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17/05/2005 - 09h40

Célula do fígado turbinada produz insulina, diz estudo

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

O fígado pode fazer o papel do pâncreas em certos casos. É o que sugere uma pesquisa realizada em Israel. Os cientistas conseguiram, em laboratório, converter células hepáticas em produtoras de insulina, e acreditam que a técnica possa futuramente ser usada no combate ao diabetes tipo 1.

O estudo já resultou em tratamento --mas só de camundongos. Os roedores diabéticos tiveram melhora em sua condição de hiperglicemia (excesso de açúcar no sangue) por 60 dias, depois de tratados com células do fígado modificadas para esse fim.

Quem fez o serviço de "conversão" de células foi um usual vilão do dia-a-dia, um adenovírus, causador de resfriados. Os cientistas tiraram dele seus genes originais e colocaram no lugar uma cópia de um gene humano ligado à função de produção de insulina das células beta, do pâncreas.

Depois disso, "infectaram" a cultura de células hepáticas extraídas de um ser humano com o vírus. O procedimento fez com que as células se convertessem em "beta", produtoras de insulina --substância que regula a presença de açúcar no organismo.

O próximo passo lógico seria reinjetar essas células de volta no paciente, onde elas se comportariam como produtoras de insulina substitutas das células inutilizadas do pâncreas. Mas os cientistas liderados por Sarah Ferber, do Centro Médico Sheba, ainda não foram tão longe. Fizeram isso apenas com camundongos, e os resultados foram animadores.

"Induzir o redirecionamento de desenvolvimento do fígado adulto oferece o potencial para uma terapia de substituição de células para diabéticos, permitindo que o paciente seja o doador do seu próprio tecido produtor de insulina", escreveram os cientistas, em artigo publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, a "PNAS".

O diabetes tipo 1 ocorre cedo na vida, por conta de uma falha do sistema imunológico --ele não reconhece as células produtoras de insulina como pertencentes ao organismo e as ataca. Resultado: o sujeito já não pode mais controlar os níveis de açúcar no sangue com a insulina feita no pâncreas.

O tratamento hoje consiste em injeções regulares de insulina. Técnicas para cura da doença existem, mas têm sucesso relativo. Uma das mais eficientes é o transplante de células do pâncreas de um indivíduo morto. Mas a técnica envolve todos risco de rejeição e não pode servir a todos --há mais diabéticos do que cadáveres disponíveis.

A nova técnica contorna esses problemas, mas traz polêmicas adicionais, pois faz uso de terapia genética, tendo por "instrumento" um vírus. "A questão da geneterapia é um tópico quente", comentam Irene Cozar-Castellano e Andrew Stewart, da Universidade de Pittsburgh, EUA, na "PNAS". "Os adenovírus adquiriram uma má reputação como vetores de terapia genética porque induzem respostas imunes nos hospedeiros." Ou seja, o organismo detecta sua presença e tenta eliminá-lo.

Com camundongos, a técnica teve sucesso nos 60 dias em que os cientistas monitoraram os animais. O período terá de ser ampliado em novos testes. "Sessenta dias podem ser um bom tempo na vida de um camundongo, mas o diabetes tipo 1 em humanos é uma doença de várias décadas", dizem os cientistas de Pittsburgh.

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