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11/04/2002 - 16h45

Diferença entre homem e chimpanzé está em proteínas, não em genes

da Efe, em Berlim

As diferenças entre os homens e seus parentes mais próximos na escala evolutiva - os chimpanzés - não são determinadas pelos genes, que são compartilhados em 98,7%, mas sim pelas proteínas, segundo um estudo coordenado por Svante Paeaebo, do Instituto de Antropologia Evolutiva de Leipzig (Alemanha).

Acompanhado por alguns colegas desse instituto, órgão de prestígio da Sociedade Max Planck, Paeaebo apresentou ontem em Berlim os resultados de seu trabalho, que será publicado pela revista norte-americana "Science".

Na opinião dos autores, o estudo é também um grande passo para entender a predisposição do homem de contrair e desenvolver doenças como Aids, malária e mal de Alzheimer.

Paeaebo explicou que os genes são responsáveis pelo desenvolvimento das proteínas, que determinam quase todas as funções do corpo. Em seu estudo comparou as proteínas humanas com as dos chimpanzés, orangotangos e ratos.

No cérebro humano, boa parte dos genes das células se transforma em proteínas, o que faz com que a herança genética nos homens seja mais ativa que nos primatas, informou Paeaeb, um dos fundadores da chamada "paleogenética" que demonstrou que o ser humano não provém do homem de Neanderthal.

Nesse estudo, foram identificados, pela primeira vez, as modificações genéticas que levaram homem e chimpanzé a se diferenciarem nos últimos 5 milhões de anos. Essas mutações foram muito mais freqüentes e maiores no ser humano.

"Há milhares de cientistas estudando o homem em muitos aspectos: psicologia, antropologia e em muitas outras disciplinas, mas não há quase ninguém investigando nossos parentes mais próximos, sobre quem sabemos muito pouco", explicou Paeaebo.

No estudo, os cientistas compararam cópias da informação genética de células do fígado, do sangue e do cérebro humano e dos chimpanzés com um total de 12.000 de genes conhecidos.

Com esse experimento, os investigadores constataram que só as células cerebrais humanas desenvolvem uma quantidade de proteínas consideravelmente maior que a dos macacos.

Wolfgang Enard, um de seus colegas no centro de pesquisa de Leipzig, disse que o trabalho é "um primeiro olhar sobre a expressão genética" de ambas as espécies, além de ser a "primeira pesquisa sistemática para encontrar diferenças relevantes" entre o homem e o macaco.

O cientista explicou que as diferenças encontradas, que não podem ser observadas no fígado ou nos leucócitos, "são a prova de que a expressão genética do cérebro humano muda de uma maneira muito mais forte que a do chimpanzé".

Para Enard, "ainda é muito cedo" para precisar o momento exato, nos milhões de anos da história da evolução, em que as células do cérebro humano começaram a "fabricar" mais proteínas que as do chimpanzé, e, ainda mais, para saber como essa mudança aconteceu.

Para comprovar que o surgimento dessa diferença não foi só uma casualidade, cientistas do Instituto de Genética Humana da Universidade de Humboldt em Berlim fizeram a mesma experiência de Paeaebo, mas com duas espécies de ratos que se diferenciam tanto quando o homem do chimpanzé.

Os dois roedores não apresentaram diferenças tão grandes, o que levou os investigadores a concluir que a diversidade que existe na fabricação de proteínas entre o ser humano e tais primatas é uma particularidade da evolução.

Assim, caso consigam identificar as diferenças genéticas funcionais entre ambas as espécies será possível avançar no estudo não só das doenças citadas, mas também do câncer de mama, pulmão e de cólon, muito raras nos chimpanzés.
 

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