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11/07/2002 - 08h59

Andes revelam incêndio amazônico

CLAUDIO ANGELO
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Manaus

A chave para entender as queimadas da Amazônia no passado pode estar num local no mínimo inusitado: a fria cordilheira dos Andes. Estudando a composição do gelo numa montanha da Bolívia, um pesquisador brasileiro conseguiu detectar traços de partículas que provavelmente foram produzidas pelo fogo na floresta, a mais de mil quilômetros dali.

A montanha em questão é o nevado Illimani (6.350 metros), na região central da cordilheira, perto da cidade de La Paz.

Após passar um ano e meio analisando uma coluna de 50 metros de gelo retirada do Illimani, o físico Alexandre Correia, da USP, descobriu que alguns aerossóis presentes ali foram depositados por nuvens de fumaça proveniente de queimadas. E mais: a partir dos anos 70, período em que o desmatamento se intensificou na região amazônica, a concentração desses aerossóis aumentou.

O gelo andino pode ser uma boa ferramenta para a compreensão das queimadas, porque os dados brasileiros só existem em série a partir do fim dos anos 80. Correia obteve no testemunho de gelo um registro que vai de 1919 até 1999.

Claro, não sem sofrimento. "Eu precisei cortar a coluna de 50 metros em fatias de seis centímetros. No total, analisei 744 amostras, tudo isso num laboratório a -15ºC", afirmou.

O trabalho gelado de Correia, feito durante seu doutorado e apresentado durante a 2ª Conferência Científica do LBA (Experimento em Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), encerrada ontem em Manaus, teve como objetivo mostrar o transporte de nutrientes da floresta para os Andes e o progressivo empobrecimento dos solos amazônicos por conta das queimadas.

Fumaça virou neve
Quando a floresta queima, os aerossóis que ela produz são dispersados pela fumaça rumo ao oceano Pacífico. Assim como cada hectare da Amazônia recebe até 50 quilos de partículas do deserto do Saara por ano, elementos como potássio, cálcio e fósforo —gerados pelas queimadas— vão se depositar em forma de neve nas montanhas bolivianas.

Com a ajuda de um aparelho chamado espectrômetro de massa, Correia analisou a assinatura química de 35 aerossóis no testemunho de gelo. Alguns desses elementos, como o alumínio, estão presentes em altas concentrações no solo dos Andes. Como a razão entre o alumínio e os outros elementos é conhecida, foi possível isolar, no estudo, o que era produto local do que vinha de fora.
 

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