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25/11/2001
-
15h12
da Folha Online
A empresa norte-americana Advanced Cell Technology conseguiu desenvolver uma tecnologia para clonar embriões humanos. A empresa fez o anúncio sob protestos do Congresso do EUA e surpresa da opinião pública.
Repetindo a mesma base do processo utilizado para clonar a ovelha Dolly, em 1996, cientistas da ACT, trabalhando secretamente num laboratório no Estado de Massachusetts durante um ano, substituíram com sucesso o DNA (molécula onde está codificada a receita para construir um indivíduo) de um óvulo humano pelo DNA do núcleo de uma célula adulta de pele humana.
Segunda a companhia o objetivo não é criar um ser humano clonado, mas obter células-tronco, capazes de se transformar em qualquer tecido humano, para tratar doenças e fazer transplantes.
Com o método, podem ser criadas células para substituição de tecidos do coração, de neurônios e de células do sangue.
Por essa razão, os embriões clonados podem, em tese, fornecer material para regenerar tecidos com problemas em órgãos como o fígado, o pâncreas ou a medula óssea, sem problemas de rejeição _afinal, eles têm exatamente a mesma sequência de DNA do paciente.
Segundo a companhia, já existem diversos tipos de células-tronco disponíveis para transplantes, mas elas podem ser rejeitadas pelos pacientes como corpo estranho. Com a clonagem isso não ocorreria.
"Cientificamente, biologicamente, as entidades que estamos criando não são indivíduos. Elas são apenas vida celular, não são vida humana", disse Michael West, presidente e executivo-chefe da companhia.
"O que esperamos é entrar numa nova era, que chamamos de medicina regenerativa, onde podemos usar tecnologias de clonagem não para copiar seres humanos, mas para trazer as células ao estágio embrionário e, pela primeira vez, substituir células doentes", afirmou.
O estudo preliminar dá conta de duas maneiras de produzir esse tipo de célula. O primeiro é chamado "partenogênese". Pela técnica, um óvulo da paciente é ativado sem a fecundação de um espermatozóide. É formado então um embrião, e as células-tronco são produzidas de acordo com o tecido necessário para o transplante.
A outra técnica é chamada transferência nuclear em células somáticas, o que é a própria clonagem. Um óvulo humano então é preparado com a remoção de seu DNA (código genético) e com a implantação do DNA do paciente. Segue-se a ativação da célula e o desenvolvimento do embrião.
Protestos
Apesar das garantias da companhia, seus cientistas deram exatamente os primeiros passos usados para clonar um ser humano. Por essa razão, o anúncio provocou protestos imediatos no Congresso norte-americano.
Os congressistas não esperavam que a iniciativa fosse partir de dentro do país. As expectativas, até agora, se concentravam no italiano Severino Antinori e no cipriota radicado nos EUA Panos Zavos, que anunciaram para o ano que vem a produção do primeiro clone humano _ com finalidade reprodutiva_, em algum país do Mediterrâneo.
A legislação americana proíbe apenas o uso de dinheiro dos contribuintes na clonagem de seres humanos. Em julho, a Câmara dos Representantes aprovou um projeto que barraria experiências do tipo.
"Francamente, o anúncio é desconcertante", declarou o líder da maioria democrata no Senado, Tom Daschle. "Isso está indo na direção errada."
Antevendo protestos, a companhia adotou desde o início dos experimentos, há um ano, uma estratégia para salientar seus objetivos terapêuticos.
A célula de pele humana usada no experimento pertence ao cientista Judson Somerville, de 40 anos, que ficou paralítico depois de um acidente de bicicleta. Segundo a empresa, a paralisia pode em tese ser curada com tratamentos médicos derivados da clonagem de embriões humanos.
Além da estratégica escolha de uma célula de Somerville, uma repórter da revista "U.S. News & World Report" foi autorizada a acompanhar toda a experiência, que durou mais de um ano, e a publicar sua reportagem hoje, simultaneamente ao anúncio feito pela companhia.
Mas a controvérsia está implícita nas entrelinhas das próprias declarações de representantes da empresa. "Nossos resultados preliminares somam-se a outras evidências de que a reprogramação de uma célula humana é possível", disse José Cibelli, um cientista argentino que ocupa o cargo de vice-presidente de pesquisas da ACT.
"São resultados ainda preliminares, mas, dada a importância de seu uso no campo da medicina regenerativa, decidimos publicá-los agora", afirmou.
A equipe da ACT, liderada por Cibelli e pelo americano Robert Lanza, publicou uma descrição do experimento na revista científica "The Journal of Regenerative Medicine"
(www.liebertpub.com/ebi/default1.asp).
Um artigo escrito pelos cientistas sobre o experimento também foi publicado na página da revista "Scientific American" na internet (www.scientificamerican.com).
