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17/02/2005 - 18h16

Carbono vai virar commoditie com o Protocolo de Kyoto, diz pesquisador

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PALOMA VARÓN
da Folha Online

Apesar da não ratificação dos EUA e de as metas a serem cumpridas pelos países signatários ao Protocolo de Kyoto serem consideradas modestas, a comunidade científica está otimista com o acordo. O coordenador do Laboratório de Física Atmosférica da USP e do Instituto do Milênio da Amazônia, Paulo Artaxo, é um deles.

Para ele, o protocolo é só o começo de um processo de redução e controle da emissão de gases responsáveis pelo aquecimento global. Artaxo defende que é interessante economicamente para os 141 países signatários cumprir as metas e diz que o carbono vai virar uma commoditie na bolsa. Leia trechos da entrevista concedida por ele à Folha Online.

Folha Online - Como o Brasil -- não tendo metas a cumprir, por não ser um país industrializado -- se insere no protocolo?
Paulo Artaxo - O Brasil tem uma posição de liderança extremamente importante entre os países em desenvolvimento. Uma das pessoas-chave na implantação do protocolo foi o professor Gilvan Meira, um brasileiro. Foi ele quem criou o MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. o Brasil tem interesse em reduzir suas emissões, das quais 75% vêm do desmatamento da Amazônia. Nós queimamos anualmente 25 mil km de florestas primárias.

FOL - O Brasil tem alguma meta interna, alguma política para diminuir as emissões de gases causadores do efeito estufa?
Artaxo - Ainda não, mas vai existir muito rapidamente. Os próprios países vão implementar essas metas rapidamente. Economicamente vai ser um bom negócio. Vamos ter uma infra-estrutura do setor energético muito mais eficiente, usando menos energia e com um padrão industrial mais limpo e sustentável.

FOL - Essas metas são possíveis de serem alcançadas?
Artaxo - Sem dúvida. E a um custo relativamente modesto. Tanto que 141 países assinaram o documento, isso não foi à toa. Os EUA não assinaram porque Bush foi eleito pelas indústrias do petróleo e do armamento, que são as que mais poluem. Ele não vai querer ir contra elas agora.

FOL - E o acordo vai funcionar sem a participação dos EUA?
Artaxo - Vai, sim. Pode ter uma eficiência um pouco menor. Mas acho inevitável que daqui a alguns anos sejam feitos adendos no protocolo para incluir questões que os EUA considerem importantes. Eles vão acabar aderindo a esse ou a um próximo protocolo, porque Kyoto é só o início de um processo de controle de emissão de gases. É bastante modesto nas metas e nas punições.

FOL - O fato de a base para se estabelecer as metas ser antiga (1990) não torna o protocolo um tanto defasado?
Artaxo - Acho que não, pois a maior parte dos países signatários já atingiu sua meta, mesmo antes da implantação do acordo. A Rússia, que em 1990 tinha uma indústria bem mais poluidora, hoje polui bem menos. O Brasil também, com o Proálcool, passou a poluir menos. Os EUA não, eles aumentaram a emissão de gases ao longo desses anos.

FOL - Como fica a questão dos créditos de emissões de gases entre os países?
Artaxo - A maneira exata de implementação desse mercado de trocas de emissão de Carbono ainda não está completamente estabelecida. O mercado ainda não existe, mas vai se estabelecer rapidamente. Emissões de carbono serão commodities na bolsa de valores.

FOL - Como foram escolhidos esses seis gases que têm que ter emissão diminuída. Por que só estes, se há outros que também são responsáveis pelo aquecimento global?
Artaxo - Porque esses são os gases mais importantes. Em outras fases do protocolo, outros gases podem ser controlados. Neste ano ou no ano que vem já deve ter início uma nova rodada de negociações e podem haver novas metas, novos mecanismos a serem implantados. Mas já houve outros acordos que coibiram a emissão de outros gases. No caso do CFC (clorofluorcarbono), por exemplo, isso já está praticamente resolvido.

FOL - O que vai acontecer com quem não cumprir as metas?
Artaxo - Não existem penalidades. é mais uma obrigação moral e política dos países signatários. O Brasil tem todo o interesse em cumprir metas, mesmo não sendo obrigado formalmente. É uma questão de política internacional. Mas ainda não existe um mecanismo de fiscalização global, isso é muito difícil de fazer.
 

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