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11/02/2001 - 11h47

Paulo Vanzolini ajudou a elaborar teoria contestada

MARCELO LEITE
Editor de ciência da Folha

A teoria dos refúgios como explicação para a diversidade biológica da Amazônia tem uma longa história no Brasil, e não só porque a maior parte dessa floresta fica no país. A teoria, como a própria exuberância florestal que ela tenta explicar, também se originou por aqui, pelas mãos de um lendário zoólogo e compositor idem: Paulo Vanzolini. Na realidade, não só por aqui.

A idéia dos refúgios, como já aconteceu mais de uma vez na história da ciência, ocorreu de forma independente a cientistas separados por milhares de quilômetros. Vanzolini chegou a ela em colaboração com o geógrafo brasileiro Aziz Ab'Sáber e com o herpetólogo norte-americano Ernest Williams, como Vanzolini um especialista em répteis -"cobras e lagartos", como diz.

Quando ainda trabalhava na formulação da teoria, em 1969, o zoólogo paulista recebeu da revista científica norte-americana "Science" -para dar seu parecer técnico- um trabalho do alemão Jürgen Haffer. Trabalhando com a distribuição territorial de espécies de pássaros tropicais, ele havia alcançado uma conclusão similar: com a penetração de manchas de vegetação mais rala na Amazônia em períodos secos, as espécies isoladas nos refúgios mais úmidos e florestados teriam percorrido caminhos evolutivos divergentes, desdobrando-se em muitas novas espécies.

Segundo relato de Renata Ramalho, da revista "Ciência Hoje", Vanzolini enviou então seus materiais para a "Science" com um pedido de que seu parecer não fosse mantido em sigilo, como de praxe. Ao tomar conhecimento da coincidência, Haffer teria vindo ao Brasil para iniciar uma colaboração. "Somos grandes amigos", disse Vanzolini à "Ciência Hoje".

Sensacionalista

Quanto a Paul Colinvaux, o mais conhecido crítico da teoria dos refúgios, Vanzolini nem quer saber. Recusa-se a falar sobre o trabalho do canadense, alegando que ele está atrás somente de notoriedade. Restrição semelhante a Colinvaux é levantada pela botânica Maria Lúcia Absy, uma especialista em pólen do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). "Colinvaux sempre quer causar sensacionalismo. Ele (até) pula quando dá palestras", diz Absy.

A pesquisadora do Inpa diz que os argumentos de Colinvaux vêm sendo refutados pela maioria de defensores da teoria dos refúgios, como o holandês Thomas van der Hammen (com quem ela estudou no doutorado e no pós-doutorado). Cita um artigo recente dele e de Henry Hooghiemstra na publicação especializada "Quaternary Science Reviews" (de 2000). Um dos principais argumentos do texto é que os refúgios continuam a existir na floresta, hoje, na forma de regiões mais úmidas com alta incidência de espécies, em contraste com outras menos úmidas -mas ainda florestadas-, nas quais o número de espécies é significativamente menor.
 

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