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13/09/2004 - 05h56

Criacionistas fazem barulho na academia

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LAURA NELSON
free-lance para a Folha de S.Paulo

A guerra entre cientistas e críticos da teoria da evolução foi reacendida depois da publicação de um artigo num periódico científico norte-americano sobre o chamado "design inteligente", que, segundo os cientistas, não passa do velho criacionismo disfarçado.

Esse conflito vem se arrastando há muito tempo nos EUA, país em que críticos da teoria do Darwin preferem que uma teoria alternativa --que sugere que os animais são resultado de um mecanismo inteligente, não do processo cego da seleção natural-- seja ensinada nas escolas.

Os cientistas estão preocupados. Eles acham que o artigo, publicado no dia de 28 de agosto na revista "Proceedings of the Biological Society of Washington", será usado para apoiar argumentos contra a teoria da evolução.

Regra de ouro

O periódico tem poucos leitores e é considerado de baixíssimo impacto entre as publicações científicas. No entanto, para ser publicado, teve de passar pelo crivo de três revisores, no processo conhecido como "peer-review" --regra de ouro para uma publicação científica. Os três disseram que o artigo era apropriado.

"Há muito tempo os criacionistas tentam publicar suas idéias em um periódico com "peer-review'", diz Eugenie Scott, diretora do Centro Nacional de Educação Científica na Califórnia (EUA), que defende o ensino da evolução nas escolas americanas.

Scott diz que esse é o primeiro artigo sobre "design inteligente" com "peer-review". "Agora, os defensores do "design inteligente" vão usar isso como propaganda."

O autor do artigo, Stephen Meyer, é membro do Instituto da Descoberta, em Seattle, organização que promove --apaixonadamente-- a teoria do "design inteligente" e critica a evolução de Darwin e a seleção natural.

Os críticos do artigo dizem que não há nenhuma idéia nova nele. "Quando lemos o artigo, nós o achamos muito parecido com coisas que vimos antes", disse Scott à Folha.

Em resposta ao artigo de Meyer, cientistas publicaram uma longa crítica no website "Panda's Thumb" (www.pandasthumb.org), que apóia a teoria de evolução. A crítica aponta erros, confusões e omissões.

Dois pesos

O Instituto de Descoberta argumentou, na última quarta-feira, que os evolucionistas diziam que o "design inteligente" não era ciência porque periódicos com "peer-review" não o publicavam. "As pessoas do Centro Nacional de Educação Científica parecem aceitar o "peer-review" quando ele confirma suas conclusões pré-concebidas" diz John West, diretor-adjunto do Centro para Ciência e Cultura do instituto.

Mas Scott acha que o artigo não seguiu as regras normais de publicação. Ele não foi, por exemplo, examinado por um conselho editorial, que é o procedimento regular para publicações científicas.

A Sociedade Biológica de Washington, que tem 250 membros, admitiu que o artigo não era apropriado para publicação e foi publicado sem o conhecimento do seu conselho editorial. "Esse assunto [o "design inteligente"] não será abordado em edições futuras da "Proceedings'", declarou o conselho da sociedade.

Mão grande

O editor da revista na época em que o artigo foi publicado era Richard Sternberg, taxonomista do Centro Nacional para Informação Biotecnológica em Maryland (EUA). Sternberg é também membro do conselho editorial do chamado Grupo de Estudo de Baraminologia, que apoia idéias criacionistas. Sternberg diz que o artigo foi examinado por três biólogos de "universidades e institutos de pesquisa importantes".

Stephen Meyer não respondeu aos e-mails da Folha. Mas Rob Crowther, diretor de comunicação do Centro para Ciência e Cultura do Instituto da Descoberta, faz questão de distinguir "design inteligente" de criacionismo. "Teóricos do design, como o dr. Meyer, desenvolvem suas teorias sobre os sistemas vivos com base em evidência científica", afirma.

Robert Pinnock, um crítico da teoria do "design inteligente" na Universidade do Estado de Michigan (EUA), acha que o artigo não fornece evidências que apóiem a tese. "O artigo simplesmente diz que o "design inteligente" está lá. O artigo não diz como ele explicaria a ausência da seleção natural."

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