Publicidade
Publicidade
02/06/2006
-
09h45
ANA PAULA CORRADINI
Colaboração para a Folha de S.Paulo
Arqueólogos israelenses descobriram que a figueira foi a primeira planta domesticada pelo homem, há 11,4 mil anos. O figo tira o posto do trigo e da cevada, domesticados há 10,5 mil anos na Turquia e na Síria e que até hoje eram considerados as espécies vegetais cultivadas há mais tempo. Ou seja, a agricultura surgiu pelo menos mil anos mais cedo.
No estudo, publicado na revista "Science", Mordechái Kislev, da Universidade Bar-llan, em Israel, conta que estudou nove figos secos inteiros e mais 313 drupéolas (a polpa da fruta) no sítio arqueólogico de Gilgal 1, abandonado há 11 mil anos, a 12 km ao norte de Jericó, na Cisjordânia, território palestino
Até então, pensava-se que o figo tinha sido domesticado há 6.500 anos, mas testes revelaram que as frutas eram quase 5.000 anos mais antigas.
Os figos encontrados são da espécie Ficus caricas (a mesma consumida hoje) e pertencem a uma variedade que se forma e amadurece sem polinização, com sementes estéreis. Em vez de cair da árvore, eles permanecem na figueira até ficarem mais doces e macios.
Seleção artificial
A um certo ponto, os humanos devem ter percebido que as sementes não produziam novas árvores e resolveram fazer o plantio de mudas. "A mente humana deu uma virada, pois o homem deixou de apenas explorar a terra para modificar o ambiente de acordo com suas necessidades", afirma o israelense Ofer Bar-Yosef, arqueólogo da Universidade Harvard (EUA), co-autor do estudo.
E como os fazendeiros do Neolítico fizeram isso? Experimentando. Eles elegiam as árvores com os melhores figos e plantavam suas mudas, até chegar a uma fruta mais gostosa. De acordo com o estudo, os habitantes de Gilgal 1 também levavam mudas de figueiras para fazer pomares em outros locais, tanto que drupéolas similares apareceram a 1,5 km dali.
"Outro fator muito importante é que os figos foram encontrados secos. Isso demonstra que já existiam técnicas de conservação para os alimentos, para que eles não tivessem que ser consumidos na hora e durassem mais", explica Rita Scheel-Ybert, antracóloga (especialista em carvão arqueológico) do Museu Nacional.
Com o cultivo do figo, o homem deixou para trás 2,5 milhões de anos de história como apenas caçador e coletor, mas a transição para a agricultura não aconteceu de uma hora para outra: resíduos de trigo, cevada e bolota (o fruto do carvalho) selvagens também foram encontrados em Gilgal. "A estratégia de subsistência era mista, com a exploração de plantas selvagens e a domesticação dos figos", explica Bar-Yosef.
Assim, o cardápio também incluía cereais, castanhas e frutinhas silvestres, além de carne. "Esse tipo de economia, com o plantio de algumas espécies e a coleta de outras, foi praticado amplamente antes de se espalhar por todo o Oriente."
Para Scheel-Ybert, a tendência é que as datas da domesticação dos alimentos se revelem cada vez mais antigas graças a métodos modernos de pesquisa arqueológica. "Os restos de alimentos são pequenos demais e passam batidos na escavação tradicional", afirma. Hoje eles são submetidos à flotação (em que as partículas carbonizadas flutuam e são separadas para o estudo), e à análise dos chamados fitólitos, partículas conservadas de sílica e amido das plantas.
Leia mais
América do Sul tem milho há 4.000 anos
Especial
Leia o que já foi publicado sobre agricultura
Figo da Palestina redefine data inicial da agricultura
Publicidade
Colaboração para a Folha de S.Paulo
Arqueólogos israelenses descobriram que a figueira foi a primeira planta domesticada pelo homem, há 11,4 mil anos. O figo tira o posto do trigo e da cevada, domesticados há 10,5 mil anos na Turquia e na Síria e que até hoje eram considerados as espécies vegetais cultivadas há mais tempo. Ou seja, a agricultura surgiu pelo menos mil anos mais cedo.
Reprodução/ "Science" |
Figos achados na Cisjordânia |
Até então, pensava-se que o figo tinha sido domesticado há 6.500 anos, mas testes revelaram que as frutas eram quase 5.000 anos mais antigas.
Os figos encontrados são da espécie Ficus caricas (a mesma consumida hoje) e pertencem a uma variedade que se forma e amadurece sem polinização, com sementes estéreis. Em vez de cair da árvore, eles permanecem na figueira até ficarem mais doces e macios.
Seleção artificial
A um certo ponto, os humanos devem ter percebido que as sementes não produziam novas árvores e resolveram fazer o plantio de mudas. "A mente humana deu uma virada, pois o homem deixou de apenas explorar a terra para modificar o ambiente de acordo com suas necessidades", afirma o israelense Ofer Bar-Yosef, arqueólogo da Universidade Harvard (EUA), co-autor do estudo.
E como os fazendeiros do Neolítico fizeram isso? Experimentando. Eles elegiam as árvores com os melhores figos e plantavam suas mudas, até chegar a uma fruta mais gostosa. De acordo com o estudo, os habitantes de Gilgal 1 também levavam mudas de figueiras para fazer pomares em outros locais, tanto que drupéolas similares apareceram a 1,5 km dali.
"Outro fator muito importante é que os figos foram encontrados secos. Isso demonstra que já existiam técnicas de conservação para os alimentos, para que eles não tivessem que ser consumidos na hora e durassem mais", explica Rita Scheel-Ybert, antracóloga (especialista em carvão arqueológico) do Museu Nacional.
Com o cultivo do figo, o homem deixou para trás 2,5 milhões de anos de história como apenas caçador e coletor, mas a transição para a agricultura não aconteceu de uma hora para outra: resíduos de trigo, cevada e bolota (o fruto do carvalho) selvagens também foram encontrados em Gilgal. "A estratégia de subsistência era mista, com a exploração de plantas selvagens e a domesticação dos figos", explica Bar-Yosef.
Assim, o cardápio também incluía cereais, castanhas e frutinhas silvestres, além de carne. "Esse tipo de economia, com o plantio de algumas espécies e a coleta de outras, foi praticado amplamente antes de se espalhar por todo o Oriente."
Para Scheel-Ybert, a tendência é que as datas da domesticação dos alimentos se revelem cada vez mais antigas graças a métodos modernos de pesquisa arqueológica. "Os restos de alimentos são pequenos demais e passam batidos na escavação tradicional", afirma. Hoje eles são submetidos à flotação (em que as partículas carbonizadas flutuam e são separadas para o estudo), e à análise dos chamados fitólitos, partículas conservadas de sílica e amido das plantas.
Leia mais
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Gel contraceptivo masculino é aprovado em testes com macacos
- Sons irritantes de mastigação fazem parte do cérebro entrar em parafuso
- Continente perdido há milhões de anos é achado debaixo do Oceano Índico
- Por que é tão difícil definir o que é vida e o que são seres 'vivos'
- Conheça as histórias de mulheres de sucesso na Nasa
+ Comentadas
- Criatura em forma de saco e sem ânus poderia ser antepassado do homem
- Atritos entre governo estadual e Fapesp são antigos, dizem cientistas
+ EnviadasÍndice