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11/05/2007
-
11h29
Texto publicado originalmente em 15 de setembro de 2001
RICARDO FELTRIN
Editor-chefe da Folha Online
Uma religião sem orações ou rituais, a cientologia ficou conhecida por despertar polêmica e por atrair famosos astros de Hollywood. Tom Cruise e John Travolta são só duas das estrelas que frequentam essa religião, idealizada pelo norte-americano Ron Hubbard na década de 50, cujo "boom" aconteceu nos anos 90.
O que a cientologia propõe é levar o indivíduo a um estado de consciência chamado "clear" (limpo). Essa limpeza é a eliminação do que chamam de mente reativa --que por sua vez é, grosso modo, um lugar que todos nós temos no cérebro, onde estão registrados os traumas e as fobias, todas as "tristezas", todas as imagens e sensações de dor ou sofrimento.
Para eliminar a mente reativa [e de forma rápida, segundo a religião] há uma tríade de atitudes indispensáveis para o cientólogo:
1) fazer leituras e estudos profundos das obras sobre a dianética (de Ron Hubbard);
2) práticas diárias de técnicas e exercícios descritos nos livros;
3) participar de "misteriosas" sessões onde um aparelho criado por Hubbard, chamado e-meter, é seguro com as duas mãos pelo praticante, enquanto ele responde a um questionário.
O e-meter registra ondas cerebrais específicas. Para mexer com essas ondas, o mestre cientólogo faz uma sessão de perguntas muito delicadas ao discípulo da igreja.
É como se o questionário do mestre mexesse exatamente nas "feridas psíquicas" de alguém que se submete a isso voluntariamente. Lembranças, sensações e imagens ruins e traumáticas estariam armazenadas em algum lugar na mente. O aparelho abriria uma porta e começaria a "faxina mental".
A provável dor de mexer nesses pontos da vida poderia ter a força de limpar a mente, segundo a cientologia. Com o tempo, essas 'porcarias' deixariam de existir e o cientólogo passa a ter, principalmente, mais energia e espaço mental para usar. Ou seja, mais poder.
Essa é a idéia de Hubbard, que morreu em 1986. Seu mais conhecido livro é "Dianética" (Bridge, 187 pgs.).
No mundo e no Brasil
Há anos há pessoas em vários países da Europa e nos EUA que combatem a cientologia, tanto na esfera política como na judicial. Sem sucesso.
Embora seja chamada de religião, as técnicas dela assemelham-se mais a uma terapia. Mesmo assim, países como Alemanha chegaram a tentar proibir sua difusão, seu crescimento.
As armas governamentais --muitos de seus inimigos alegam que a igreja faz lavagem cerebral-- são geralmente grandes devassas do Fisco sobre as propriedades da cientologia e de seus discípulos.
Países democráticos, no entanto, têm sido seguidamente derrotados nos seus próprios tribunais. Mas a cientologia continua absolutamente proibida em países do Oriente Médio e, mais ainda, na China.
Além de ser alvo de combate político, a cientologia também é motivo de chacota na TV, e já foi tema de desenhos sarcásticos como o politicamente incorreto "South Park".
Todos os cursos ministrados dentro da igreja são pagos, e podem custar de R$ 400 a milhares de reais. As sessões de 'audição' com o e-meter também são pagas. Também há cursos dedicados ao tratamento de dependentes químicos.
O tratamento hoje já existe no Brasil e é ministrado pela Narconon. Trata-se de uma propriedade localizada em Minas Gerais, que inclui reclusão de dependentes e um tratamento rigoroso (e caro). O programa alega ter mais de 70% de não-reincidência dos dependentes.
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RICARDO FELTRIN
Editor-chefe da Folha Online
Uma religião sem orações ou rituais, a cientologia ficou conhecida por despertar polêmica e por atrair famosos astros de Hollywood. Tom Cruise e John Travolta são só duas das estrelas que frequentam essa religião, idealizada pelo norte-americano Ron Hubbard na década de 50, cujo "boom" aconteceu nos anos 90.
O que a cientologia propõe é levar o indivíduo a um estado de consciência chamado "clear" (limpo). Essa limpeza é a eliminação do que chamam de mente reativa --que por sua vez é, grosso modo, um lugar que todos nós temos no cérebro, onde estão registrados os traumas e as fobias, todas as "tristezas", todas as imagens e sensações de dor ou sofrimento.
Para eliminar a mente reativa [e de forma rápida, segundo a religião] há uma tríade de atitudes indispensáveis para o cientólogo:
1) fazer leituras e estudos profundos das obras sobre a dianética (de Ron Hubbard);
2) práticas diárias de técnicas e exercícios descritos nos livros;
3) participar de "misteriosas" sessões onde um aparelho criado por Hubbard, chamado e-meter, é seguro com as duas mãos pelo praticante, enquanto ele responde a um questionário.
O e-meter registra ondas cerebrais específicas. Para mexer com essas ondas, o mestre cientólogo faz uma sessão de perguntas muito delicadas ao discípulo da igreja.
É como se o questionário do mestre mexesse exatamente nas "feridas psíquicas" de alguém que se submete a isso voluntariamente. Lembranças, sensações e imagens ruins e traumáticas estariam armazenadas em algum lugar na mente. O aparelho abriria uma porta e começaria a "faxina mental".
A provável dor de mexer nesses pontos da vida poderia ter a força de limpar a mente, segundo a cientologia. Com o tempo, essas 'porcarias' deixariam de existir e o cientólogo passa a ter, principalmente, mais energia e espaço mental para usar. Ou seja, mais poder.
Essa é a idéia de Hubbard, que morreu em 1986. Seu mais conhecido livro é "Dianética" (Bridge, 187 pgs.).
No mundo e no Brasil
Há anos há pessoas em vários países da Europa e nos EUA que combatem a cientologia, tanto na esfera política como na judicial. Sem sucesso.
Embora seja chamada de religião, as técnicas dela assemelham-se mais a uma terapia. Mesmo assim, países como Alemanha chegaram a tentar proibir sua difusão, seu crescimento.
As armas governamentais --muitos de seus inimigos alegam que a igreja faz lavagem cerebral-- são geralmente grandes devassas do Fisco sobre as propriedades da cientologia e de seus discípulos.
Países democráticos, no entanto, têm sido seguidamente derrotados nos seus próprios tribunais. Mas a cientologia continua absolutamente proibida em países do Oriente Médio e, mais ainda, na China.
Além de ser alvo de combate político, a cientologia também é motivo de chacota na TV, e já foi tema de desenhos sarcásticos como o politicamente incorreto "South Park".
Todos os cursos ministrados dentro da igreja são pagos, e podem custar de R$ 400 a milhares de reais. As sessões de 'audição' com o e-meter também são pagas. Também há cursos dedicados ao tratamento de dependentes químicos.
O tratamento hoje já existe no Brasil e é ministrado pela Narconon. Trata-se de uma propriedade localizada em Minas Gerais, que inclui reclusão de dependentes e um tratamento rigoroso (e caro). O programa alega ter mais de 70% de não-reincidência dos dependentes.
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