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12/11/2006 - 09h54

Presidente só por um dia, Aldo invoca Marx e Engels

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EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Entre hoje e amanhã, o Brasil terá pela primeira vez um presidente da República nominalmente comunista. Com as viagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a trabalho à Venezuela e do vice José Alencar aos EUA por motivos médicos, o cargo passa no final da tarde de hoje às mãos de Aldo Rebelo, 50, presidente da Câmara dos Deputados e um dos principais líderes do PC do B.

Aldo brinca com o ineditismo da situação. Segundo ele, será de fato a primeira vez que alguém "confessadamente" e "assumidamente" comunista assumirá a Presidência da República do país. Nas poucas horas à frente do Executivo, Aldo admite que lembrará dos livros de Karl Marx (1818-83) e Friedrich Engels (1820-95), a dupla alemã que embasou teoricamente o comunismo no século 19, e de políticos míticos na América Latina e nos Estados Unidos, como Simon Bolívar (1783-1830) e Abraham Lincoln (1809-1865).

A posse de Aldo está marcada para hoje, por volta das 17h, no embarque de Lula à Venezuela. Sem Alencar, que passa por tratamento de um câncer nos EUA, Aldo ficará no cargo até amanhã à noite, no retorno de Lula ao país.

Filho de um vaqueiro e de uma professora, alagoano de Viçosa e ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Aldo avalia sua chegada à Presidência da República como o resultado da evolução do processo democrático do país. Em tempos da ditadura militar (1964-1985), militantes de grupos de esquerda foram presos e muitos deles torturados.

"As lutas e as dedicações de muitas gerações de brasileiros para conquistar a democracia e a liberdade possibilitaram chegar a um momento como esse. E hoje pode alguém do Partido Comunista, mesmo que momentaneamente, chegar à Presidência da República num momento de normalidade, de tolerância, de respeito e de convivência democrática", diz.

Na passagem de Aldo Rebelo pela Presidência, haverá espaço para uma aproximação simbólica do governo com a oposição. Amanhã, o presidente interino participará de evento na Fundação Mario Covas, em São Paulo. O encontro do comunista com os tucanos já estava previsto. "Mas, de qualquer forma, trata-se de uma coincidência muito bem-vinda", afirma.

À tarde, o comunista estará no terceiro andar do Planalto. Será o momento, segundo ele, de lembrar não apenas de Marx e Engels, mas também de Bolívar e Lincoln. Ele explica: "Eles [Marx e Engels] conseguiram fundamentar para muitas gerações o ideal da democracia, da liberdade, da independência das nações. Outros que também deram suas contribuições --e não são necessariamente marxistas-- são lutadores como Simon Bolívar, na América Latina, e o Lincoln, nos EUA".

Enquanto ocupar a Presidência, Aldo diz que trará à memória brasileiros que lutaram pela democracia. "Lembrarei daqueles que lutaram pela Independência, pela República, como Tiradentes, José Bonifácio, Frei Caneca, Luís Carlos Prestes, João Amazonas, Getúlio Vargas, Floriano Peixoto, Juscelino Kubitschek. Muita gente lutou para que fôssemos um país onde todos se respeitam."

Aldo será o quarto a substituir Lula na Presidência. Além de Alencar, passaram também pelo cargo o deputado federal reeleito João Paulo Cunha (PT-SP) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

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