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25/05/2003 - 04h03

Primeira escalada do Everest faz 50 anos

CLAUDIO ANGELO
Editor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo

Na manhã de 29 de maio de 1953, um criador da abelhas neozelandês e um camponês "sherpa" entraram para a galeria de heróis do século 20. Nesse dia, Edmund Hillary e Tenzing Norgay se tornaram os primeiros homens a alcançar o cume do monte Everest, entre o Nepal e o Tibete. Um colosso de gelo e rocha a 8.850 metros acima do nível do mar. A montanha mais alta do mundo.

"Pronto, George, derrotamos o filho da mãe", disse Hillary a seu colega de expedição George Lowe, resumindo o feito histórico.

A conquista do último extremo do planeta -dez expedições anteriores haviam fracassado- encerrou a era das grandes explorações, devolveu os ares de império a um Reino Unido destruído pela 2ª Guerra Mundial e pavimentou o caminho para que, décadas mais tarde, o Everest virasse uma espécie de praia para montanhistas ricos e expedições comerciais, cujos membros nem sempre são as pessoas mais habilitadas.

"Lá, pagou, entrou", diz o alpinista paranaense Waldemar Niclevicz, 37, que juntamente com o carioca Mozart Catão (morto no monte Aconcágua em 1998) foi o primeiro brasileiro a repetir a façanha de Hillary, em 1995.

Chegar ao Everest custa caro, em mais de um sentido. Expedições comerciais cobram até US$ 65 mil partindo do Nepal, o lado mais usado pelos alpinistas. Pelo lado tibetano, paga-se US$ 16 mil, com a desvantagem de se precisar enfrentar a burocracia chinesa.

Quem consegue pagar o dinheiro precisa enfrentar o outro custo da montanha: o de sobreviver a quedas nas fendas da geleira de Khumbu, na via sul do cume, e na "zona da morte", acima dos 8.000 metros, onde o ar só tem 30% do oxigênio que há ao nível do mar.

Mais de 1.200 escaladores já chegaram ao topo de Chomolungma, ou "deusa mãe do mundo", como a montanha é chamada pelos nativos. Morreram 175 pessoas -15 só em 1996.

Hillary, 83, voltou ao Nepal na semana passada para comemorar os 50 anos da conquista juntamente com outros pioneiros do Everest: a japonesa Junko Tabei, primeira mulher a atingir o cume, e o italiano Reinhold Messner, primeiro a escalar a montanha sozinho e sem oxigênio.

O "sherpa" Tenzing (os "sherpas" são um povo formado por várias etnias, que habita a região entre Nepal, Índia e Tibete e que costumam servir de carregadores e guias no Himalaia) morreu em 1986.

O neozelandês, que teve o título de "sir" adicionado a seu nome, sempre rejeitou a fama de herói. Não se preocupou nem em tirar uma foto sua no cume: quem aparece brandindo o piolet (picareta de gelo) na famosa imagem é Tenzing. Até hoje vive em Auckland e é do tipo de celebridade que mantém o nome na lista telefônica.

"A verdade é que sou apenas um neozelandês rústico", escreveu na última edição da revista "National Geographic".

Desforra do império

Não foi isso o que o mundo achou depois que a notícia da conquista chegou ao Reino Unido. A escalada coincidira com a coroação da rainha Elisabeth, no dia 2 de junho. Num império decadente, à caça de heróis -que já havia perdido a primazia no pólo Sul para a Noruega, em 1911-, Hillary estava no papel perfeito.

Mas o neozelandês só havia se juntado por esporte à expedição britânica, comandada por John Hunt. Hillary já estivera na cordilheira do Himalaia em 1950 com Lowe. Seu vigor e sua experiência nas montanhas mais elevada do planeta decidiram a convocação.

"O desafio era o principal motivo. Eu estava o tempo todo atrás de desafios", declarou.

A expedição de 1953 seria a desforra do Reino Unido após o fracasso da célebre expedição de George Mallory e Andrew Irvine, que morreram no Everest em 1924. Partindo do acampamento-base em 13 de abril, o grupo de Hunt levou 46 dias subindo e descendo até montar o acampamento 9, a 8.500 metros.

Ali, Hillary e Tenzing deixaram Lowe na manhã de 29 de maio, para o ataque final ao cume, atingido às 11h30, após enfrentarem um paredão de gelo à beira de um abismo -o "escalão de Hillary".

Depois do Everest, sir Edmund ainda ajudaria a redimir outro herói britânico fracassado: sir Ernest Shackleton. Em 1957, com Vivian Fuchs, tornou-se o primeiro homem a atravessar a Antártida.

Hoje, ele se dedica a conseguir dinheiro para os "sherpas" do Nepal, por meio de uma fundação.
 

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