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12/10/2005 - 09h19

Fósseis confirmam identidade de "hobbit"

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

A saga dos "hobbits" da Indonésia, os mini-hominídeos de 1,1 m que andam deixando os antropólogos de queixo caído, acaba de ganhar oito novos personagens. Parece que os membros recém-chegados do elenco confirmam que se trata mesmo de uma espécie de humano primitivo, o Homo floresiensis, e não de pessoas com doenças genéticas, como propõem alguns pesquisadores.

Os novos espécimes --uma coleção de cacos, que vão da mandíbula aos ossos dos membros-- foram desenterrados e descritos pela mesma equipe australiano-indonésia que apresentou o primeiro membro da espécie ao mundo, há quase um ano.

Para Mike Morwood, da Universidade da Nova Inglaterra em Armidale (Austrália), e seus colegas, os achados provam que as criaturas habitaram a ilha de Flores por dezenas de milhares de anos, fabricando instrumentos de pedra, fazendo fogo e caçando um parente anão dos elefantes, o Stegodon. Foi o tamanho diminuto que deu ao H. floresiensis o apelido de "hobbit", por analogia com os personagens de mesmo nome na saga "O Senhor dos Anéis".

O estudo sai na edição de quinta-feira da revista científica britânica "Nature" e tem como um de seus principais astros o queixo de um dos hominídeos-anões --ou melhor, a falta dele.

A mandíbula, junto com todos os outros restos da espécie, havia sido emprestada pelo antropólogo indonésio Teuku Jacob, da Universidade Gadjah Mada em Yogyakarta. Jacob diz acreditar que os fósseis sofrem de microcefalia, doença genética que leva ao encolhimento do cérebro, e, segundo os australianos, acabou danificando seriamente os espécimes na tentativa de obter moldes deles. "Não tivemos chance de estudar essa segunda mandíbula em detalhe antes que ela fosse danificada", disse Morwood à Folha. Jacob nega ter causado os danos.

Seja como for, o que sobrou do espécime mostra que os "hobbits" não tinham a protuberância óssea que forma o queixo. Trata-se de uma característica única dos humanos modernos, o que, para os australianos, fortalece a exclusão do H. floresiensis da categoria.

Vários métodos de datação indicam uma presença que começou por volta de 90 mil anos atrás e vai quase até o fim da Era do Gelo, há 12 mil anos. Isso confirmaria o papel dos "hobbits" como os hominídeos que mais tempo sobreviveram na Terra antes que os humanos modernos triunfassem.

Retrato de família

Apesar de os achados serem fragmentários, é possível estimar a presença de nove indivíduos sem medo de errar por causa da sobreposição entre os ossos (ninguém tem duas tíbias direitas, por exemplo). Há pelo menos uma criança, reconhecível pelo fato de que as extremidades do osso ainda não tinham se fundido, porque ainda precisavam de espaço para crescer. Os novos achados também incluem o braço da primeira "hobbit", até então não descrito.

"São indivíduos que compõem um conjunto internamente consistente, estendendo-se por 80 mil anos, e não há nada neles que pareça patológico", avaliou o antropólogo Greg Laden, da Universidade de Minnesota (EUA).

Já Robert Martin, antropólogo do Museu Field de Chicago para quem os indivíduos de Flores não passam de humanos modernos com microcefalia, diz que ainda não está convencido. "Em princípio, a falta de queixo não é um problema porque, em alguns tipos de microcefalia, ele também não se desenvolve", declarou. Para Martin, não seria impossível que vários indivíduos da mesma família estejam representados.

"Os descobridores dos fósseis afirmam que há uma diferença de 3.000 anos de idade entre essa nova mandíbula e a anterior. Se isso for verdade, fica difícil argumentar que a mesma patologia persistiu por tanto tempo. Contudo, não estou convencido de que seja possível datar os espécimes com essa precisão", criticou.

Morwood parecem mais preocupado com o futuro das escavações em Liang Bua. Por causa do confronto com Jacob, que é uma lenda da antropologia indonésia, os pesquisadores resolveram "adiá-las até que a coisa esfriasse", diz ele. "Nossa prioridade agora é publicar todos os achados do sítio e continuar a trabalhar em outros lugares de Flores e de Java."

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