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28/02/2007
-
10h50
HUMBERTO MEDINA
da Folha de S.Paulo, em Brasília
CLAUDIO ANGELO
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo
A elevação no nível dos mares decorrente do aquecimento global poderá potencialmente afetar, até o final deste século, até 42 milhões de pessoas que habitam cidades litorâneas no Brasil. Por conta do calor, casos de doenças como febre amarela, malária e dengue devem aumentar. A Amazônia pode esquentar até 8C, com vastas porções de floresta cedendo lugar a uma vegetação semelhante ao cerrado.
Essas são as projeções mais pessimistas dos estudos divulgados ontem pelo Ministério do Meio Ambiente sobre os impactos da mudança climática no país. Oito pesquisas mapearam os efeitos do aumento da temperatura, usando desde dados atualizados do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) até maquetes da baixada Santista para projetar o efeito da elevação do nível do mar.
A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) defendeu que o governo federal prepare um plano de ação para adaptar o país à nova realidade climática --irreversível, segundo o próprio governo, mas variável em sua intensidade.
"O processo que se avizinha é avassalador, é altamente preocupante", disse a ministra Marina Silva. "Defendo que o governo tenha um plano nacional, como foi feito para conter o desmatamento na Amazônia."
Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, João Paulo Capobianco, o MMA "já tem uma proposta" de um plano de ação contra as mudanças climáticas, que depende de negociação com outros ministérios. Ela poderá ser apresentada "em três ou quatro meses", afirmou.
Um plano contra a mudança climática incluiria tanto ações de adaptação (como mudar o zoneamento em cidades litorâneas para evitar o avanço do mar) quanto de mitigação. O Meio Ambiente vê a redução do desmatamento amazônico como principal ação de mitigação.
"O Brasil tem uma janela de oportunidade para enfrentar o problema. Tem uma matriz energética limpa e a maioria de suas emissões é por desmatamento, que é algo que governo e sociedade já estão combatendo", disse Capobianco à Folha.
O ministério, no entanto, fez ressalvas ao resultado dos estudos. Para o governo, as conclusões "devem ser vistas como indicadores, não como fatos consumados". Por isso, seria preciso fazer mais pesquisas e melhorar as metodologias usadas, que tiveram falhas e levaram a resultados divergentes.
Além disso, o governo acredita que é preciso levar em conta a possibilidade de as políticas ambientais melhorarem anulando as previsões.
Encomenda
Os estudos divulgados ontem foram feitos por universidades e entidades de pesquisa contratadas pelo ministério em 2004. O objetivo da contratação (R$ 1 milhão, com financiamento de várias entidades, como Banco Mundial), segundo o ministério, é preparar o governo para lidar com o efeito estufa.
O único estudo divulgado na íntegra no site do MMA (www.mma. gov.br) foi realizado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Ele considerou itens como chuvas, temperatura, vazão de rios e extremos climáticos. Com base nesses itens, foram montados dois cenários: um "absolutamente otimista" e outro "totalmente pessimista".
De acordo com o estudo, o aumento médio da temperatura no Brasil pode chegar a 4C acima da média verificada em 1961. A temperatura média do país chegara a 28,9C (cenário pessimista) ou 26,3C (cenário otimista) em 2100.
A redução da quantidade de chuvas afetaria principalmente a região leste da Amazônia. Para o Sudeste e no Centro-Oeste, a pesquisa apontou também a possibilidade de aumento de "extremos do clima", como ondas de calor e chuvas intensas.
No estudo, o climatologista José Marengo usou um modelo climático regional recém-desenvolvido pelo Inpe. O modelo é um programa de computador que simula condições futuras após ser alimentado com dados como temperatura e concentração de gases-estufa.
O novo modelo "enxerga" a região com mais detalhe (dividindo-a em células de até 40 km) que os modelos usados pelo IPCC, chamados GCMs ou modelos de circulação global (com células de 200 km).
Como o clima é global, o modelo regional precisou ser unido a GCMs. E aqui entrou uma segunda inovação no estudo: juntar o modelo do Inpe aos cinco principais modelos usados pelo IPCC, o que aumenta a confiabilidade dos resultados.
