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26/01/2007 - 09h18

"Derrotados de 64 querem se vingar", diz coronel Ustra

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ITALO NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo, no Rio da Janeiro

O coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra classificou como "revanchistas derrotados" os autores do processo que o aponta como torturador na ditadura militar (1964-85).

A ação é movida em São Paulo por cinco integrantes de uma mesma família. Para o ex-comandante do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) de São Paulo, os acusadores colocam "no banco dos réus aqueles que venceram".

Todos os 500 lugares do salão nobre do Clube Militar, no centro do Rio, estavam ocupados ontem para o almoço em apoio ao oficial. Havia ao menos dois ex-ministros militares: Zenildo Zoroastro de Lucena (governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso) e Bayma Dennis (governos José Sarney e Itamar Franco).

"Viemos aqui apoiar o nosso amigo Ustra", disse Zoroastro de Lucena. Também estava presente o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).

Após o discurso, Ustra afirmou que um grupo de civis estuda a possibilidade de propor uma ação declaratória contra militantes que lutaram contra a ditadura e "praticaram atos terroristas". Segundo ele, a ação serviria "para aqueles que comprovadamente cometeram atos de terrorismo serem declarados terroristas. Eles não querem que eu seja chamado de torturador?".

Citou como exemplo de "terroristas" o chefe da Casa Civil de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira, e o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ). O coronel não apontou os integrantes do grupo que pensa processar ex-militantes de esquerda. Afirmou que a proposta "está em andamento ainda".

O processo seria semelhante ao movido pelo casal Maria Amélia e César Teles, os filhos Janaína e Edson, e Criméia de Almeida, irmã de Amélia: uma ação declaratória, sem visar indenização pecuniária ou punição ao réu.

No discurso, Ustra pediu que os interlocutores não se "iludissem": "Sou o primeiro! Mas não se iludam. Amanhã serão outros. É a vingança dos derrotados de 1964, muitos dos quais hoje se encontram no poder".

Para o militar, a intenção dos militantes de esquerda é revogar a Lei de Anistia (1979). "Estou sendo julgado, apesar da Lei de Anistia, que penso muito em breve será revogada, mas que ainda está em vigor. (...) Assim aconteceu na Argentina, no Chile, no Uruguai."

Narrando o dia em que prendeu a família que agora o processa, em dezembro de 1972, Ustra afirmou que, enquanto manteve preso os pais, deixou os filhos Janaína e Édson na casa de uma policial militar com o consentimento do casal.

"Movido mais pelo coração do que pela razão, achei que essa era a melhor solução", disse. "As crianças foram levadas para a casa da agente. Para que não sentissem a falta dos pais, diariamente eram conduzidos ao DOI para ficar algum tempo, aproximadamente duas horas, com eles".

Em nenhum momento de seu discurso Ustra se referiu ao que aconteceu nos dias em que Amélia, César e Criméia permaneceram presos.

Levantamento da Arquidiocese de São Paulo apontou a unidade militar, na época em que era comandada por Ustra, como um dos principais centros de tortura e morte de opositores do regime militar.

De 1967 a 1974, grupos de esquerda se engajaram na luta armada contra a ditadura --praticaram ações e atentados a bomba, que resultaram em mortes. Nesse período também se concentram as vítimas do regime militar. Ao todo, 376 pessoas teriam sido mortas pela ditadura, somando-se os nomes apontados pelo Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos e pela Comissão Especial de Reconhecimento dos Mortos e Desaparecidos Políticos.

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