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08/10/2006 - 23h36

Acusações e ataques dominam debate entre Alckmin e Lula na TV

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da Folha Online

O telespectador assistiu neste domingo ao debate televisivo mais aguerrido desde o início da campanha eleitoral, com troca de ataques mútuos do primeiro até o último minuto das cerca de duas horas e meia destinadas pela TV Bandeirantes para o confronto entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB).

O tucano diferiu do que os eleitores estão acostumados a ver e adotou uma postura mais acalorada em suas críticas, não perdendo chances de atacar o governo Lula nos campos da ética ou da gestão pública.

Lula, por sua vez, não se manteve na defensiva. Distribuiu seus ataques ora ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ora à gestão de Alckmin no Estado de São Paulo, com menções a escândalos políticos de um e de outro.

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Policiais controlam acessos a emissora de televisão em São Paulo
Policiais controlam acessos a emissora de televisão em São Paulo
Os dois primeiros blocos foram quase que totalmente dedicados à "lavagem de roupa suja". Ambos os candidatos passaram em revista os escândalos políticos que vieram à tona nos últimos meses.

Alckmin perguntou para Lula qual a origem do R$ 1,7 milhão que seria utilizado para a compra de um dossiê contra políticos tucanos. Lula questionou o tucano sobre os 69 pedidos de CPIs estacionados na Assembléia Legislativa de São Paulo.

O ex-governador de São Paulo, no entanto, quase não mencionou o escândalo do "mensalão", enquanto Lula não se aprofundou nas denúncias que surgiram contra a gestão tucana no Estado.

Corrupção

A primeira pergunta feita por jornalistas aos presidenciáveis no debate da Rede Bandeirantes foi dirigida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição pelo PT.

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Lula responde perguntas do tucano Geraldo Alckmin durante debate na TV
Lula responde perguntas do tucano Geraldo Alckmin durante debate na TV
Lula foi questionado se sabia ou não da participação de membros do primeiro escalão de seu governo em escândalos de corrupção como o mensalão e a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa e afirmou que casos de corrupção anteriores ao seu governo eram jogados para debaixo do tapete.

"É exatamente por isso que eu quero ser reeleito, porque eu tenho certeza de quando souber, punirei. O problema é que durante muitos e muitos anos neste país ninguém sabia porque as coisas não aconteciam. Porque tinha corrupção, jogava embaixo do tapete."

Lula afirmou também que perdeu muitos "companheiros" por conta dos escândalos de corrupção e vai perder quantos precisar. "Eu perdi companheiros de muito tempo e vou perder, se precisar, quantos for necessário, do meu partido ou de outros partidos políticos, porque quando a gente indica uma pessoa para ocupar um cargo, a gente espera que aquela pessoa cumpra o compromisso com a sociedade", disse.

O petista voltou a usar metáforas familiares para explicar o desconhecimento de membros de seu governo nos casos de corrupção. "Quantas vezes você está na cozinha, acontece uma coisa dentro da sala com seu filho e você não sabe? Fica sabendo depois", disse.

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Geraldo Alckmin ataca o presidente Lula durante debate na televisão
Geraldo Alckmin ataca o presidente Lula durante debate na televisão
Segundo ele, "a lógica da ética não é você saber antes, porque se você souber, não acontece. A lógica da ética é você punir quando acontece. É você não acobertar, é você investigar, é você permitir que as instituições possam trabalhar livremente e isto eu tenho muito orgulho, muito orgulho de não ter vacilado um minuto em fiscalizar, investigar", disse.

Ao comentar o tema, o candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin, afirmou que Lula não responde questões importantes.

"Veja os telespectadores que o Lula, arrogante esse tempo todo, quando chegam questões importantes, que visam direto a questão de princípios e valores, ele não responde. A questão do mensalão foi feita dentro do Palácio do Planalto, no terceiro andar, pelo seu ministro chefe da Casa Civil. Não são fatos isolados Lula, não são fatos isolados, mas é uma lista telefônica de corrupção", disse.

O "mentiroso" contra o "leviano"

O tom beligerante entre os dois candidatos, no entanto, se manteve controlado e somente em um momento resvalou para a crítica pessoal.

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Debate entre Lula e Ackmin mobiliza assessores e partidários em emissora de TV em SP
Debate entre Lula e Ackmin mobiliza assessores e partidários em emissora de televisão em São Paulo
No primeiro bloco, os ânimos se exaltaram quando o tucano Geraldo Alckmin questionou o petista Luiz Inácio Lula da Silva sobre os gastos do governo federal com o cartão de crédito corporativo --uma espécie de cartão de crédito pago com recursos públicos.

