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João Maia começou militância no PT
14/05/97
Editoria: BRASIL
Página: 1-9
da Sucursal de Brasília
O
deputado João Maia, 56, começou sua vida política no PT. No início
dos anos 80, foi processado pelo regime militar com base na extinta
Lei de Segurança Nacional por ter participado de protestos no Acre.
Nesse processo, era indiciado junto com Luiz Inácio Lula da Silva.
''Toda vez que o Lula me encontra ele me dá um abraço. Eu sei que
ele tem o maior respeito'', disse João Maia em entrevista à Folha
na sexta-feira, quando ainda não sabia que suas conversas relatando
o episódio da reeleição tinham sido gravadas. (FR)
Folha - O sr. foi eleito pelo PFL?
João Maia - Eu fui eleito pelo PP, que depois se coligou
com o PPR para formar o PPB. Foi nessa oportunidade que eu fui para
o PFL num grupo de apoio ao governo do Estado.
Folha - Mas o governo do Estado não está com o PFL.
Maia - O governador mesmo está sem partido. Mas ele andou
declarando que deve ir para o PFL.
Folha - O sr. começou sua carreira política no
PT, no Acre?
Maia - No PT, em 1980. De 80 a 82 eu era o delegado da Contag
e a gente ajudou a fundar o PT lá no Acre. Eu estive com o Lula
em São Bernardo. Fui o professor do Chico Mendes em sindicalismo.
Folha - Por que abandonou o PT?
Maia - Tinha um grupo do PT lá no Acre, um pessoal da
Convergência Socialista, o outro não sei o quê operário, pessoalzinho
meio radical, sabe? Eles acabaram me aceitando inicialmente. Depois,
eu notei que eles começaram a ter uma certa divergência. Então eu
resolvi sair depois da campanha, quando fui candidato a deputado
federal pelo PT. E o Chico Mendes foi candidato a estadual.
Folha - O sr. não foi eleito em 82?
Maia - Fui bem votado, mas não atingi o coeficiente
eleitoral. Teria sido eleito por outro partido.
Folha - O sr. saiu do PT e foi para qual partido?
Maia - Para o PMDB.
Folha - E ficou lá até quando?
Maia - Quando o Collor ganhou, o pessoal do Quércia queria
fazer oposição. Estava na fase de chegar o asfaltamento da BR-364
até Rio Branco. E essa chegada ou não do asfalto dependia do apoiamento.
Então, conversei com o senador Nabor Júnior e disse o seguinte:
'Vou apoiar o Acre'. Tanto assim que o asfalto, até Rio Branco,
pela primeira vez ligando o Acre ao Brasil chegou com o PDS, sei
lá. Sei que não foi com o PMDB.
Folha - Quando deixou o PMDB?
Maia - Eu fui eleito em 86 como primeiro suplente do PMDB e
acabei assumindo um ano e pouco. Em 90, eu fui eleito efetivo pelo
PMDB. Em 91 é que houve aquela divergência com a cúpula. E eu fui
para o PP. Mas em 92 eu votei contra o Collor no impeachment.
Folha - O sr. vai ficar no PFL para a eleição
do ano que vem?
Maia - Em princípio, sim.
Folha - A sua disposição no ano que vem seria disputar
novamente uma cadeira na Câmara?
Maia - Sim, em princípio seria.
Folha - O sr. é de Santa Branca, em São Paulo?
Maia - Eu morei em Piracaia, perto de Atibaia alguns
tempos. Depois fui fazer o seminário em Sorocaba. Depois fiz seminário
no Canadá. Terminei o meu curso de filosofia no seminário. Fiz o
primeiro ano de teologia em Washington, pro seminário. Daí que eu
saí e fui trabalhar no Nordeste. Lá, conheci o Zé Gomes, o finado
José Gomes. Depois, através dele, eu fui fazer economia rural lá
em Piracicaba, lá na Luiz de Queirós. E com orientação do Zé Gomes,
ele é tio desse que saiu aí do governo... o Graziano.
Folha - O Francisco Graziano?
Maia - Exato. Foi através dele que conheci o Zé Francisco,
que foi presidente da Contag. E o meu primeiro emprego, de carteira
assinada, foi na Contag em 68.
Folha - Como economista?
Maia - Não. Eu era assessor de reforma agrária. Comecei
a andar pelo Brasil, fundando sindicatos, delegacia da Contag no
Maranhão, no Amazonas, no Mato Grosso, no Acre e em Rondônia.
Folha - E foi quando para o Acre?
Maia - Em 75. Eu fui para o Acre para passar uns tempos,
fundar sindicatos. Mas acabei ficando até hoje. Casei com uma acreana
e tenho dois meninos acreanos. Eu fui lá para fundar a delegacia
da Contag, como fundei. Passei dez anos como delegado da Contag.
Esse movimento ecológico que depois veio -o Chico Mendes e a senadora
Marina- foi a reação dos seringueiros. Nasceu da defesa do local
do trabalho. Nessa luta mataram um presidente de sindicato e o Lula
foi lá. Fomos processados com base na Lei de Segurança Nacional.
Lula, Zé Francisco (Contag), Jacó Bittar (ex-prefeito de Campinas)
Chico Mendes e eu. Fomos absolvidos por 5 a 0.
Folha - Quando foi o processo?
Maia - De 80 a 84. Em abril de 84, salvo engano, o Tribunal
Militar de Manaus nos absolveu.
Folha - Como anda o seu relacionamento com o PT, com o
Lula?
Maia - Toda vez que o Lula me encontra me dá um abraço. Eu sei
que ele tem o maior respeito. Mesmo com a Marina me dou bem. Pelo
menos o pessoal me respeita. Porque, na realidade, eu mudei de sigla,
mas meu estilo de trabalho continua o mesmo.
Folha - Pensa em voltar ao PT?
Maia - Acho meio difícil, mas não descarto a possibilidade.
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