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06/02/2001 - 16h29

Cientistas descobrem novo tipo de camelo que bebe água salgada

France Presse

da France Presse
em Nairóbi (Quênia)

Aos pés do Tibete, no nordeste da China, especialistas acreditam ter descoberto uma nova espécie de camelo que vem despertando muito interesse -porque ele pode sobreviver em meio hostil- mas, também, preocupações -porque está mais ameaçado que o panda gigante.

O anúncio foi feito hoje por dirigentes do PNUE (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), que aguardam os resultados dos testes genéticos em curso.

Este camelo é dotado da particularidade de poder sobreviver bebendo apenas água salgada que aparece nas dunas de areia dos desertos onde vivem.

"Os cientistas que realizam os testes genéticos puseram à luz uma diferença genética de 3% entre o camelo doméstico e este camelo selvagem de duas corcovas", afirmou John Hare, o chefe da missão sino-britânica que descobriu o animal, citado em comunicado do PNUE, que financiou as pesquisas.

Se existir pelo menos 3% de diferença, trata-se de uma espécie distinta. A diferença genética entre o homem e o chimpanzé é de 5%, lembra o PNUE, com sede em Nairóbi.

"Os especialistas estimam que a população total desses camelos na Ásia é de pelo menos 1.000 cabeças, o que torna a espécie com risco maior de desaparecer que a do panda gigante", segundo o comunicado do PNUE.

O animal se distingue de seu "primo" doméstico da mesma região pela maior distância entre as duas corcovas e pelos joelhos cobertos de pelo, explicou à imprensa Robert Hepworth, um especialista em biodiversidade do PNUE.

O animal foi sempre conhecido pela população que vive perto do local onde a equipe sino-britânica o observou, no meio do deserto hostil de Kum Tagh, na província de Xinjiang, uma região inóspita, de acesso proibido de 1955 a 1996 quando foi reservada a testes nucleares.

Segundo Hepworth, estes animais foram sempre considerados pelos habitantes como uma variação selvagem do camelo. Foi preciso uma primeira bateria de testes de DNA para se falar em uma nova espécie.

A equipe se interessou por este camelo principalmente pelo fato de o animal conseguir sobreviver bebendo apenas água salgada.

"Estes camelos podem resistir a um enorme estresse fisiológico", afirma Kate Rae, da equipe, citada também pelo PNUE. "Os cientistas estão extremamente ávidos de descobrir como seu fígado, seus rins e seus pulmões podem resistir ao sal", diz ela.

Enquanto esperam saber mais, os técnicos e dirigentes do PNUE estão muito preocupados com o destino dos cerca de 600 animais de Xinjiang e os outros 300 que vivem no deserto de Góbi.

A zona de Kum Tagh, reaberta pela China em 1996 no fim dos testes nucleares, vem sendo invadida desde então por exploradores de ouro e de ferro e caçadores que os tomam como alvo.

Apenas 15 desses camelos estão atualmente cativos na China. "Se a espécie se extinguir, não teremos, entre a população cativa, a quantidade e a diversidade genética necessárias para um programa de reprodução", preocupa-se John Hare.

Ele cita como exemplo o cavalo PrjewalkoÍ da Mongólia, que desapareceu em 1969, mas que os 500 animais existentes em parques zoológicos permitiram reconstituir a espécie atualmente reintroduzida na Mongólia.

Os cientistas, segundo o PNUE, pensam que é possível cruzar este camelo selvagem com o doméstico para melhorar o patrimônio genético deste último, dotando-o com a faculdade de sobreviver num meio onde existe apenas água salgada.
 

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