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10/05/2007
-
09h53
RICARDO FELTRIN
Editor-chefe da Folha Online
Cinco meses de ensaios, cerca de R$ 8.000 gastos do próprio bolso, três dias de gravações no clube A Hebraica acompanhadas por um engenheiro de som profissional. Esse foi o investimento que o núncio apostólico no Brasil, d. Lorenzo Baldisseri, 65, fez para presentear Bento 16: hoje ele deve entregar nas mãos do papa um CD no qual interpreta 12 músicas de conhecidos compositores clássicos.
A visita de Bento 16 em tempo real
Além do CD, o núncio pretende tocar piano para o papa durante sua visita. Até sexta, ambos terão um jantar reservado no mosteiro de São Bento. A expectativa é que o papa, que também é pianista, dê uma "canja" --algo que é completamente fora do protocolo, mas não no caso de Bento 16, que ainda pratica piano, e às vezes órgão.
Afinco
Dom Lorenzo --que faz o papel de embaixador do Vaticano no Brasil-- começou os ensaios para gravar o CD ainda no ano passado. Foi auxiliado na empreitada pelo maestro João Carlos Martins, que lhe deu aulas particulares em sua própria casa, nos Jardins, em São Paulo. No CD, o núncio gravou peças de Isaac Albéniz (1860-1909), Frédéric Chopin (1810-1849), Erik Satie (1866-1925) e Claude Debussy (1862-1918).
Durante os ensaios, o religioso se "empenhou" tanto que chegou a quebrar uma corda (um lá superior) do piano Petroff de Martins.
A intensa dedicação do núncio tem motivo: ele não pode fazer feio. Bento 16 é considerado um exímio pianista que se formou, na juventude, no prestigioso Conservatório de Berlim. O papa apresentou em sua graduação pianística as dificílimas sonatas op. 109, 110 e 111 de Ludwig van Beethoven (1770-1827) (ouça Beethoven na rádio UOL). São as últimas sonatas do compositor alemão, peças de execução extremamente complexa.
"Dom Lorenzo foi disciplinadíssimo durante as aulas e seu 'upgrade' foi visível e audível", elogia Martins, criador e maestro da Bachiana Orquestra.
Serão cerca de 1.000 cópias do CD, que d. Lorenzo deverá lançar em um evento em Brasília, após a despedida do papa. O que for arrecadado com a venda dos CD's será revertido para entidades assistenciais.
Gravação tortuosa
A gravação do CD que d. Lorenzo presenteará o papa foi marcada por atribulações, segundo apurou a Folha Online. No dia 21 de janeiro o núncio obteve gentilmente de A Hebraica a reserva de três dias para a gravação. Ficou acertado que essa gravação ocorreria na segunda semana de março.
O local escolhido se deve ao fato de que o piano do clube israelita em São Paulo --um Steinway, de US$ 100 mil-- tem talvez o mais belo timbre entre os Steinway existentes no Brasil. Alguns pianos são como seres vivos. São tão bem construídos que adquirem personalidade, voz, quase um espírito. Os graves dos Steinway, por exemplo, assombram a qualquer um.
Oito dias depois, sem explicar o motivo, d. Lorenzo cancelou a gravação na Hebraica e decidiu transferi-la para o mosteiro de São Bento, no centro de São Paulo.
Somente no dia 10 de março o núncio foi informado que não seria possível fazer a gravação no mosteiro. Por dois motivos: 1º) O mosteiro não conseguira alugar um Steinway do mesmo nível que o da Hebraica; 2º) o local não contava com proteção acústica; ou seja, o som da rua poderia ser captado durante a gravação, prejudicando-a.
Desesperado com a proximidade da visita de Bento 16, o núncio correu para tentar reservar novamente a Hebraica. Conseguiu a gentileza de novo. A gravação ocorreu nos dias 10, 11 e 12 de abril.
Cristãos e Judeus
A Folha Online apurou que a tentativa de mudança de local ocorreu porque d. Lorenzo não queria incluir no encarte do CD um agradecimento à Hebraica. Ele queria gravar lá, mas não queria ser obrigado (por educação) a agradecer ao clube pelo espaço (e soberbo piano) cedido.
Achou que "não pegaria bem" citar uma religião que não a católica (o judaísmo) num presente ao papa (no encarte). No entanto, o próprio núncio acabou mudando de idéia --seja porque foi demovido por pessoas próximas ou por "questão logística". O CD que dará de presente ao papa inclui um agradecimento à Hebraica.