"Não seja leviano, não seja leviano, pergunte isso ao FHC [ex-presidente Fernando Henrique Cardoso]", disse o petista.

"Respeito, respeito", retrucou o tucano com o dedo apontado para Lula.

O uso dos cartões de crédito corporativos foi autorizado na administração pública ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

No segundo bloco, Lula questionou Alckmin sobre as as privatizações realizadas durante o governo de FHC, o que motivou o segundo momento mais acirrado da noite.

"Todo mundo sabe que o PFL e o PSDB que privatizaram esse país. Quando não tiver mais o que vender, o que ele vai fazer? Vai vender a Amazônia? Só posso responder aquilo que eu sei. Não disse que o governador vai privatizar, disse que há setores do PFL e PSDB que querem privatizar até a Petrobras", afirmou o presidente.

"Não minta, Lula. Não foi o PSDB nem o PFL que falaram em privatização, foi você que falou. Fico triste com a irresponsabilidade de um presidente da República ter dito isso. Foi você que falou e vou distribuir isso à imprensa no fim do debate. É mentira que vou acabar com o Bolsa Família", rebateu Alckmin. A insinuação de "mentiroso" motivou o comitê petista a pedir direito de resposta, mas que foi negado pela produção da "TV Bandeirantes".

Propostas

O debate de propostas para o país somente começou, realmente, no terceiro bloco do debate promovido pela "Bandeirantes". Os ataques mútuos, entretanto, não saíram de cena, em um confronto que continuou acalorado.

O presidente e candidato Lula questionou Alckmin pelos problemas de segurança pública em São Paulo, lembrando os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Alckmin respondeu citando números sobre redução de homicídios e dizendo que o governo federal cortou recursos nos repasses para os Estados na área de segurança. Lula replicou, dizendo que, quando governador, Alckmin havia cortado as verbas para inteligência policial no Estado.

"Você cortou dinheiro da segurança pública. Há uma contradição entre os números que você decorou para esse debate e a realidade do Estado de São Paulo", disse Lula.

"Essa é uma questão nacional [segurança pública]. Eu não vou me omitir, jogando a culpa nos governadores", afirmou Alckmin, afirmando que em todos os Estados há problemas de segurança pública.

Lula trouxe o governo FHC para a arena quando mencionou a crise energética de 1999 (o "apagão"). Ele questionou Alckmin sobre suas propostas para o setor.

Alckmin minimizou o tema e disse que "houve um problema de falta de energia por questões hídricas. Por falta de chuva".

Pouco antes, o candidato tucano havia criticado duramente a política externa do governo Lula, a qual considerou um "fracasso". "[Vaga no] Conselho de segurança na ONU, perdeu. Diretoria da OMC [Organização Mundial do Comércio], perdeu. Com a Bolívia, o Brasil foi humilhado, os ativos da Petrobras foram expropriados", acusou.

Lula respondeu que a política externa brasileira é "ousada". "É uma política que fez o Brasil deixar de depender de dois blocos: Europa e Estados Unidos", disse, justificando que o trato com a Bolívia foi na base do diálogo, pois "a América Latina é o maior centro comercial brasileiro". "Se tem uma coisa que o Brasil tem de correto, e que você deveria reconhecer, é a política externa", revidou.

Ataques até o fim

Os ataques mútuos não cessaram nem no último dos cinco blocos do debate. Nas considerações finais, Lula fez a defesa da continuidade, dizendo que os "alicerces" do desenvolvimento já estavam prontos, mas que faltava o "madeiramento" e o "teto".

Alckmin retomou a crítica feita ainda no primeiro minuto do debate: ele havia participado de todos os outros confrontos entre os candidatos, enquanto Lula se ausentou. Também bateu na tecla de que o PT "já teve sua chance" e encerrou sua participação criticando o estado dos hospitais federais.

Pouco antes, Lula havia questionado Alckmin sobre a qualidade das escolas paulistas e da existência de "escolas de lata" no Estado. "O Estado de São Paulo não aceitou fazer o Prova Brasil por medo", alfinetou Lula. O tucano rebateu dizendo que o Estado não tinha mais "escolas de lata" mas "projeto Nakamura" --que usa estrutura metálica no telhado e tem vedação de chapas de aço e madeira.

Audiência

A TV Bandeirantes informou que o debate entre os dois candidatos rendeu 14,2 pontos de audiência, na média apurada pelo instituto Ibope, em sua medição prévia. Nos momentos de pico, a emissora chegou aos 20 pontos, mas não o suficiente para atingir a liderança do horário. A TV Bandeirantes ainda chegou ao segundo lugar, mas somente por alguns minutos e revezando-se com o SBT.

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