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31/08/2006
-
09h09
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo
Nunca é tarde para ir ao dentista pela primeira vez. Que o digam os mamíferos de 60 milhões de anos da bacia de Itaboraí (RJ), cujo esmalte passou por um check-up completo nas mãos de um dentista e de uma paleontóloga. O diagnóstico: os bichos criaram um sistema eficiente para comer plantas, permitindo que eles começassem a ocupar o papel de grandes herbívoros, vago por causa da extinção dos dinossauros.
O exame dentário pós-fossilização foi conduzido pelo dentista Sérgio Peres Line, pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e pela paleontóloga Lílian Paglarelli Bergqvist, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Para Line, trabalhar com "pacientes" tão antigos não foi exatamente novidade. "Eu já tinha alguns trabalhos sobre o esmalte de dinossauros. Como a Lílian tem acesso ao material de Itaboraí, achei que seria uma oportunidade única para estudar um material tão importante", afirma.
Brasileiros importantes
A empolgação não é à toa. A fauna de Itaboraí é um retrato raro de como eram os mamíferos (relativamente) pouco tempo depois do fim da Era dos Dinossauros, que terminou há 66 milhões de anos. Fora os tatus (reconhecidos por pedaços do seu casco) e marsupiais parecidos com os atuais gambás, os mamíferos da época parecem quase alienígenas. O maior deles, o Carodnia vieirai, tinha o tamanho de uma anta e estranhas presas na boca.
Sem os dinos pela frente, os mamíferos tinham uma exuberante vegetação para explorar. Mas, a princípio, seus dentes não estavam aparelhados para a tarefa. Line e Bergqvist usaram um feixe de luz que evidenciava a estrutura do esmalte dos animais para elucidar o mistério. "É uma metodologia que permite a análise sem danificar os fósseis", explica Line.
A explicação, descobriram eles, está em pequenos prismas do esmalte, que juntos formam as chamadas bandas de Hunter-Schreger (HSB, na sigla inglesa). Elas lembram nervuras e ajudam a dar resistência ao dente. Acontece que, nas três espécies de Itaboraí que alcançaram tamanho considerável (entre elas o C. vieirai), elas se dispõem na vertical. "Isso torna o esmalte mais resistente à abrasão, aumentando a vida funcional dele", explica Line.
Para alcançar grandes tamanhos, esses bichos precisavam crescer mais devagar e ter dentes que agüentassem anos e anos mastigando planta. Foi graças a essa adaptação --que está presente nos rinocerontes modernos-- que eles puderam virar grandes herbívoros.
O trabalho foi publicado na revista científica "Journal of Vertebrate Paleontology".
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Nunca é tarde para ir ao dentista pela primeira vez. Que o digam os mamíferos de 60 milhões de anos da bacia de Itaboraí (RJ), cujo esmalte passou por um check-up completo nas mãos de um dentista e de uma paleontóloga. O diagnóstico: os bichos criaram um sistema eficiente para comer plantas, permitindo que eles começassem a ocupar o papel de grandes herbívoros, vago por causa da extinção dos dinossauros.
Folha Imagem |
O herbívoro tinha porte de uma anta |
Brasileiros importantes
A empolgação não é à toa. A fauna de Itaboraí é um retrato raro de como eram os mamíferos (relativamente) pouco tempo depois do fim da Era dos Dinossauros, que terminou há 66 milhões de anos. Fora os tatus (reconhecidos por pedaços do seu casco) e marsupiais parecidos com os atuais gambás, os mamíferos da época parecem quase alienígenas. O maior deles, o Carodnia vieirai, tinha o tamanho de uma anta e estranhas presas na boca.
Sem os dinos pela frente, os mamíferos tinham uma exuberante vegetação para explorar. Mas, a princípio, seus dentes não estavam aparelhados para a tarefa. Line e Bergqvist usaram um feixe de luz que evidenciava a estrutura do esmalte dos animais para elucidar o mistério. "É uma metodologia que permite a análise sem danificar os fósseis", explica Line.
A explicação, descobriram eles, está em pequenos prismas do esmalte, que juntos formam as chamadas bandas de Hunter-Schreger (HSB, na sigla inglesa). Elas lembram nervuras e ajudam a dar resistência ao dente. Acontece que, nas três espécies de Itaboraí que alcançaram tamanho considerável (entre elas o C. vieirai), elas se dispõem na vertical. "Isso torna o esmalte mais resistente à abrasão, aumentando a vida funcional dele", explica Line.
Para alcançar grandes tamanhos, esses bichos precisavam crescer mais devagar e ter dentes que agüentassem anos e anos mastigando planta. Foi graças a essa adaptação --que está presente nos rinocerontes modernos-- que eles puderam virar grandes herbívoros.
O trabalho foi publicado na revista científica "Journal of Vertebrate Paleontology".
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