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da Folha de S.Paulo, em Washingtonda Folha Online
A empresa norte-americana Advanced Cell Technology conseguiu desenvolver uma tecnologia para clonar embriões humanos. A empresa fez o anúncio sob protestos do Congresso do EUA e surpresa da opinião pública.
Repetindo a mesma base do processo utilizado para clonar a ovelha Dolly, em 1996, cientistas da ACT, trabalhando secretamente num laboratório no Estado de Massachusetts durante um ano, substituíram com sucesso o DNA (molécula onde está codificada a receita para construir um indivíduo) de um óvulo humano pelo DNA do núcleo de uma célula adulta de pele humana.
Segunda a companhia o objetivo não é criar um ser humano clonado, mas obter células-tronco, capazes de se transformar em qualquer tecido humano, para tratar doenças e fazer transplantes.
Com o método, podem ser criadas células para substituição de tecidos do coração, de neurônios e de células do sangue.
Por essa razão, os embriões clonados podem, em tese, fornecer material para regenerar tecidos com problemas em órgãos como o fígado, o pâncreas ou a medula óssea, sem problemas de rejeição _afinal, eles têm exatamente a mesma sequência de DNA do paciente.
Segundo a companhia, já existem diversos tipos de células-tronco disponíveis para transplantes, mas elas podem ser rejeitadas pelos pacientes como corpo estranho. Com a clonagem isso não ocorreria.
"Cientificamente, biologicamente, as entidades que estamos criando não são indivíduos. Elas são apenas vida celular, não são vida humana", disse Michael West, presidente e executivo-chefe da companhia.
"O que esperamos é entrar numa nova era, que chamamos de medicina regenerativa, onde podemos usar tecnologias de clonagem não para copiar seres humanos, mas para trazer as células ao estágio embrionário e, pela primeira vez, substituir células doentes", afirmou.
O estudo preliminar dá conta de duas maneiras de produzir esse tipo de célula. O primeiro é chamado "partenogênese". Pela técnica, um óvulo da paciente é ativado sem a fecundação de um espermatozóide. É formado então um embrião, e as células-tronco são produzidas de acordo com o tecido necessário para o transplante.
A outra técnica é chamada transferência nuclear em células somáticas, o que é a própria clonagem. Um óvulo humano então é preparado com a remoção de seu DNA (código genético) e com a implantação do DNA do paciente. Segue-se a ativação da célula e o desenvolvimento do embrião.
Protestos
Apesar das garantias da companhia, seus cientistas deram exatamente os primeiros passos usados para clonar um ser humano. Por essa razão, o anúncio provocou protestos imediatos no Congresso norte-americano.
Os congressistas não esperavam que a iniciativa fosse partir de dentro do país. As expectativas, até agora, se concentravam no italiano Severino Antinori e no cipriota radicado nos EUA Panos Zavos, que anunciaram para o ano que vem a produção do primeiro clone humano _ com finalidade reprodutiva_, em algum país do Mediterrâneo.
A legislação americana proíbe apenas o uso de dinheiro dos contribuintes na clonagem de seres humanos. Em julho, a Câmara dos Representantes aprovou um projeto que barraria experiências do tipo.
"Francamente, o anúncio é desconcertante", declarou o líder da maioria democrata no Senado, Tom Daschle. "Isso está indo na direção errada."
Antevendo protestos, a companhia adotou desde o início dos experimentos, há um ano, uma estratégia para salientar seus objetivos terapêuticos.
A célula de pele humana usada no experimento pertence ao cientista Judson Somerville, de 40 anos, que ficou paralítico depois de um acidente de bicicleta. Segundo a empresa, a paralisia pode em tese ser curada com tratamentos médicos derivados da clonagem de embriões humanos.
Além da estratégica escolha de uma célula de Somerville, uma repórter da revista "U.S. News & World Report" foi autorizada a acompanhar toda a experiência, que durou mais de um ano, e a publicar sua reportagem hoje, simultaneamente ao anúncio feito pela companhia.
Mas a controvérsia está implícita nas entrelinhas das próprias declarações de representantes da empresa. "Nossos resultados preliminares somam-se a outras evidências de que a reprogramação de uma célula humana é possível", disse José Cibelli, um cientista argentino que ocupa o cargo de vice-presidente de pesquisas da ACT.
"São resultados ainda preliminares, mas, dada a importância de seu uso no campo da medicina regenerativa, decidimos publicá-los agora", afirmou.
A equipe da ACT, liderada por Cibelli e pelo americano Robert Lanza, publicou uma descrição do experimento na revista científica "The Journal of Regenerative Medicine"
(www.liebertpub.com/ebi/default1.asp).
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