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04/03/2007 - 11h23

Drogas chegam às tribos e desestruturam famílias

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da Agência Folha, em Dourados

Fome, alcoolismo e uso de drogas desestruturam famílias indígenas guaranis e caiuás em Mato Grosso do Sul. O resultado disso são crianças desnutridas ou em risco nutricional.

A Folha constatou essa situação em visita a aldeias de Amambaí e Dourados.

"Como dar todo dia comida para as crianças se às vezes não tenho para dar?", pergunta a índia caiuá Élida Vilhalva, 33, mãe de sete filhos, da aldeia de Amambaí. O mais velho tem 15 anos e o mais novo, Aleson, de um ano e seis meses, está com desnutrição grave. Pesa 6,1 kg, mas deveria ter 12 kg, diz a nutricionista da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) Lady Mary Crespão Mallmann.

Há mais de um ano, Vilhalva perdeu o marido. Sem renda, a família passou então a morar em um barraco de aproximados 2 metros de comprimento por 1,50 m de largura, coberto de sapé e restos de lona, no meio de um matagal. Sem cama, a família dorme no chão. Faltam roupas e comida.

"Está fazendo dois meses que não vem a cesta [de alimentos] do governo [do Estado]. Trabalho para ganhar mandioca. Dinheiro mesmo eu não vejo. As crianças comem só mandioca. Recebi uma cesta da Funasa, mas deu para 15 dias."

Aleson passa a semana no Centrinho da Funasa (abrigo que dá alimento a crianças), na aldeia de Amambaí, com mais 33 crianças desnutridas ou em risco nutricional. No fim de semana, fica em casa.

É justamente nos fins de semana que, segundo Lady Mary, a indiazinha desnutrida Joseane, de um ano e três meses, costuma perder 200 gramas. Na semana, a menina engorda, pois fica no Centrinho.

De sexta à noite a segunda-feira pela manhã, Joseane perde peso devido à situação da mãe, Olinda Ribeiro, 25, grávida (não sabe de quanto meses) e alcoólatra, segundo a Funasa.

Além do álcool, as drogas chegaram às aldeias. Maricleide Isnarde, 28, precisou ser resgatada na aldeia Bororó, em Dourados, por uma equipe da Funasa, na noite de terça-feira, com seis crianças --a mais velha com nove anos e a menor, de dois meses de vida.

Drogado, segundo constatou a Funasa, o marido bateu em Isnarde e ameaçou as crianças. Três delas são irmãs de Isnarde, cuja mãe morreu, e as outras três são filhas dela. Outros dois filhos ficaram na aldeia.

"Ele [o marido] queria dinheiro para comprar droga. Eu queria guardar para a comida", afirmou Isnarde. A família foi levada para a Casa do Índio (um abrigo da Funasa) na cidade, que já abrigava quatro crianças --três desnutridas.

O marido deverá passar por um programa de recuperação de usuário de drogas. Segundo a Funasa, a droga mais difundida nas aldeias de MS é a pasta-base de cocaína.

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