra, o que foi levantado pela equipe?
CINCHETTO -
Na ocasião, o grupo atuou no sentido de conseguir papéis importantes sobre um empréstimo feito ao então parente do Serra [Gregório Marin Preciado]. Essa documentação estava guardada no Banco do Brasil e essa operação contou com o apoio também de funcionários do Banco do Brasil. E em seguida nós enviamos os documentos ao Ministério Público e à imprensa. O trabalho foi exclusivamente em cima de tornar públicos esses documentos, não se vendeu dossiê.

FOLHA - Dos nomes que você citou como integrantes do grupo, dois voltaram ao noticiário nesse escândalo, Oswaldo Bargas e Ricardo Berzoini. O sr. acha que há um novo grupo em ação, como o de 2002?
CINCHETTO -
Há grande diferença entre os dois grupos. O de 2002 trabalhou de maneira profissional, tinha um objetivo de levar o candidato Lula à sua primeira vitória eleitoral, protegendo-o de denúncias infundadas e fazendo com que o candidato passasse a ter reais chances de vitória. Diferentemente da organização desse grupo atual, que mais parece um bando de irresponsáveis comandado por um churrasqueiro, Jorge Lorenzetti. E que se juntou com uma outra pessoa que é o Bargas. Naquele momento, lá atrás, trabalhou de maneira correta e negou que tivesse participado do grupo, não teve coragem de assumir o trabalho digno que fez no primeiro grupo, para poder continuar no espaço que o levou a fazer essa trapalhada.

FOLHA - O candidato Lula tinha conhecimento da existência do grupo?
CINCHETTO -
Pelo que fui informado pelos outros companheiros, não só tinha conhecimento como autorizou que o grupo fosse criado e organizado para trabalhar paralelamente à sua campanha. Jamais ninguém iria fazer um grupo desse de livre e espontânea vontade, envolvendo pessoas tão importantes da campanha, sem que o candidato soubesse.

FOLHA - Em 2003, a revista "Veja" divulgou reportagem e o sr. não se manifestou oficialmente. Por que só agora decidiu revelar o que sabe?
CINCHETTO -
Não me manifestei porque recebi pedido do Carlos Grana [da CUT]. Ele disse: "O que o PT, o que o presidente Lula espera nesse momento, é o silêncio dos companheiros".

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