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13/10/2005 - 09h25

Dinossauro da Argentina ajuda a entender aves

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Se alguém ainda duvida da proximidade entre aves e dinossauros na árvore da evolução, convém dar uma olhada num bizarro dino argentino que está sendo apresentado ao mundo hoje. Fora as penas --ninguém ainda sabe se ele as tinha mesmo-- o bicho apresenta um intrigante mosaico de traços dos dois grupos e talvez até planasse um pouco.

Mais importante que a anatomia, no entanto, são a idade e as relações familiares do Buitreraptor gonzalezorum ("Gonzalo", para os íntimos), que viveu na Argentina há uns 95 milhões de anos. Elas mostram que as aves devem descender mesmo dos dromeossaurídeos, grupo que inclui o famigerado Velociraptor do filme "Parque dos Dinossauros".

Mais ou menos do tamanho de um pavão moderno (1,5 m, incluindo uma cauda comprida), o bicho era um predador peso-pluma, de braços longos e ossos do peito muito semelhantes aos das aves. "As proporções dos membros são muito semelhantes às de dinossauros que tinham algumas capacidades aerodinâmicas. Não achamos que conseguissem decolar sozinhos, mas planar é uma possibilidade", disse à Folha o paleontólogo Peter Makovicky, do Museu Field, em Chicago (EUA).

Junto com Sebastián Apesteguía e Federico Agnolín, ambos do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, Makovicky assina a descrição da nova espécie na edição de hoje da revista científica britânica "Nature". Como várias das descobertas sobre dinos dos últimos tempos, o fóssil (um esqueleto quase inteiro) vem do noroeste da Patagônia, a uns 1.300 km de Buenos Aires.

Papa-léguas

Os dromeossaurídeos ("lagartos corredores", em grego latinizado), grupo ao qual pertence o Buitreraptor, estão entre os predadores mais bem-sucedidos da era dos dinos, e até poucos anos atrás havia pouco ou nenhum registro de sua presença na América do Sul. Neste ano, o paleontólogo argentino Fernando Novas havia quebrado essa escrita descrevendo uma nova espécie do grupo, mas o bicho não passava de fragmentos das patas.

A coisa muda de figura com "Gonzalo". Uma das coisas esquisitas do bicho é justamente o crânio praticamente intacto. O focinho é muito comprido e afilado perto de outros membros do grupo. Os dentes têm menos de 5 mm e não contam com as bordas serrilhadas comuns em quase todos os outros dinos carnívoros.

"Em animais vivos, isso permite uma mordida mais rápida, mas com menos força. Isso sugere que ele estava adaptado a capturar presas pequenas e ariscas", diz Makovicky. Almoço desse gênero não faltava na Patagônia de então, de lagartos a mamíferos primitivos. "Por causa do tamanho dos dentes, tem-se a impressão enganosa de que ele tinha um bico", explica o paleontólogo.

As penas da reconstrução do animal foram colocadas por analogia com dromeossaurídeos chineses, "que são parentes próximos", diz Makovicky. Mas a verdadeira importância do achado para a relação entre dinos e aves vem mesmo do fato de o animal claramente representar uma linhagem independente do grupo na América do Sul --as outras são todas do hemisfério Norte.

É que uma das aparentes incongruências da ligação entre dromeossaurídeos e aves, apesar de estar quase tudo certo no quesito anatomia, era o fato de que a mais antiga ave tem uns 150 milhões de anos, enquanto seus "primos" dinos só aparecem há uns 100 milhões de anos. Mas a América do Sul (então parte do supercontinente Gondwana) se separou das terras do hemisfério Norte bem antes, há uns 180 milhões de anos.

Ora, isso é uma evidência "indireta, mas importante" de que os dromeossaurídeos evoluíram primeiro e se espalharam por todo o planeta antes de dar origem às aves, conclui Makovicky.

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