Segundo Marengo, o que elevará a média das temperatura na Amazônia não é o aumento nos extremos, mas sim uma rotina quente. "As temperaturas de 40C ocorrem agora com pouca freqüência, mas no futuro podem ocorrer mais", diz.
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
CLAUDIO ANGELO
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo
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Essas são as projeções mais pessimistas dos estudos divulgados ontem pelo Ministério do Meio Ambiente sobre os impactos da mudança climática no país. Oito pesquisas mapearam os efeitos do aumento da temperatura, usando desde dados atualizados do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) até maquetes da baixada Santista para projetar o efeito da elevação do nível do mar.
A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) defendeu que o governo federal prepare um plano de ação para adaptar o país à nova realidade climática --irreversível, segundo o próprio governo, mas variável em sua intensidade.
"O processo que se avizinha é avassalador, é altamente preocupante", disse a ministra Marina Silva. "Defendo que o governo tenha um plano nacional, como foi feito para conter o desmatamento na Amazônia."
Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, João Paulo Capobianco, o MMA "já tem uma proposta" de um plano de ação contra as mudanças climáticas, que depende de negociação com outros ministérios. Ela poderá ser apresentada "em três ou quatro meses", afirmou.
Um plano contra a mudança climática incluiria tanto ações de adaptação (como mudar o zoneamento em cidades litorâneas para evitar o avanço do mar) quanto de mitigação. O Meio Ambiente vê a redução do desmatamento amazônico como principal ação de mitigação.
"O Brasil tem uma janela de oportunidade para enfrentar o problema. Tem uma matriz energética limpa e a maioria de suas emissões é por desmatamento, que é algo que governo e sociedade já estão combatendo", disse Capobianco à Folha.
O ministério, no entanto, fez ressalvas ao resultado dos estudos. Para o governo, as conclusões "devem ser vistas como indicadores, não como fatos consumados". Por isso, seria preciso fazer mais pesquisas e melhorar as metodologias usadas, que tiveram falhas e levaram a resultados divergentes.
Além disso, o governo acredita que é preciso levar em conta a possibilidade de as políticas ambientais melhorarem anulando as previsões.
Encomenda
Os estudos divulgados ontem foram feitos por universidades e entidades de pesquisa contratadas pelo ministério em 2004. O objetivo da contratação (R$ 1 milhão, com financiamento de várias entidades, como Banco Mundial), segundo o ministério, é preparar o governo para lidar com o efeito estufa.
O único estudo divulgado na íntegra no site do MMA (www.mma. gov.br) foi realizado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Ele considerou itens como chuvas, temperatura, vazão de rios e extremos climáticos. Com base nesses itens, foram montados dois cenários: um "absolutamente otimista" e outro "totalmente pessimista".
De acordo com o estudo, o aumento médio da temperatura no Brasil pode chegar a 4C acima da média verificada em 1961. A temperatura média do país chegara a 28,9C (cenário pessimista) ou 26,3C (cenário otimista) em 2100.
A redução da quantidade de chuvas afetaria principalmente a região leste da Amazônia. Para o Sudeste e no Centro-Oeste, a pesquisa apontou também a possibilidade de aumento de "extremos do clima", como ondas de calor e chuvas intensas.
No estudo, o climatologista José Marengo usou um modelo climático regional recém-desenvolvido pelo Inpe. O modelo é um programa de computador que simula condições futuras após ser alimentado com dados como temperatura e concentração de gases-estufa.
O novo modelo "enxerga" a região com mais detalhe (dividindo-a em células de até 40 km) que os modelos usados pelo IPCC, chamados GCMs ou modelos de circulação global (com células de 200 km).
Como o clima é global, o modelo regional precisou ser unido a GCMs. E aqui entrou uma segunda inovação no estudo: juntar o modelo do Inpe aos cinco principais modelos usados pelo IPCC, o que aumenta a confiabilidade dos resultados.
Segundo Marengo, o que elevará a média das temperatura na Amazônia não é o aumento nos extremos, mas sim uma rotina quente. "As temperaturas de 40C ocorrem agora com pouca freqüência, mas no futuro podem ocorrer mais", diz.
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