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25/01/2007
-
10h45
ANA FLOR
colaboração para a Folha, em Nairóbi
A chegada ao poder das esquerdas em muitos países latino-americanos ocorreu por conta de uma perda real de poder político dos EUA. A opinião é do sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein, 76, pesquisador sênior na Universidade Yale e autor de "O Declínio do Poder Americano".
Depois de chegar ao poder, os governos de esquerda na região enfrentam o desafio de se manter no poder, o que só ocorrerá, segundo Wallerstein, se trabalharem para construir progresso social. O sociólogo compara Lula a Chávez e diz: "Eles não são tão diferentes assim". Presença assídua no Fórum Social, Wallerstein falou à Folha, em Nairóbi, no Quênia.
FOLHA - O sr. é um freqüentador assíduo do Fórum Social Mundial. Qual o mérito do encontro?
IMMANUEL WALLERSTEIN - Foi um feito enorme, que começou com uma iniciativa de um grupo de brasileiros, mas teve uma aceitação global porque preencheu uma necessidade de indivíduos e grupos sociais que lutam contra opressão, globalização e neoliberalismo. É o acontecimento mais importante de resistência na atualidade".
FOLHA - Como o sr. vê a situação atual da América Latina?
WALLERSTEIN - Nós vimos, nos últimos cinco anos, o crescimento de movimentos de esquerda da América Latina, com menor simpatia e influência dos EUA. Isto não teria acontecido algum tempo atrás por causa da influência e poder dos EUA na região no passado. É desconfortável para os EUA ter tantos governos de esquerda no seu quintal. O que mudou? Não o pensamento na América Latina, nem a política dos EUA. O que mudou foi o declínio de poder político real dos EUA no mundo. A região se beneficiou da distração dos EUA em outras partes do mundo para fazer um movimento mais à esquerda. Os EUA vivem uma perda real de poder político.
FOLHA - Quais os desafios desses novos governos?
WALLERSTEIN - O desafio atual dos governos de esquerda da América Latina é o de se sustentarem e, se quiserem se manter no poder, mostrar progresso social de verdade. Foi isso que colocou Lula numa situação difícil, as expectativas do povo e as promessas não cumpridas. Mas ele recebeu uma segunda chance. Terá de mostrar resultados reais se quiser manter seu grupo no poder. Este é o desafio em todos os países: como se manter no poder sendo de esquerda. A alternativa é que deixem de ser de esquerda, mas não é desejável.
FOLHA - Na sua opinião, o presidente Lula ainda é de esquerda?
WALLERSTEIN - Sim, acredito que ainda é um líder de centro-esquerda. Tanto que reúne movimentos sociais --o MST o critica, mas o apóia-- e intelectuais, como Emir Sader, que é um crítico do governo, mas ainda acredita na proposta de Lula. Comparado a [Hugo] Chávez [presidente da Venezuela], Lula pode não parecer de esquerda. Mas eles não são tão diferentes. Lula fala bem de Chávez e Chávez fala bem de Lula. Por mais que outras forças tentem colocá-los em pontas diferentes, eles compartilham uma proximidade.
Em 2005, no Fórum de Porto Alegre, Chávez foi recebido por uma massa enorme da esquerda no Brasil. Ao discursar, ele disse que apesar de eles não gostarem do que iam ouvir, ele falaria que Lula era um homem bom. O público não gostou, mas Chávez fez questão de ir ao Brasil e mostrar que apóia Lula.
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"Lula e Chávez não são tão diferentes", afirma Wallerstein
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colaboração para a Folha, em Nairóbi
A chegada ao poder das esquerdas em muitos países latino-americanos ocorreu por conta de uma perda real de poder político dos EUA. A opinião é do sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein, 76, pesquisador sênior na Universidade Yale e autor de "O Declínio do Poder Americano".
Depois de chegar ao poder, os governos de esquerda na região enfrentam o desafio de se manter no poder, o que só ocorrerá, segundo Wallerstein, se trabalharem para construir progresso social. O sociólogo compara Lula a Chávez e diz: "Eles não são tão diferentes assim". Presença assídua no Fórum Social, Wallerstein falou à Folha, em Nairóbi, no Quênia.
FOLHA - O sr. é um freqüentador assíduo do Fórum Social Mundial. Qual o mérito do encontro?
IMMANUEL WALLERSTEIN - Foi um feito enorme, que começou com uma iniciativa de um grupo de brasileiros, mas teve uma aceitação global porque preencheu uma necessidade de indivíduos e grupos sociais que lutam contra opressão, globalização e neoliberalismo. É o acontecimento mais importante de resistência na atualidade".
FOLHA - Como o sr. vê a situação atual da América Latina?
WALLERSTEIN - Nós vimos, nos últimos cinco anos, o crescimento de movimentos de esquerda da América Latina, com menor simpatia e influência dos EUA. Isto não teria acontecido algum tempo atrás por causa da influência e poder dos EUA na região no passado. É desconfortável para os EUA ter tantos governos de esquerda no seu quintal. O que mudou? Não o pensamento na América Latina, nem a política dos EUA. O que mudou foi o declínio de poder político real dos EUA no mundo. A região se beneficiou da distração dos EUA em outras partes do mundo para fazer um movimento mais à esquerda. Os EUA vivem uma perda real de poder político.
FOLHA - Quais os desafios desses novos governos?
WALLERSTEIN - O desafio atual dos governos de esquerda da América Latina é o de se sustentarem e, se quiserem se manter no poder, mostrar progresso social de verdade. Foi isso que colocou Lula numa situação difícil, as expectativas do povo e as promessas não cumpridas. Mas ele recebeu uma segunda chance. Terá de mostrar resultados reais se quiser manter seu grupo no poder. Este é o desafio em todos os países: como se manter no poder sendo de esquerda. A alternativa é que deixem de ser de esquerda, mas não é desejável.
FOLHA - Na sua opinião, o presidente Lula ainda é de esquerda?
WALLERSTEIN - Sim, acredito que ainda é um líder de centro-esquerda. Tanto que reúne movimentos sociais --o MST o critica, mas o apóia-- e intelectuais, como Emir Sader, que é um crítico do governo, mas ainda acredita na proposta de Lula. Comparado a [Hugo] Chávez [presidente da Venezuela], Lula pode não parecer de esquerda. Mas eles não são tão diferentes. Lula fala bem de Chávez e Chávez fala bem de Lula. Por mais que outras forças tentem colocá-los em pontas diferentes, eles compartilham uma proximidade.
Em 2005, no Fórum de Porto Alegre, Chávez foi recebido por uma massa enorme da esquerda no Brasil. Ao discursar, ele disse que apesar de eles não gostarem do que iam ouvir, ele falaria que Lula era um homem bom. O público não gostou, mas Chávez fez questão de ir ao Brasil e mostrar que apóia Lula.
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