Nenhuma das pessoas envolvidas na gravação do CD quis falar com a reportagem a respeito. A Folha Online tentou falar com d. Lorenzo durante três dias, deixou telefones de contato, mas foi informada que ele estava ocupado demais com a visita do sumo pontífice.
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Editor-chefe da Folha Online
Cinco meses de ensaios, cerca de R$ 8.000 gastos do próprio bolso, três dias de gravações no clube A Hebraica acompanhadas por um engenheiro de som profissional. Esse foi o investimento que o núncio apostólico no Brasil, d. Lorenzo Baldisseri, 65, fez para presentear Bento 16: hoje ele deve entregar nas mãos do papa um CD no qual interpreta 12 músicas de conhecidos compositores clássicos.
A visita de Bento 16 em tempo real
Alan Marques/Folha Imagem |
Nuncio apostólico d. Lorenzo vai entregar ao papa um CD no qual toca 12 clássicos ao piano |
Afinco
Dom Lorenzo --que faz o papel de embaixador do Vaticano no Brasil-- começou os ensaios para gravar o CD ainda no ano passado. Foi auxiliado na empreitada pelo maestro João Carlos Martins, que lhe deu aulas particulares em sua própria casa, nos Jardins, em São Paulo. No CD, o núncio gravou peças de Isaac Albéniz (1860-1909), Frédéric Chopin (1810-1849), Erik Satie (1866-1925) e Claude Debussy (1862-1918).
Durante os ensaios, o religioso se "empenhou" tanto que chegou a quebrar uma corda (um lá superior) do piano Petroff de Martins.
A intensa dedicação do núncio tem motivo: ele não pode fazer feio. Bento 16 é considerado um exímio pianista que se formou, na juventude, no prestigioso Conservatório de Berlim. O papa apresentou em sua graduação pianística as dificílimas sonatas op. 109, 110 e 111 de Ludwig van Beethoven (1770-1827) (ouça Beethoven na rádio UOL). São as últimas sonatas do compositor alemão, peças de execução extremamente complexa.
"Dom Lorenzo foi disciplinadíssimo durante as aulas e seu 'upgrade' foi visível e audível", elogia Martins, criador e maestro da Bachiana Orquestra.
Serão cerca de 1.000 cópias do CD, que d. Lorenzo deverá lançar em um evento em Brasília, após a despedida do papa. O que for arrecadado com a venda dos CD's será revertido para entidades assistenciais.
Gravação tortuosa
A gravação do CD que d. Lorenzo presenteará o papa foi marcada por atribulações, segundo apurou a Folha Online. No dia 21 de janeiro o núncio obteve gentilmente de A Hebraica a reserva de três dias para a gravação. Ficou acertado que essa gravação ocorreria na segunda semana de março.
Divulgação |
Piano Steinway, um dos melhores do mundo, foi usado na gravação do CD do núncio |
Oito dias depois, sem explicar o motivo, d. Lorenzo cancelou a gravação na Hebraica e decidiu transferi-la para o mosteiro de São Bento, no centro de São Paulo.
Somente no dia 10 de março o núncio foi informado que não seria possível fazer a gravação no mosteiro. Por dois motivos: 1º) O mosteiro não conseguira alugar um Steinway do mesmo nível que o da Hebraica; 2º) o local não contava com proteção acústica; ou seja, o som da rua poderia ser captado durante a gravação, prejudicando-a.
Desesperado com a proximidade da visita de Bento 16, o núncio correu para tentar reservar novamente a Hebraica. Conseguiu a gentileza de novo. A gravação ocorreu nos dias 10, 11 e 12 de abril.
Cristãos e Judeus
A Folha Online apurou que a tentativa de mudança de local ocorreu porque d. Lorenzo não queria incluir no encarte do CD um agradecimento à Hebraica. Ele queria gravar lá, mas não queria ser obrigado (por educação) a agradecer ao clube pelo espaço (e soberbo piano) cedido.
Achou que "não pegaria bem" citar uma religião que não a católica (o judaísmo) num presente ao papa (no encarte). No entanto, o próprio núncio acabou mudando de idéia --seja porque foi demovido por pessoas próximas ou por "questão logística". O CD que dará de presente ao papa inclui um agradecimento à Hebraica.
Nenhuma das pessoas envolvidas na gravação do CD quis falar com a reportagem a respeito. A Folha Online tentou falar com d. Lorenzo durante três dias, deixou telefones de contato, mas foi informada que ele estava ocupado demais com a visita do sumo pontífice.
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